segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Apelidos

Não digo o seu nome,
mas ele está em meu rosto
e no resto de você, que fica em mim
e nunca some
Não digo o seu nome,
mas você tem tantos apelidos,
em silêncio tantas vezes repetidos
Você é a minha melhor fome

zumba e zumbi

Da zumba ao zumbi.
Remédio para dormir, remédio para acordar.
Será que precisamos é de um remédio que nos livre dos remédios,
que só remediam, sem curar?
Da zumba ao zumbi.
As mil e tantas exigências da vida maratonista, fatigando até o auge do frenesi, quando as pernas da consciência começam a formigar.
Da zumba ao zumbi.
Estou pensando em chamar o zumbi pra dança, quem sabe ele até perde um pouco da pança e se esquece de assustar?

estrelas, poesias e embarcações

Dormi no telhado. Ah, nem foi a primeira vez. Alguns dos meus versos não me acompanharam. Mas a poesia estava ao meu lado.
Estrelas eu me habituei a vê-las. Fascina-me aquele brilho intenso e distante, como velas de um barquinho em que jamais naveguei, segundo a lógica. Como nem sempre ela é minha única inquilina, uma voz marota disse para mim que o mar tem infinitas rotas e
que posso ter viajado naquelas embarcações, sim.
Quando acordei, ainda havia estrelas, poesias e embarcações. Só que estas estavam dentro de mim.

Rios de lama

Mariana, o Brasil e a Terra precisam de Dalai e não de lama.
Precisamos ser focas para manter o equilíbrio, em meio a tantos terremotos que nos fazem balançar. Mas as focas estão sofrendo com fofocas e com o alarmante desprezo pela Natureza. É que para muitos a acumulação, o enriquecimento predatório é algo bastante natural. Rios de lama levam na enxurrada o que encontram pela frente. Depois, a gente olha para trás e como é doloroso não se encontrar mais. Para onde levaram a doçura do Rio Doce? Será que a pena vale?
Onde nadarão os cisnes, nesse oceano de cinismo? Dados viciados por quem cultiva o vício do poder, atirando seus dardos a esmo. E os alvos são de todas as cores. A saída pode até passar por um beco, mas não há quem me faça acreditar em becos sem saída.

a escova e os dentes

Enquanto eu escovava meus dentes, um avião decolou, uma lágrima caiu, um vestido foi eleito, um candidato sucumbiu. Enquanto eu escovava meus dentes, nasceu um filhote de gambá, cujos pais não receberam abraços de um tamanduá e nem por isso deixaram de ficar felizes. Uma carta foi escrita (sim, ainda se escrevem cartas), lembranças foram apagadas, luzes acenderam-se e minha escova de dentes foi guardada.