quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Ficção ou realidade? Fique são!

Cair na real?
Decido permanecer de pé,
pé ante pé, ante tantos perigos.
Realidade é cimento, concreto,
é ciumento projeto que proíbe outras versões?
Como assim, se não abro mão nem dos pequenos versos?
Quero os verões para transpirar a saudade
e o inverno para aquecer-me na chama.
A chama da vida me chama , ávida e por isso mais viva.
Deixem-me com minhas intuições ilógicas,
com minha lógica intuitiva,
com a serenidade aflitiva
que é meu emblema.
Feito um poema
que nem preciso escrever.
Só ser.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Cedo são

Talvez seja singular,
talvez não.
O som pode ser fatal.
Elejam a interpretação.
Cedo é ou sedução?

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

dama de verde

A dama de verde dança comigo
Não sinto meu pé,
parece que não preciso de chão
Sinto estranha ausência de calor no umbigo
Acredito profundamente, bem antes da fé,
que nada será em vão
Sem fazer drama, dancei mas prossigo
Já é quase natal, quem sabe desça pela chaminé
o calor encantado que novamente aqueça minha mão.

sábado, 17 de dezembro de 2011

original

Sou a perfeição incompleta,
sou uma lacuna repleta
de acolhimento.
Sou consentimento
para o afago incidental.
Sou tempo e temporal,
repetição que invento.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

entre mentes

Entre sem bater
Aliás, não bata nunca
Entre aspas?
Só para evidenciar a autoria
Entre quatro paredes
Que haja, ao menos, uma janela
Entre a vida e a morte
É onde tudo acontece
Entre nós dois
O entretanto fica para depois

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

chega

Chegue de um jeito
que eu nem desconfie quando aceito.
Chegue sem que eu perceba,
para que eu jamais diga: chega!

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

um pouco depois

Quero que você seja feliz,
mesmo tocando o retrato
e sentindo seu rosto.
Quero que você se encontre,
mesmo não sendo comigo,
que eu seja o gosto amigo,
que você sente depois.
Quero que a paz a abrace
e deixe em sua face
a estrela mais linda.
Quero que você se desencontre
dos desencontros,
que a paixão só termine
ao começar o amor.
Quero que você se esqueça
de tudo que não mereça
estar onde você for.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

desacontecimento

E se nada acontecer?
Se o tempo tiver amnésia e esquecer a que veio?
Se o sábado perder os sentidos e desfalecer na cesta em que todas
as ilusões forem guardadas?
E se nada acontecer?
Se cessarem as voltas, as reviravoltas e todas as revoltas?
Se todas as palavras ficarem quietas?
Se as curvas misturarem-se às retas?
E se nada acontecer?
Se as esperas cruzarem os braços?
Se agora nunca mais for passado?
E se eu não estiver ao seu lado?



sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

por um fio

Pergunta-me uma grande amiga: como confio?
 
Respondo, pestanejando: equilibrando-se no fio que pende entre o seu coração e o outro, fiando-se no piscar de olhos da sua intuição, enfiando-se no aconchego do  seu próprio calor, até que o frio passe, até o fim do impasse.
 
Ela insiste: mas quando isso acontece?
 
Sem pestanejar: nem desconfio, confiar é um grande desafio!
Ela arremata: onde está a verdade nesse conflito maldito? 
Eu remo até a mata de minhas lembranças imemoriais: no silêncio bem dito...
 

carne e osso

Há pelo menos duas coisas que não abandonamos: a tecnologia e a pressa.
A tecnologia (representada por suas astuciosas maravilhas) guarda todas as nossas amizades, breves confissões, inconfessáveis mentiras, tiras de verdades (que
se tornam tão rapidamente obsoletas quanto os produtos que adquirimos), abocanha parte considerável do nosso tempo, dispensa visitas presenciais, expressa sentimentos por abreviaturas quase indecifráveis, decifra privacidades,
banalizando-as, redefine o conceito e o exercício da solidão, mascarada pelo número espetacular de "amigos" virtuais e acrescenta ao trânsito perigos iminentes,
bastando o ruído do recebimento de uma ligação ou, ainda pior, de uma mensagem de texto, para que a "vida" resuma-se ao que a telinha da engenhoca contém.
A pressa já existia como predadora da serenidade humana, muito antes da "digitalização da existência". Mas parece ter ganho contornos ainda mais dramáticos, a partir do momento em que a instantaneidade de quase tudo está ao alcance de quase todos. Dorme-se pela metade, acorda-se pela metade, vive-se pela metade.
As outras metades são deletadas pela urgência irracional, fruto da ansiedade onipresente, que tritura o bom senso e promove o carnaval da indústria farmacêutica.
Drogas legais (somente na acepção jurídica, tá?) substituem, quase impunemente, o diálogo, o afago, o colo. Em contraposição, os calos nos dedos, as lesões por esforço repetitivo, os corações competitivos e calados, a repetição de rotinas travestidas de anciãs novidades e a sombra da depressão ganham espaço no mercado, que compra suas ações e as vende para nós, incautos. Não compramos gato por lebre, compramos febre por lebre. Gastamos 8 horas do dia trabalhando, outras 4 horas no transe do trânsito, fingimos que dormimos outras 8 horas. Nas 4 horas restantes, o que resta de nós sai em busca de alguma coisa que nos desperte, que nos conserte, que nos torne reais para nós mesmos. Que saudade do tempo em que éramos de carne e osso!

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

a despedida de 2011

Todos os anos terminam da mesma maneira. São esquecidos, preteridos pelo novo,
por uma promessa que não há quem meça, espécie exótica e ancestral de apostar
todas as fichas no desconhecido. Mas 2011 nem morreu ainda, vamos dar uma colher
de chá a ele, ouvir suas últimas palavras, seus pedidos, sonhos. O que 2011 projetará
para o ano que vem? Mudanças, claro! Quem não aventa extraordinárias transformações
desde que dezembro bate na porta? Seguindo a tradição, 2011 provavelmente imagina-se
realizando tudo que ficou esquecido até agora, quando janeiro vier. 2011 será outro, cuidará
melhor da saúde, quem sabe matricule-se numa academia de musculação, consulte-se com
um médico ortomolecular ou/e com uma vidente, que revele seu ascendente, que mostre
todos os dentes diante da indisfarçada satisfação do consulente. 2011 promete que buscará
outro emprego, encontrará o amor da sua vida, não empurrará nada mais com a barriga,
até porque acredita que ela não resistirá às sessões de spinning.
Quando os fogos começarem a iluminar o céu reservado ao ano que chega,
2011 exclamará:  Chega.
Acredite quem quiser.