sábado, 30 de agosto de 2014

a cor da estupidez

Durante o jogo entre o Grêmio e o Santos, em Porto Alegre, houve mais um lastimável episódio de racismo. Torcedores gaúchos ofenderam o goleiro Aranha, que se indignou, chamando a atenção do árbitro da partida para a atitude criminosa. O responsável pela condução do evento esportivo chegou a repreender o atleta vitimado pela discriminação racial.
Mais tarde, talvez motivado pela repercussão do fato na imprensa (tanto paulista quanto gaúcha), elaborou adendo à súmula, relatando o que omitira anteriormente.
Ora, o Grêmio é branco, é preto e azul, a exemplo do Brasil de todas as cores. Que bola fora, um gol contra os valores mais elevados, que devem nortear todas as instituições e todas as pessoas, em qualquer lugar do planeta. O que justificaria a reincidência de hostilidade tão primitiva quanto repugnante?
Estou contigo, Aranha! Saiba (e sabes) que tal comportamento grotesco sequer arranha o orgulho de sermos o que somos.
Aos agressores, a lei. Além do meu sincero desejo de que algo os faça mudar de cor, o vermelho da vergonha.

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

História e histórias

Minha mais profunda admiração aos que não cederam, àqueles que se deram muito mais do que era razoável imaginar. Minha homenagem aos guerreiros que tentaram acender a noite mais escura com toda a fé, que mergulharam em busca da cura, mesmo quando não dava mais pé. Todo o respeito a quem não se escondeu quando o pau quebrou, aos que deram a cara a tapa, ainda que isso tenha custado tão caro. O tempo fechou, o sinal avermelhou, as sirenes soaram, os corpos suaram, até secar. A esperança voou pelos ares, mas eu digo que valeu a pena. Só assim nós pudemos respirar o ar da liberdade com que tanta gente somente sonhou. Vida longa aos melhores sonhos. Quanto aos sonhadores, eles permanecerão vivos graças à História e às histórias que nós contaremos aos que vieram depois.

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Marina

Marina morena Marina você se pintou
com o verde da selva e da esperança que você suscitou
Marina você faça tudo, mas faça o favor
de resistir a todas as pressões, venham lá de onde for
Já me aborreci, me zanguei, já não posso calar
E quando eu me zango, Marina, não sei mais votar
Eu já desculpei tanta coisa, 
até me cansar do diferente tão igual
Desculpe morena Marina, 
mas meu desabafo não pode ter um ponto final.

terça-feira, 12 de agosto de 2014

carpe diem

Carpe diem, fantástico Robin McLaurin Williams. Ou o inesquecível Professor Keating, que ensinava a seus alunos a relativa importância dos mestres e a absoluta importância das lições.
O Captain! My Captain! Cada dia desta vida repleta de noites e dias pode ser vivido de maneira extraordinária. Desde que a poesia sobreviva às mortes da sociedade e dos poetas.
A vida, ora, a vida é um universo de pétalas tão deslumbrantes quanto frágeis. Ágeis são o tempo e suas emboscadas.
Robin foi asfixiado por algum túnel imenso, cuja saída não encontrou.
O circuito tornou-se gigantescamente curto, as conexões expiraram,
tudo pirou. Hoje, é imperioso conectar, para quitar dívidas, para desquitar-se de dúvidas acerca da morte e da vida, que são tão próximas, sem cerca alguma que as separe,
O Captain! My Captain! Estou sobre a mesa, invocando a chama da
ousadia, o espírito da liberdade, convocando as palavras mais certeiras,
provocando as futilidades, as obviedades e tudo que ofusca a criação.
É criando que nos rebelamos, que nos revelamos a nós e ao mundo.
Velemos Keating, velejemos no profético ardor de Walt Whitman:
"Esta manhã, antes do alvorecer, subi numa colina para admirar o céu povoado,
E disse à minha alma: quando abarcarmos esses mundos e o conhecimento e o prazer que encerram, estaremos finalmente fartos e satisfeitos?
E minha alma disse: não, uma vez alcançados esses mundos prosseguiremos no caminho".
É isso que faremos: prosseguiremos no caminho, que nos levará a outros caminhos, outros mundos, a outros motivos para dizer bem alto:
O Captain! My Captain!.

domingo, 10 de agosto de 2014

aos pais

Quando eu era cronologicamente jovem, pensava que ser pai era muito simples. Bastaria ter filhos. Logo compreendi que o pai biológico é apenas um nome na certidão de nascimento dos filhos. 
O pai precisa ser um pouco arquiteto, pois opina nos projetos dos filhos, participa da escolha das ferramentas, cuida da solidez das estruturas e da segurança dos tetos. Pai tem um viés de atleta, para caminhar e correr junto, quando for preciso. Fundamental ter boas noções de primeiros socorros (quantas suturas e curativos são feitos, nos corpos e almas de quem ajudamos a trazer ao mundo). Um pai bacana faz estágio num circo, habilitando-se às palhaçadas tão oportunas, que trocam soluços por gargalhadas. Pai tem poder de improviso, para inventar historinhas, na hora de dormir ou para distrair dores oportunistas e angústias tão recorrentes quanto a infância (de filhos e pais).
Acima de tudo, Pai (com P maiúsculo) é aquele que ama de verdade (aliás, há outra modalidade?), que ama a verdade, deixando esse legado a quem é sinônimo de amor.

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

trocas ocas

O sistema avisa: é preciso trocar. De casa, de caso, de mulher, de marido, de carro, de bolsa, de valores, de sapatos. Até de patos ou pathos, dependendo da criação. Iphone, ipad. Ai, ai, ai...É necessário sujar muito para comprar outra máquina de lavar. Tudo fica obsoleto, ou melhor, tem que ficar. As versões multiplicam-se, as invenções não cessam, não há cessar fogo na fogueira de vaidades e haja fivelas para os cintos de desnecessidades. Seu time só perde, a ponto de você perder a vontade de adquirir um pacote pay per view? Mude de time, viu? Mas não deixe de pagar, consumir. Ainda que você suma, no meio de tantas quinquilharias. É preciso trocar, mesmo que no fundo, no fundo você não precise. E será que ainda sabemos do que precisamos e o que é preciso sabermos? Os caminhos do equilíbrio e da sabedoria são mesmo ermos.
Está insatisfeito/a com a sua cara? Compre outra ou a permute por uma coroa. Ou vice versa. Mas saiba que tudo tem seu preço. Acontece que até o preço pode ser trocado, graças aos parcelamentos, que significam inúmeras parcelas primeiro e inúmeros lamentos depois, quando o recorrente e tórrido impulso for também trocado pelos números frios da realidade. Só que a realidade não aceita trocas nem devoluções.

é bola fora

Epidemia na África: fora ebola !
Guerra na Faixa de Gaza: é bola fora !

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Há de ter gente

O mundo inteiro fica bem aqui em frente,
mas não há muita gente
Tudo hoje em dia é tão urgente 
que fica difícil entender tamanha sujeira, 
quando existe tanto detergente.

sábado, 2 de agosto de 2014

anjos da paz

Chamem os anjos da paz
Que eles nos ensinem como é que se faz
Enfeitem as trincheiras com flores
Lacrem as sepulturas de todos os rancores
Bombardeiem-se as intolerâncias inúteis
Silenciem de uma vez os motivos fúteis
Trégua a qualquer desatino
Seja "palestrense" ou "israelino"
A Terra e não somente a terra é a nossa casa
Que isso valha em Jerusalém e também em Gaza

Bom dia, mas bom dia mesmo, dito e sentido com força e com vontade e não a esmo. Luzes às escuridões! Não ladremos nem aos ladrões e deles
roubemos o vazio que não conseguem preencher. Bom dia a judeus e palestinos. Que nasçam destinos tão meninos quanto todos eram, foram e ainda são, por mais que se fantasiem de soldados, por mais que estejam moldados a tão remotos padrões. Bom dia a patrões e empregados. Que o diálogo valha mais que a mais valia. Que esta manhã inaugure alguma coisa em cada um de nós. E ao mesmo tempo nos salve, nos liberte das verdades mentirosas e das certezas ociosas que nos habitam somente por força de hábitos e crenças caducos e mal humorados.
Que tal dizer xô a essa inhaca e começar o dia com a corda toda?