quarta-feira, 31 de agosto de 2011

setembra-te

Vou setembrar-te até que me lembres de outubro.
Então, te darei nove ou dezembros.

O caminho da saudade

A saudade não é acidental, ela incide sobre tudo que nos restitui
sensações que nos visitaram, em determinados momentos de nossas vidas.
Embora não haja determinismo na saudade, só se sente de verdade
quando se é surpreendido por ela, que aparece, sem explicação, diante
da janela. Saudade não tem lógica, ela possui a mágica de dar movimento
ao que não poderia mover-se. Fotos acariciadas acariciam, vozes já caladas
se anunciam. Músicas, cartas, lugares, aromas, a saudade está em todas as
partes. É algo que parte partindo a gente. Só percebemos o princípio, sem
fazermos a mínima idéia do máximo de saudade que caberá em nós. Até
quando a sentiremos, até onde iremos, por causa da saudade? 
A lua cheia pode encher-nos de saudade. Um verso, o universo de uma 
música pode nos envolver na musicalidade da saudade. Seus acordes podem
fechar nossos olhos para a falta. E é aí que sobra mais saudade. Podemos até
ouvir seus passos, subindo a escada, descendo pela pele, transpirando numa imagem.
Ah! Qual são os genes da saudade? Que gênio a criou ou ela é a própria genialidade
do Criador? Pois, mesmo que traga dor, muito mais dolorido seria ser destituído de
saudade. Ela tem sempre remetente e destinatário. É inventário de melodias, na beira
de todos os dias ensolarados de talvez. É guitarra solitária , é cigarra solidária, anunciando
a vontade planetária de querer bem, de querer o bem. 
São os dedos da história saltando de uma corda para a outra, equilibrados na ponte inexistente entre a realidade óbvia e a que chega por outras vias. É a súbita visão do que não vias.
É o chão riscado por pés nômades, sempre em busca
da paixão.
São séculos contidos num só olhar, que hipnotiza o cansaço de tantas rotas. Lembranças derramadas pelo caminho para possibilitar a volta. 
São cores, odores e sabores. É saber que a sentirás, onde quer que fores.
São ombros tocados com a suave intenção de jamais dar as costas ao que se gosta.
É oração com sujeito e objeto. Um jeito só nosso de fazer o mesmo trajeto.


segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Kant para mim

Havia um dezembro desenhado na fonte. E as carícias de setembro
chegariam antes, sem que se quisesse antecipá-las.  Cantigas eternas,
como cartas antigas, sequer remetidas. Se quiser cantá-las...Kant!

ps: como o ciclo de recolhimento prossegue, sairam estas poucas
      palavras, cheias de saudade de quem as envolve no acolhimento
      da leitura e na alquimia de sentimentos que tudo isso provoca.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

poesia mais bela

Nos próximos dias, a poesia estará latente aqui. Pequena pausa,
em forma de reticências. Desde maio do ano passado, vocês
me inspiram, em comentários que superam o comentado. Versos
geralmente paridos às pressas, para atender a premência do
que salta do coração. Mais que simplesmente comentar, vocês
vertem palavras enfeitadas de carinho, elegância e sensibilidade.
Frequentemente leio várias vezes e acabo descobrindo vieses em meus
próprios escritos que foram melhor descritos pelos sagazes leitores.
Escrever não é falar para si mas inevitavelmente de si. Comentar é ato
de reiterada generosidade, pela revelação de algo mítico, pelo deciframento
de significantes ocultos, não raro desconhecidos pelo próprio autor. Quem
comenta possui a rara grandeza de contribuir para a obra do outro, sendo
ao mesmo tempo operário e arquiteto. Comentar exige coragem, pois se trata
de absoluto desnudamento do íntimo. Mergulho que enseja mergulho, é convite
à vida, explosão de amor, que eclode em quem é essencial e literalmente gente.
Considero o comentário uma espécie de posfácio, que enriquece aquilo que o
antecedeu, tocando e aquecendo a alma inquieta do poeta. Quem comenta
disponibiliza voluntariamente dois entes mais que sagrados: tempo e emoção!
Aqui e agora, tento retribuir, mesmo que singelamente, o que tenho recebido
de cada um e de todos: afeto, que considero a poesia mais bela.
Lendo, seguindo, comentando vocês passaram a fazer parte das minhas confissões
quase diárias que assim se tornam suas também.
Recebam meu abraço sem fim!



o sol da noite

Hoje é dia vinte e dois.
Uma, duas, tantas vezes dois.
Não sei se foi antes ou se foi depois,
mas tão depressa o Sol se pôs.
Pouco antes da festa, o melhor presente:
a centelha que se libertava pela fresta distraída
da sua mente.




domingo, 21 de agosto de 2011

chegadas e partidas

Compartilha meu desamparo que eu paro de partir.
A partir do que me chega, tudo em mim se aconchega,
não há mais por que sair.


sábado, 20 de agosto de 2011

à minha moda

O estilo moicano não me faz a cabeça, mas
não encano com quem tem estilo.
Não começo frases com "então", nem as
termino com "enfim".
Não prego o fim do mundo, nem me apego
ao que o mundo prega pra mim.
Não encho a cara, mesmo quando a falta se
escancara.
Não tenho iphone, ipad e como o que minha
saciedade pede.
Nada de barracas e barracos, amo papos e
odeio sopapos.
Sapo só no mato, não os mato nem os engulo.
Não faço amor, ele me faz e, às vezes, desfaz.
Se fosse Maria, não iria com as outras, mas
às Três Marias eu iria.
Gosto de preto no branco e de branco no preto.
Falo baixo, quando quero ser ouvido e calo bem
alto quando ouço o que duvido.
Amor se cativa, sem se transformar em cativeiro.
Liberdade é mais que um bairro, é o mundo inteiro!





sexta-feira, 19 de agosto de 2011

um sonho

Sonhei que despedia todas as despedidas. Desde as mais antigas.
Reunia mãos que já não se tocavam, como sóis e luas que jamais se
encontravam. Restaurava palavras esquecidas e as devolvia às bocas
onde nasceram. Acendia fogueiras para descongelar sentimentos.
Inventava todos os inventos capazes de reconstituir paixões. Tornava
possíveis todos os perdões. Erradicava a intolerância, vacinava toda a
humanidade contra o vírus da incompreensão. Resgatava juras secretas,
diários com confissões adolescentes. Criava uma comunidade onde tudo
se unia, nada se punia, pois não havia mais o mal. Andava por todos os
lugares e todos eles eram meus lares. Não comprava nada, pois tudo que
eu precisava já estava comigo. Encontrava nas gavetas da memória toda a
minha história. Bebia impunemente água da torneira. E te dizia tanta besteira,
só para sentir muita sede de ti.  Escrevia versos no teu corpo, para apagá-los
com suor. Corria para os teus braços sem correr perigo. Esquecia tudo que
existia antes desse sonho.


quinta-feira, 18 de agosto de 2011

o dobro da metade

Espero por você na esquina.
Traga alguns sorrisos marotos, um punhado de
coragem bem quentinha e sonhos rotos, para
reciclar.
Não assisto novelas, nem mesmo fora da tela.
Mas bem que podemos arranjar algumas velas,
para iluminar nossas idéias.
E falando em velas, bem que dá  vontade de
colocá-las num barquinho e pedir ao vento que
não as apague, mas que pague o mico de ser
soprado por elas, até que ele chegue aonde
precisa chegar - às mentes nebulosas - para que
leve embora as nuvens e lá se revelem projetos
construtivos e não mais projéteis destrutivos.
Espero por você, esquina.
Para que me dobre, feito um sino, encurtando
minhas calças, como eram quando menino. E
assim de novo ser tão leve, que essa sensação
me leve ao dobro da metade, pois é imensa a
saudade da manhã...que nunca era tarde!

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

eu e os outros eus

As palavras primeiras de hoje são dedicadas a quem não me dedico,
com habitualidade. Aos que me deram uma fechada, no trânsito, aos
que fecharam a cara, no elevador, aos que sairam de fininho, quando
o caldo engrossou, aos que entraram na dança, para levar vantagem,
aos que invadem o acostamento, só para não perder a viagem, aos
que viajam na maionese, por pura perda de consciência.
Que tal soltarmos o verbo, encarar os fantasmas que nos assustam
mesmo de dia, prendermos um pouco a respiração, para que o ar se
renove, libertando o que sequer imaginamos existir? Somos passageiros
que passam ligeiros pela estrada, afoitos em busca da linha de chegada,
mas descobriremos que o mais importante está muito antes (ou depois) dela.
A vida nos olha da janela e a gente, tantas vezes, nem dá bola pra ela.
Quero ouvir suas histórias, solidarizar nossas memórias, sorrir para os
seus tropeços, em consensual e mútuo pedido de (des)culpas, banindo
de nossos corações a culpa e o ressentimento, para poder sentir mais o que
merece ser sentido. Não somos inimigos, estamos expostos aos mesmos
perigos. Para que sangrar as mesmas feridas, com tantas idas e vindas,
que nos levam ao mesmo lugar?
Exorcizemos nossos gritos, nos desfazendo de tantos mitos que, no fundo,
nos tornaram mais rasos. Não é preciso fixar prazos, mas sejamos razoáveis
e já teremos dado um passo para que tudo fique um pouco melhor.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

liberdade para as idéias!

Se me perguntarem se estou feliz, a resposta não será
rápida. Sou parte de um todo imenso, que me toca, influi
no fluxo de meus pensamentos, cutuca cada um de meus
sentimentos, de maneira irremediável. E considero inadiável
inaugurar novos e singularíssimos canteiros de obras, que
construam o mais valioso dos empreendimentos - a esperança.
Refiro-me à esperança palpável, ou seja, que emerge de projetos
inteligentes, que levem em conta a pessoa humana, na visão mais
abrangente, holística que se puder alcançar.
Mas e a logística? Por onde começar?
Livros, para sermos livres. Idéias, fachos de inspiração ocupando
espaços antes ociosos. Personagens lançados no mundo real,
realizando, tornando possíveis os sonhos de simples mortais.
Adrenalina literária para sacudir mentes sedentárias, para acudir
os deserdados.
Ensinar a fazer e ensinar a pensar. Pouco a pouco, provaremos
do fruto da transformação, feita de formação e informação.
Imagem + ação = imaginação.
Habeas corpus preventivo para a criatividade. Que ela possa
voltar às ruas, ir e vir, visitar cada coração, contagiar atitudes
individuais e coletivas, em manifestações festivas de felicidade
transbordante.
Basta de violência, intolerância, indiferença. Acreditar faz
toda a diferença. Ceticismo e conformismo se traduzem em
abominável ofensa ao princípio da mudança. Nada de dança
das cadeiras, pois ninguém deverá sobrar. Sobre as cadeiras
da escola, gente que possa fazer escolhas, que possa sentir-se
sujeito da própria história, alunos que não sintam vontade de ir
embora, fustigados pelo tédio e outros agentes corrosivos.
Precisamos de de inclusão, de urgente transfusão de sangue nas 
veias da sociedade, trocando o vício da repetição pelo cio da ação.
Podemos e devemos oferecer à juventude oportunidades muito mais
amplas que ser jogador de futebol. Jovens que coloquem na cabeça
algo mais duradouro que o corte de cabelo da moda. O que mais
incomoda é a pobreza de alternativas, a sensação de um jogo de
cartas marcadas, além de tantas mancadas que a gente vê por aí.
Para vencer esse jogo, será preciso driblar  muitas desconfianças,
tabelar com a utopia, perder a mania da descrença e vencer a retranca 
do medo estimulado.
Com a bola, todos nós!

domingo, 14 de agosto de 2011

pais e paz

Ah! Essa busca  que só cresce
Essa noite que não amanhece
Numa prece que só pede que te apresse
Mas que não chegue antes da hora
Que espere agora ir embora
A vontade de ir para dentro, mundo afora

Me ensina, mas bem devagar
Eu quero aprender sem perder
O que eu sabia antes de tudo
Sorrir, chorar, catar estrelas
E abrir mão, por não querer tê-las
Somente sabê-las, saber que são belas

Noite alta e o que falta
A coberta ou o frio
O calor no final do pavio
O suor que evita o lençol
A lua que procura o sol


três letras

Havia um caderno, que guardava muitos poemas.
Não sei onde guardaram o caderno, mas as palavras
voaram antes que se perdessem e pousaram no meu
coração. É uma espécie insólita de fotos, sem rostos
nem paisagens. Só passagens estreitas, por onde as
confissões poéticas aconteciam, rastros de sentimentos
afogados em tantas garrafas. Saudades e promessas
embriagadas demais. O poeta amanhecia abraçado
às noites, sem perceber que elas já haviam despertado.
Não sentia o tempo passar. Mas o tempo acompanhava
seus passos lentos, devagar o suficiente para nunca chegar.
O homem vendia tetos e lhe faltava chão. Mas paixão tinha
de sobra. Isso devia ser obra de um deus irreverente, em que
ele certamente nem acreditava. Voz empostada e a grana
quase sempre emprestada, suficiente para esvaziar o copo e
para encher o vazio da alma com algum corpo itinerante.
Ah! Aquele sonho distante e a lembrança infamante do desfecho
prematuro, do tropeço que podou seu futuro, do medo do escuro,
que nunca esclareceu e do desejo que esqueceu.
Peço licença, velho poeta, para resumir todas as dores que não
te amaram e os amores que te doeram com apenas três letras:
etc.
No dia de hoje e noutros tantos dias, fico imaginando o que
farias, se ainda estivesses aqui. As rimas que não me legastes
e aquelas que abandonaste, à espera de ti.
Mas te agradeço a poesia que me permitiu, como eu queria,
mandar-te um abraço daqui.

sábado, 13 de agosto de 2011

a minha, a sua, a nossa

Na poltrona do cinema, nos bancos do ônibus,
da praça, nas cadeiras de praia, da sala de espera,
na mesa ao lado, do outro lado da rua, ao seu lado,
na mesma esquina, esperando a mudança de cor
do sinal...quem está ali, quase invisível? O sinal abre,
mas seu sorriso se fecha e o olhar é quase uma flecha
em direção ao desconhecido. Todos são da mesma
cor ou serão furta cor? São temidos e temem, num
mesmo gemido. O sorriso escondido dentro do bolso.
Quase rostos, quase restos de um grito, no rito diário
da cegueira coletiva, da peneira seletiva que elege os
iguais.
Aprendemos a desconfiar, a nos fiar nas notícias de
tanta desgraça. Mesmo que a vida fique com menos
graça. São as traças do ego, é o nó cego que não
conseguimos desatar, que nos prende aos nossos
medos. Afinal, tudo podem nos levar. E embarcamos
nessa leva de insegurança, não nos permitindo ser mais
levados, como éramos quando crianças.
Assumimos a condição de alvos, mesmo que nossa pele
seja negra. E as setas parecem vir de toda parte. Sentimos
que algo se parte, se quebra, se perde. Perdemos o que
não pode ser roubado. Algo intangível, como aqueles seres
estranhos que nos cercam. E nos sentimos assim mesmo -
cercados, ameaçados pelo visível e pelo invisível, pelo real
e pelo imaginário.
O que sentirão aqueles que chegaram antes de nós ao cinema,
que entraram mais cedo nos ônibus, que madrugaram na praia,
que esperam há mais tempo nas salas...?
Seria melhor que cada um tivesse a sua própria rua?
Confesso que adoro ficar na minha, mas só de vez em quando.
E você, prefere ficar somente na sua?

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

onde estou?

Estou na areia remexida da praia
Estou na lua que encho com o olhar
Estou na dúvida que te atrapalha
Estou na água, na terra, no fogo e no ar

Estou na foto, no rosto da saudade
Estou na gargalhada de madrugada
Estou na voz das esquinas da cidade
Estou nos erros que não querem dizer nada

Estou no redemoinho das emoções
Estou no rio que dá pé
Estou no cio de tantos sons
Estou nos segredos de cada maré

Estou em teu gesto suave e sutil
Estou no perfume do dia seguinte
Estou no princípio que te deixa a mil
Estás onde estou. Acredite!


segunda-feira, 8 de agosto de 2011

o sorriso da liberdade

Quero percorrer tuas estradas, feitas de pegadas
e de paisagens que se soltam com generosidade.
Ouvir teus caminhos, acariciar os espinhos que
os protegem, conversar com as nuvens em que
repousam tuas vontades adormecidas, convencê-las
de que poderão confiar a mim algumas delas, para que
despertem em segurança.
Quero provar dos frutos de tua imaginação e distribuir
as sementes por toda parte, para que haja mais arte
no mundo.
Mas não quero emoldurar teu sorriso. Pássaros cantam
muito mais bonito fora de gaiolas. Tuas palavras livres
têm o som de violas e é assim que encantas. Violando
tabus, contrariando a cartilha, realizando a partilha do
que colhemos em nós.


domingo, 7 de agosto de 2011

ser são

O tesão deve ser são
Entre corpos, entre mentes
Entrementes, sem ser vão
Sob o céu, sobre a mesa
E a sobremesa é sempre desejável
Na presença, na saudade intensa
Insuflando, inflamável
Em transe, intransitivo
Jamais um mero aperitivo
A dois, a sós
Desenhando luas e sóis
Antes e depois
Tesão para receber e para dar
Para perceber, sem olhar
Tesão para cobrir e descobrir
Para investir e se vestir
Tesão para correr e relaxar
Para se achar e se encaixar
Para simplesmente ser, sem se cansar

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

o beijo

Desisti de ouvir notícias. Afinal, gosto de novidades.
Cansei das fofocas mundanas, das crises cíclicas do
capital, dos escândalos cínicos da Capital.
Na contramão da história, quero que me roubem. Calma!
Um roubo específico, em ato pacífico. Que me seja roubado
um beijo. E não precisaria devolver. Mas que fizessem bom
proveito. Ele bem poderia ser lançado ao ar, como um
espirro, para que contaminasse outras bocas. Um beijo
itinerante que, ao desconhecer fronteiras, desprezar ideologias,
se hospedasse em lábios de todas as etnias. Mas um beijo
humano e não divino, pois impregnado de desejos, temperado
por paixões. Um beijo assim, sem senões, sem sermões.
Imaginem o que seria um beijo tão atípico, viajando por aí,
sobrevoando medos, solidões, beijo que selaria perdões,
que abriria portões. Um beijo apátrida e sem bandeira, mas 
beijo com eira e à beira da loucura de ser tão livre, mas tão livre
que não se prendesse em boca alguma, que não se perdesse na
banalização. Um beijo sem passado, alheio ao tempo, que não
fosse passatempo. Um beijo que transbordasse sentimento no
momento em que outro beijo o encontrasse.


quarta-feira, 3 de agosto de 2011

ingenuidade

Lembranças das brincadeiras ingênuas e das besteiras nuas que
provocavam risadas. 
Duas crianças crescidas que adormeciam
abraçadas às próprias travessuras. 
A satisfação sem rasuras,
estampada no espelho, com a sua assinatura.
 

doces e bárbaros

"O seu amor ame-o e deixe-o...
livre para amar..."

Pois além de você, ele ama o que vê
e o que não vê, ama como se deve amar,
sem se enredar, para se dar de verdade,
reservando espaço para a saudade.
Para ser cais e não caos, para ser mais.

"O seu amor ame-o e deixe-o...
ir aonde quiser..."

Que ele vá e venha, pois conhece a senha
que o próprio querer lhe entrega. Que haja
plena entrega e a plenitude jamais será cega,
de tal maneira que a insegurança não conceda
o que a vontade mais profunda (e legítima) nega.


"O seu amor ame-o e deixe-o...
brincar, correr, cansar, dormir em paz..."

Conheça-o, mereça-o, despeça-se dele, para
possibilitar o reencontro. Principalmente, vá ao
e não de encontro. Construa pontes levadiças,
pois você também precisa de retiro. Evite o tiro
no próprio pé, não fira o que você admira, não
prenda, aprenda.


"O seu amor ame-o e deixe-o...
ser o que ele é..."

Entenda que a vida é um sendo, é gerúndio, que
o amor não deve ser um latifúndio, delimitado por
cerca. Acerca disso, perceba: é exatamente a
perda o que nos leva a achar.

Nota de rodapé: as frases abrigadas por aspas pertencem
à letra de "O seu amor", dos Doces bárbaros (Caetano Veloso,
Gal Costa, Gilberto Gil, Maria Bethânia) . As demais são
dedicadas a todos os que têm a coragem de lançar-se na
aventura mais desafiadora - a arte de amar. E amar, como
as aspas, abriga, sem obrigar. Por vezes, há briga, mas que seja
para irrigar. Sobretudo, saber que ninguém é tudo e ainda assim
é um sortudo quem lhe souber amar.






terça-feira, 2 de agosto de 2011

ensejos

O desejo se esgota após a última gota
Aproveita o ensejo e renova sua cota
Onde ele se esconde quando ela cai?
E o que retorna não é o mesmo que sai





segunda-feira, 1 de agosto de 2011

oferta e procura

O coração contraria as regras da economia.
Carinho quanto mais se gasta, mais se tem.
Para quem compra, quanto mais há preço, pior.
Para quem ama, quanto mais apreço, melhor.
O aplicador deseja acumular.
O enamorado acumula desejos.
Nas finanças, quem poupa manda bem.
No amor, ninguém manda, nem se poupa.
O consumista tem muita roupa.
O amante tira toda.
Com dinheiro compra-se.
Afeto é para dar de graça.
Nos negócios, é contrato.
No amor, é com muito trato.