segunda-feira, 29 de outubro de 2012

O fim ao meio

Despir-se é despedir-se dos disfarces,
é mostrar a face
dos receios

É pedir ao tato
que dê um trato
nos fins e nos meios.

Aeroplano

Não sei quanta estrada há na frente

Eu me entrego ao lugar em que estou


Se me perguntam pelos planos, sou reticente


Quanto às montanhas...é pra lá que eu vou

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Chamas

Há um Sol dentro de mim
que me faz suar por dentro
e aquece todo o meu corpo


Um calor intenso
que me percorre da borda ao centro
e deixa em chamas meus pensamentos

Um ardor imenso
que eu sinto enquanto penso
que chamas...chamas...

entre tantos

Entre nós não haverá cobrança
Ela tem o veneno da cobra...e cansa

Entre nós não há ninguém
Apenas o espaço para ir além
Entre nós não há mentira
Não há verdade que tanto fira
Entre nós só um segredo
Já posso contar ou ainda é cedo?

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Enguia

Sua boca fala a minha língua,
mesmo quando sua minha vontade
e a deixa rouca

Seu olhar é uma enguia
que meus olhos guia 
até onde a escuridão é pouca

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

O catador

Sou um catador de palavras
Eu as encontro no meio das ruas,
no desvão de conversas alheias,
escondidas embaixo de silêncios descuidados,
escorrendo na pele das madrugadas ensolaradas.
Gosto das palavras nuas,
lânguidas,
lambidas pelo voraz olhar de quem as souber amar.


terça-feira, 16 de outubro de 2012

reprise

Por que te assustas com as entranhas da vida?

Quem sabe o que estranhas são as possibilidades escondidas?

Mas repare...historicamente o que te arranha são as dores repetidas.

Se estico demais a corda, é para que ela saia do teu pescoço.

Só mesmo para encontrar água é que se deve ir ao fundo do poço.

Capricho na dose só para sair da crise.

Dos nossos melhores momentos sempre vou querer reprise.

Colírio

Transborda como a taça

Caça a farsa


Faça o raro acontecer


Teça o acontecimento

Desaconteça a monotonia

Desfaça-se do fácil

Aprimora o faro

Seja o farol

Reescreva o rol do necessário

Afasta a traça da preguiça

Iça o desejo mais profundo


Profana a culpa

Desinventa todas as desculpas

Não disfarça com colírio

Ouça o delírio do amanhecer

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

cinco motivos

O céu fica sempre azul, você nem precisa pintar
O vento e o bambu se entendem, como a areia e o mar
A abelha produz mel, apesar do ferrão
Pensamento leva ao céu, sem sair do chão
Minha mão tem cinco motivos e uma só intenção:
convencer os teus medos de que eles não têm razão.

domingo, 14 de outubro de 2012

mantra

E nasceu uma flor no asfalto
O beco descobriu uma saída
Mil desejos emergindo sem sobressalto

Liberdade é um mantra, deve ser infinitamente repetida

sábado, 13 de outubro de 2012

pecado impecável

As mãos ávidas dos teus olhos me tocaram
Não se ouviu um pio
O arrepio tomou conta da pele,

que repeliu peça por peça
O desejo impecável derramado no olhar
Minha respiração nua tropeçando na tua,
até que o tempo se despeça e pare de passar
Diz....
Peça...

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

esquecimento

O amor esmoreceu

quando você esqueceu

que o amor é seu

Mentalizando

Comenta somente a cura
Amamenta a liberdade dessa doce loucura
Sedimenta dia e noite a vontade
Alimenta a sede, para saciá-la mais tarde
Apimenta o sorriso indeciso
Atormenta a monotonia, sempre que for preciso
Experimenta a sensação de chegar ao topo, num salto
Aumenta o volume e sonha bem alto
Fragmenta os fantasmas, até que desapareçam
Suplementa as fantasias, para que aconteçam



quarta-feira, 10 de outubro de 2012

equilíbrio desengonçado

Na matemática existencial, um mais um nem sempre é igual a dois.
Se os dois se fundirem e se confundirem num nó, o resultado será apenas mais um...
Mais um casal casual, usual, igual a todo aquele que se transforma em "cl", por ter perdido a asa.
Essa soma há de ser ímpar, inconfundível, invisível aos olhos nus da bula.
Asas, longas asas para quem almeja a burla das receitas prontas, dessas que não quero provar.
Cada qual traz consigo inacreditáveis coleções de si mesmo, em edições extraordinárias.
Variáveis espetaculares de uma só identidade que assim escapa da atrofia.
Somos tantas e nem sempre santas entidades, não conhecemos nem a metade do que nos habita.
Ora infantilizados pelo desamparo que parece navegar em nossas veias.
Ora adultecidos  pelo despreparo que parece nos despregar de nossas teias.
Somos todos malabaristas amadores, amamos as dores que tentamos curar.
Percorremos nossos caminhos num equilíbrio desengonçado.
Chega a ser engraçado e feliz daquele que consegue gargalhar.


travessura

Decifra meus silêncios amotinados, 
estrategicamente amontoados, 
entoados pelo sopro de sobrevivência

Desconfia dos sentidos,
guarde-os numa cesta
Afia o sexto,
desafiando a contradição

Imprima teus sonhos
na palma do teu olhar
Lamberei a esperança furtiva
antes que ela caia
Que minha travessura caiba 
no teu próximo despertar



segunda-feira, 8 de outubro de 2012

A tela

Do marasmo só quero o mar

Minha retina torce o nariz para a rotina


torcendo para ela se mandar


Eu me amarro na sensualidade elegante


A luz da vela revelando a tela só por um instante

Vertigem


E se o destino for mudo?
Não será nenhum desatino interpretar seus sinais.
Ele pode ser mudo e eu posso mudar, me dar outras portas, para abrir e fechar.
Não farei dele meu escudo.
Escuto a voz das estrelas mais remotas, viajo por corredores de luz.
Todos os dias dou uma volta ao mundo, no modo avião.
Faço escalas nas escolas sem muros, aprendo futuros que não sei ensinar.
Desacredito em sina, a vida sequer assina seus manifestos.
Gosto de festas, melhor ainda quando estás.
Minha imaginação esgueira-se pelas frestas da rotina, escapando da guilhotina do marasmo.
Minha retina não faz planos, ela vê o horizonte vertical.
Ver-te é vertigem, da maneira mais natural.


sábado, 6 de outubro de 2012

Magia

As nuvens serão apenas o ponto de partida e a passagem é só de ida.
O destino é mais alto, mas chegaremos lá num salto.
Não há porque temer a altura, lá de cima tudo muda de figura.
Para que desvendar todo o mistério?
Melhor misturar os meus aos teus...
Sério! Mas nem tanto, pra não arrefecer o encanto.
Sem fórmulas, mas com magia. 
Imagina!


sexta-feira, 5 de outubro de 2012

noite nua

Simples assim
Um silêncio eloquente e o olhar quente proclamando que sim
O instinto instigado pelo vinho tinto, no mais triunfante motim
A noite nua e macia como cetim

Simples assim

Palavras com aroma de jasmim
O presente plantado e colhido por mim
Infinito do princípio até o fim

Sim, és assim







tradução

Especial é quem compreende teus silêncios
sem invadi-los
Especial é quem respeita teus caminhos
sem colocar trilhos
Especial é quem adivinha o momento
de abrir a porta
Especial é quem afina o instrumento
que teu coração toca
Especial é quem chega junto
quando o bicho pega
Especial é quem mergulha fundo
sem temer a pressão da entrega
Especial é quem acredita
sem precisar de prova
Especial é quem elogia a roupa
mesmo não sendo nova
Especial é quem te traz prazer
sem levar a paz
Especial é quem traduz tua alma
como ninguém faz

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

sabedoria

Se o outro diz: espera
E o caminho está chamando
O teu coração em chamas pondera
mas a razão exclama: até quando?

Quando a refeição demora,
é convocada a fome
Porém, quando a aflição aflora,
o apetite some

Aguarda o desespero ir embora
Assim, o sabor será bem melhor
Experimenta ser feliz agora
Esqueça tudo que sabias de cor

E aí, já esqueceu?
Há sóis te iluminando quando estás a sós
A felicidade tem nome: o teu
Sabedoria aquece mais do que lençóis



quarta-feira, 3 de outubro de 2012

para isso

Quando a gente procura por dentro e não acha,
corre pra fora, meio sem graça, caçando a motivação.
Mas o que se vê, de tanta pressa, são restos de rostos

e, por mais que se peça, não sobra um tempinho para olhar.
Então, a gente volta pro interior, coloca cadeiras na calçada
e espera a poeira assentar.

E aquela maravilha, que antes se vivia, vicia e quer companhia.
Será que existe vacina para isso ou é só no paraíso que não 
se pode pecar?

terça-feira, 2 de outubro de 2012

suor da mente

Quando a paixão está se afastando,
ando, ando...até quando a recupero
Não importa quanto chão eu tenha que engolir

Quando a paixão está tremendo,
eu não remendo a janela
Eu me aqueço nela até o frio desistir

Quando a paixão está querendo,
eu me rendo suavemente
Então aprendo que o suor da minha mente faz meu corpo persistir




cheio de faltas

Vontade e desejo não são irmãos, mas podem dar as mãos.
Ela sabe o que quer. 
Ele quer o que sabe.

Vontade de beber água.
Desejo de sedes.
Vontade de dormir.
Desejo de sonhos.
A vontade morre ao ser saciada.
O desejo repousa por um instante para pousar no desejante em plena madrugada.

revelação

O meu pequeno segredo eu te confesso
e não te peço pra ocultar.
Porque não há maior segredo
que o medo de se revelar.