Ah! Como é difícil mudar o mundo. Pois o mundo é grande, há tanta gente nele. E nem conheço todo o mundo. E o pouco que vi já me fez estremecer. Mas caramba, as árvores também estremecem com o vento, a própria terra, com os terremotos, o céu, com os trovões. Por que eu não faria o mesmo, com meus medos, ventos, terremotos e trovões?
Mas como é difícil mudar o mundo. Se a seta de um carro acende, o outro acelera, ultrapassa, rouba-lhe a passagem. Talvez eu já tenha feito isso,talvez ainda faça. Mas disfarço. Quanta desfaçatez! Quero o melhor para a minha rua, meu bairro, minha cidade, meu clube de futebol. Mas se as outras ruas, bairros, cidades, clubes, países ficarem entregues aos seus problemas e penúrias, o que será do mundo, o mesmo que quero tanto mudar?
Meu discurso ético equilibra-se na ponta de minha língua, atualiza-se com as últimas informações, que caço implacavelmente nas redes sociais. Socialmente, sou um amor de pessoa. Intimamente, a gente mente. Ora, mas são mentirinhas bobas, bobagens que não produzem nenhum estrago. É, parece que a ética que nos habita não é parecida com a das outras criaturas, cujas mentiras, deslizes, dissimulações, a gente não atura. Mentira não é mensurável pelo tamanho, altura, tom de voz ou circunstância em que se produz. Mentira é mentira e ponto final, ou melhor, ponto parágrafo. Mentimos para dentro quando proclamamos arrogantemente o erro alheio. O meio ambiente, disseram, começa no meio da gente. Ética, da boca para fora, é titica e nada mais.
É realmente difícil mudar o mundo. Mas alguma coisa incrível, inusitada, acontecerá caso compreendamos essa mudança caso a caso. Ou seja, respeitando setas, árvores e tudo que é tão diferente ou, quem sabe, tão semelhante a cada um de nós.