sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

são e salvo

Coisas que vão, outras que chegam
Sentimentos vãos e os que aconchegam
Palavras vazias e as que encharcam a visão
A certeza de que ias e o desejo de ser são
A flecha que voa até pousar no alvo
A esperança que ecoa até estar a salvo

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

bebê a bordo

A gravidez de 2010 chegou
ao último mes
Muito em breve,
virão as contrações
2011 respira no útero,
está chegando a sua vez
O bebê será recebido
com promessas e canções

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

intensa mente

Querer muito e muito querer
Ambos ou, então, escolha
Desejo intenso e amar o viver
Liberte seus sonhos, não se encolha

saber é cuidar

Cuidado,
a carícia essencial
Cuidado!
Busque a justa medida
Cuidado,
a todo tempo e atemporal
Cuidado!
Acima de tudo, cuide da vida
Cuidado,
o que faz a diferença
Cuidado!
Não se esqueça de esquecer
Cuidado!
Se atrela, não compensa
Cuidado,
esteja aquecida para aquecer

domingo, 26 de dezembro de 2010

deletar, para deleitar

Para ser livre agora,

é preciso deixar ir embora

o ontem e o nunca,

sem demora.

versão 2011

Talvez perto, talvez longe
Por vezes, quieto, outras eloquente
Gesto profano, olhar de monge
Café incidental, fé frequente

Polêmico ou consensual
Paixão à mostra, mágoa esquecida
A rigor ou casual
Mas, sempre, seduzido pela vida

sábado, 25 de dezembro de 2010

centelhas de mim

Duas estrelas brilham em mim
Decoram meu rosto com suavidade
Meninas, mulheres, ternura sem fim
Demonstram que existe amor de verdade

Filhas, amigas, corações que conheço
Emoção que já veio, emoção que virá
Olhar para elas é retornar ao começo
E repito, qual mantra: Luana e Tainá

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

premência

Quero de volta
a loucura sadia
Quero a revolta
abençoada que me invadia
Quero vê-la envolta
em santidade vadia
Quero vela solta
na eternidade de um dia
Quero a reviravolta
que nada entedia
Quero-a, vira e volta
a nado, não adia

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

ao relento

As rimas,
primas entre si,
zombam dos versos
embriagados

Lágrimas,
de choro ou de rir,
tombam sobre gestos
desabrigados

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

tomara

Sempre haverá velas
para iluminar qualquer solidão
Sempre haverá sonhos
para minar aparente escuridão
Sempre haverá silêncio
para dizer o mais importante
Sempre haverá quietude
para poder seguir adiante
Sempre haverá perdão
para tornar o caminho suave
Sempre haverá sol
por fora, por dentro ou em clave
Sempre haverá chuva
para libertar o aroma da terra
Sempre haverá vida
para vencer a idiotice da guerra
Sempre haverá fim
para resgatar o novo
Sempre haverá multidões
para conduzir os desejos do povo
Sempre haverá palavras
para expressar o silêncio mais fundo
Sempre haverá você
para despertar todo o amor deste mundo

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

savoir faire

E aí?
Olhar para dentro
Menos ti-ti-ti
Aproximar-se do centro

E aí?
Camisa pra fora
Suco de kiwi
Pudores? Ignora

E aí?
Alma descalça
Mergulho em Grumari
Cruzeiro de balsa

E aí?
Expirando ar puro
Saltitando feito um saci
Uma vela iludindo o escuro

E aí?
Viajar sem mala
Uma atitude très jolie
A vida não cala

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

retrospectiva

2010, um ano arqueológico
Escavações, descobertas
Mais emotivo, menos lógico
As veias ficaram abertas

2010, um toque místico
Presságios, confirmações
Um olhar artístico
Comunidades, comunhões

2010, renascimento
O sentido da existência
O encontro, muito mais que um momento
A impaciente paciência

ao meu amor

Encontrei pétalas de afeto
pela casa
Colhi-as com todo cuidado
Voei para o futuro,
com minha asa
Pousei sobre o sonho,
acordado

Se eu pudesse...
as pétalas a teus pés espalharia...
E veja só o que acontece...
outra vez mais, eu te amaria!

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

amor juvenil

Chega, de mansinho
Corre, devagar
Vê se eu adivinho
o tempo e o lugar

Vem, de manhãzinha
Surpreende a aurora
E o sorriso, que nem vinha,
desistiu de ir embora

Feliz Natal!!

Feliz Natal a todos
Aos que seguem
e aos que não seguem
Aos que comentam e aos que
não comentam
Pois a poesia é o símbolo
da fraternidade, a linguagem
do coração, é a cara da emoção,
o retrato do amor pelas pessoas e
pela vida, unindo-as na busca da
beleza e do encontro com Deus.
Abraço afetuoso a todos vocês!

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

modinha

Um segundo de reflexão
para ouvir o que é importante
Escutar sem aflição
E, depois, seguir adiante

Dirigir o carro e a vida com calma
Descobrir no caminho o que sempre esteve lá
Cuidar do corpo, mas também da alma
Renunciar a tanto blá-blá-blá

Estar na moda é tão comum
Inovemos, recusando o igual
Andar e chegar a lugar nenhum
só cansa, mas é habitual

Reinventar a rotina
é descolar do tédio
A magia repentina
é o melhor remédio

A mudança não vem de fora
Por isso, não fique muda
Deixa a  tristeza  ir embora
E a poeira...sacuda!

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

a razão apaixonada

Você não me entenderia
Afinal, sou poeta
Há lógica na poesia?
Ou emocionar a razão é a meta?

Poetas...pessoas estranhas
Apagam a linha do tempo
Palavras expondo as entranhas
A vida inteira resumida num momento

Como é conviver com um poeta?
Sentimentos num carrossel
A alma que flutua, inquieta
Os pés plantados no céu

Ser poeta não é um ofício
Sequer uma escolha consciente
Deixar de escrever, inconcebível sacrifício
Poeta não se entende, se sente

Tema: Então, é Natal

Em minha árvore de Natal,
colocarei os nomes
que enfeitaram minha vida
Alguns já não vejo mais,
é normal
Outros trafegam em meu sangue,
qual avenida
Serão muitos os galhos,
para que ninguém
seja esquecido
Nomes novinhos
e outros antigos
Olharei a árvore
como se o tempo não
houvesse acontecido
Amigos são eternos
Mesmo estranhos,
perrmanecem amigos

Gente que brilha,
gente que apaga
da lembrança
Estrelas na trilha,
coração de criança

quase

É quase Natal
Dá pra mim, de presente, um sorriso
Mesmo sem dedicatória, não faz mal
Mas que seja de repente, sem aviso

Ora, pra isso não há hora
Esquece o tempo e o cansaço
Menina e senhora,
se assim não for, o que eu faço?

sábado, 11 de dezembro de 2010

brevidade

Levo comigo um olhar
Elevo, contigo, uma prece
Leve, contíguo, um lugar
Releve, amigo, se apresse

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

solamente su nombre

Teu nome está
no verde intocado
Teu nome está
na mística dos astros
Teu nome está
no universo apaixonado
Teu nome está
nas mãos e nos rastros
Teu nome está
na placa da cidade
Teu nome está
na página de uma história
Teu nome está
na vida e na vivacidade
Teu nome está
na curva da memória

Blogagem coletiva: como se diz: eu te amo?

De cara limpa ou insano
Ao final de um abraço ou de plano
Tocando ou carregando piano
Quem achar que está subentendido, ledo engano
É preciso, é assim que se diz: eu te amo

Às vezes penso, mas quase sempre eu chamo
Quero ouvir, se não ouço, reclamo
Cura angústia, insônia e desengano
Mesmo que não seja para mim, eu exclamo:
é maravilhoso, é assim que se diz: eu te amo

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

o sono do tempo

Tempo, não acorda tão cedo
pr'eu ficar um pouco mais com o meu amor
Tempo, me conta um segredo:
para onde você irá, se eu também for?

Tempo, sai de fininho,
enquanto enxugo meu pranto
Tempo, me faz um carinho,
me esquece, por enquanto

Tempo, me faz um favor:
me ensina a passar
como passa a dor
Não precisa ficar

Tempo, me espera lá fora
Não se afobe comigo
Mas, se você for embora,
saiba que sou seu amigo

simples assim

Luz branda e indireta
Chuva chovendo lá fora
Coisas bem naturais na dieta
Nenhuma vontade de ir embora

Música que enternece o coração
Luar maior que o próprio céu
Ser fisgado por um olhar, sem arpão
Beijos e abraços ao léu

Corrida pertinho do mar
Incenso cuidando do ambiente
Papo gostoso pra conversar
Tempo que passa e a gente não sente

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

pausa

Pé na jaca ou pé no freio
Esperar que chegue ou carnaval o ano inteiro
Chutar o balde ou chutar pra fora
Aturar calado ou ir embora
Dar sopa ou colher de chá
Café sem açúcar ou maracujá
Dormir de toca ou sair da toca
Malabarista ou brincar com foca
Botar pra quebrar ou embotar a mente
Somente ser ou ser semente

imaginação

Simplesmente, imagine
Pule o fosso da letargia
Escreva algo e assine
Faça como você fazia

Imagine a simplicidade
Voe além da noite e do dia
Exerça toda a naturalidade
Mostre a alma que o medo escondia

até

Beije, até cansar
Mas pode ser que não canse
Ame, até casar
Mas pode ser que não case

Trabalhe, até morrer
Mas, até lá, viva também
Cante, até amanhecer
Mas encante a vida de alguém

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

veleidade

Numa noite cheia de estrelas,
descobrimos o sol aqui embaixo
Agora, não consigo vê-las
Procuro o sol e não acho

Num dia cheio de nuvens,
trocamos verdade por vaidade
Lá fora venta e tu vens
catar saudades no riacho

à vontade

Diga o que tiver de  dizer
Não se poupe, seria besteira
Siga o vento, não precisa correr
Mas invente, crie, de qualquer maneira

Reverencie a irreverência
Revele a finitude da eternidade
Confidencie a inconsciência
Experimente sua própria vontade

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

escada

És cada degrau que me eleva
És cada grau que me sua
És cada nau que me leva
És carnaval toda nua

És cada pão que alimenta
És cada vão que emoldura
És cada não que atormenta
És cada grão que me cura

sábado, 4 de dezembro de 2010

Deus, sempre novo

Que novidades desejamos para o ano?
Um pouco mais de fraternidade,
um pouco menos de desengano
ou a vida com muita dignidade?

O que será novo em dois mil e onze?
Uma mulher presidente,
ouro virar bronze
ou a mesmice dissidente?

Mudará o que no ano que vem?
Outra obra inaugurada,
a chegada de um neném
ou correr de madrugada?

Que o novo ano seja feliz!
Acredite, que é possível
realizar seu sonho, por um triz,
seguindo pelo caminho invisível

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

será

Dentro do bolso, sinceridade
Fora de si, em torno do sonho
Diante dela, incredulidade
Longe da história, risonho

À flor da pele, emoção
Em águas profundas, serenidade
No inverno da ausência, razão
No verão da constância, intensidade

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

zen pressa

Estou em mim
Respirando meu agora
O início, enfim
Ansiedade, vai embora

Excessos de partida
Gesto compassado
A calma, agradecida,
cochila ao meu lado

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Vigília

Beijos esquecidos na própria boca
Remendos de palavras na mão
Delírios de uma alma muito louca
A paz capaz de sentir paixão

Endereços e datas inúteis
Trilhos e filhos sem dono
Motivos e esquecimentos fúteis
Vigília caindo de sono

sagaz

Em minha boca, um cartaz:
cuidado - correnteza!
Repudio o tanto faz
Tripudio da certeza

Fecha a boca, como a noite faz
Mantenha nela somente tuas palavras
Arredia e contumaz
como as fugas que lavras

terça-feira, 30 de novembro de 2010

prefácio

Chuva acariciando o travesseiro
Sol à espera da cortina abrir
Palavras sedutoras, com caneta tinteiro
E o passado sorridente que há de vir

Cheiro de terra molhada
Sonata de pássaros ao amanhecer
A colcha toda arranhada
pelas peles, sem doer

Mistura de promessas pela casa
Frutas e pão quentinho à espera
Esperança que transborda da taça
Flores que enfeitam o caminho dela

de caixas e gaivotas

Hoje, ao acordar,
sonhei que estava ao seu lado
Entregava-lhe uma pequena caixa,
com tudo que é seu, de volta

Hoje, ao ancorar,
surtei, pois estava alado
Travegava sobre a cidade baixa,
sem tudo que é meu, gaivota

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

caos calmo

Onde está o grito?
Pois a dor está às claras
De tanto nojo, quase vomito
Que se soltem as amarras

Onde está o grito?
Escândalos banalizados
Ninguém se toca, se me irrito
Pudores anestesiados

Onde está o grito?
Se meu clube entrega um jogo
Nada mais do que um rito
O torcedor se faz de bobo

Onde está o grito?
Carros e valores em meio à chama
Eu quase não acredito
Somos tratados como idiotas e ninguém reclama?

Onde está o grito?
Liberdade e respeito algemados

Fica o dito pelo não dito
E corações apostam corrida, acelerados

Onde está o grito?
É uma aventura sair às ruas
O medo está aflito
Onde sepultaram as razões, as minhas e as suas?

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

histórias e estórias

Há muitas maneiras
de contar uma história
De olhos fechados,
abrindo a memória,
de coração aberto,
enquanto a alma chora

Há muitas maneiras
de ouvir uma história
Saltando para ela
ou fugindo à glória
Abrindo a janela ou
esquecendo lá fora

Há muitas maneiras
de escrever uma história
Vertendo a verdade,
sem medo de nada,
ou transformando a metade
num conto de fada

redundante

Não sei se foi ontem demais
Ainda sinto o aroma nas mãos
Não estou certo se serei capaz
de catar todos os grãos

Palavras caíram do colo,
mergulhando em desamparo total
Se mentes surgiram no solo
Ousadias estarão no varal

Já não tenho qualquer pretexto
para ver ou me aproximar
Pouco importa se está no contexto
simplesmente esquecer de lembrar

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

qualquer dia

Visite o que fomos
Primaveras, outonos
Descobertas a céu aberto
Jardins em pleno deserto

Incite o que somos
Abandone abandonos
Descubra que não é errado nem certo
Basta sentir-me por perto

domingo, 21 de novembro de 2010

sem legenda

Se no coração há neve, never
Lembrança esquecida
Mas se deve, é dever
A vida revida

Se perde de vista, reinvista
Fotografia sem grafia
Mas se quiser mesmo, persista
Desafinado desafia

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

(agri) cultura

Plantem pés de oportunidade
Perto do mar, longe do asfalto
Que seus frutos cresçam, com vontade
E sejam distribuídos, sem sobressalto

Observem os poderes do produto
Sem contraindicações e barato
Vazios  ficarão os vãos do viaduto
Além de arroz e feijão, esperança no prato

terça-feira, 16 de novembro de 2010

um dia qualquer

Vento dobrando esquinas
Blues multiplicando azuis
Gaivotas brincando, feito meninas
Um vago sorriso, que intuis

Imagens misturadas à poeira
Estrada que engole o horizonte
Desejo que se come pela beira
Água que escorre pela fronte

Pedaço de qualquer coisa pelos ares
Datas espalhadas pelas malas
Labirintos transformados em lares
E um silêncio persistente que não calas

Luzes que renascem pouco a pouco
Cera que escorre pela vela
A dança do destino, feito louco
Créditos derramados sobre a tela

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

no more

Não esconda. Onda!
Não reprima. Rima!
Não reclame. Ame!

Mais que perdoe. Doe!
Mais que junte. Unte!
Mais que procrie. Crie!

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

les questions

Culpa? Não me serve para nada
Ciúme? É como o carro tentar possuir a estrada
Maldade? O sofrimento que se reparte
Saudade? Quando o desejo é só metade

Dor? O grito do corpo e da alma
Medo? Quando a ansiedade perde a calma
Fuga? Correr levando junto
Mágoa? O vazio cavando fundo

Vida? Não existe nada melhor
Morte? Se for em vida, é bem pior
Indiferença? O coração sem cor
Amor? O melhor de tudo, seja lá como for

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

eterno retorno

Pra te ver sorrir
 
caço pipas e estrelas

onde caiam, só pra vê-las...

pra te ver sorrir


Pra te ver sorrir

cato ripas de madeira

queimo o frio na fogueira...

pra te ver sorrir


Pra te ver sorrir

calço nuvens bem macias

percebendo que dormias...

pra te ver sorrir


Pra te ver sorrir

calo tudo que não seja

ternura e gentileza...

pra te ver sorrir


Pra te ver sorrir

caibo em tua fantasia

faço amor e poesia...

pra te ver sorrir
 
 
ps: ei-la novamente, leia, novamente.

grão

Te liguei para dizer coisas amenas,
erroneamente pequenas,
que caibam no coração.

Tomara que passe a tempestade
e persista a vontade
de irrigar esse verão.

Não importa o quanto doa,
nem que tudo seja à toa...
o verdadeiro sonho é vão.

aqui e agora

Aqui é meu lugar
Agora é o que sou
Aqui bem perto do mar
Agora nem sei onde vou

Aqui não há endereço
Agora é tudo que tenho
Aqui é onde lembro e esqueço
Agora eu vou e venho

Aqui a onda se deita
Agora a dor não existe
Aqui a saudade espreita
Agora nem a tristeza é triste

Aqui o relógio espreguiça
Agora o passado sumiu
Aqui a janela enfeitiça
Agora a ansiedade fugiu

muito além

Cante para mim
a melodia imortal
Conceda-me
o impossível mais normal
Prepare em teus olhos
o melhor olhar
Amanheça meus sonhos
sem tardar
Vista minha alma
com tua elegância
Embriague meus descaminhos
com tua fragrância
Aceite meu silêncio
como trégua fecunda
Embale meu segredo
com a ternura mais funda
Esqueça meus erros,
bem como as conquistas
Compreenda as visões
que jamais foram vistas

ias

Vontades...discrepantes, distantes...vontades
Voam as tardes...discretas, pensantes...tardes

Desejos...iluminados, alucinantes...desejos
Desertos azulejos...coloridos, doloridos...azulejos

Fantasias...abençoadas, abandonadas...fantasias
Fantásticas alegorias...alegres, celestes...como disseste que ias

a vida em postas

Leite derramado
que escorre na rua,
sob a lágrima
que seu olho sua

Amor esquecido
debaixo da porta,
ao lado da notícia
que a chuva recorta

Diante da imagem
que o espelho não gosta,
escreve a ti mesma
e espera a resposta.

sábado, 6 de novembro de 2010

Decisão

As escolhas definem nossas vidas
Destinos ou desatinos
Buscas ávidas ou bruscas dívidas
Saltos diminutos ou de felinos

Optar é escolher e refutar
A cada gesto, algo fica pra trás
Definitiva é somente a vida, enquanto pulsar
Transitória é a semente escondida pelo tanto faz

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Difer(ente)

Ser igual é perder-se num labirinto
Singulares somos todos,
querendo ou não
Não adianta afirmar o que não sinto
Prefiro o primado do coração

Sou igual e diferente de mim mesmo
A cada instante, desço numa estação
Eu me recuso a ser a esmo
e a repetir o que já foi dito,
em primeira mão

ps: moção de apoio ao texto "Easy", ensolarada reflexão dos Dias genéricos

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Dever de casa

O quadro até mudou de cor
A lição é de sociologia, história ou piano
A turma muda quase todo ano,
mas o ideal é o mesmo, seja lá como for

Poucos sabem o trabalho que há
em preparar cada novo ensinamento
Tanta leitura, pesquisa, o dia quase não dá
Respira e transpira teu ofício, a cada momento

Cuidado com a voz e com o gestual
Despertar em cada um o que tiver de melhor
Cuidar, afinal, é teu dom e prazer pontual
E os motivos para te homenagear, a gente sabe de cor

ps: amanhã, 15 de outubro, comemora-se o dia dos professores.
      Para quem dedica uma vida inteira à formação de tantos destinos,
      em meio aos desatinos da sociedade de consumo, uma singela homenagem,
       daqui do fundo da sala e do fundo do meu coração.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

longe e perto

O que separa os opostos?
Um ponto de vista,
um sinal sobre a pista
ou olhares superpostos?

O que aproxima os inconciliáveis?
As cartas misturadas,
as razões embriagadas
ou circunstâncias improváveis?

terça-feira, 5 de outubro de 2010

acabá-la

Meu sonho é uma sílaba,
é travessa que remete
Meu delírio é fábula,
atravessa e se intromete

Dias misturados às noites
Sussurros que sentem frio
Minhas saudades são açoites
E o bálsamo eu mesmo crio

Vertigem na cabala
Insônia adormecida
Silêncio que não cala
Chegada sem partida

terça-feira, 21 de setembro de 2010

aqui e agora

Aqui é meu lugar
Agora é o que sou
Aqui bem perto do mar
Agora nem sei onde vou

Aqui não há endereço
Agora é tudo que tenho
Aqui é onde lembro e esqueço
Agora eu vou e venho

Aqui a onda se deita
Agora a dor não existe
Aqui a saudade espreita
Agora nem a tristeza é triste

Aqui o relógio espreguiça
Agora o passado sumiu
Aqui a janela enfeitiça
Agora a ansiedade fugiu

terça-feira, 14 de setembro de 2010

pra quem fica

Eu choro à toa
Eu perco o rumo
Meu solo voa
Teu colo é meu prumo

Se me afronta,
esqueço agora
Não me encontra
quem foi embora

Eu levo em conta
quem me consola
Seguro a onda
A alma adora

quero e espero

Eu quero
descobrir o que não escondes
Eu quero
desdobrar cada esquina da infância
Eu quero
recobrir tua pele de desejos insones
Eu quero
recobrar teu fulgor, com elegância

Espero
desculpar toda imperfeição
Espero
descolar o passado de mim
Espero
esculpir o melhor carinho em minha mão
Espero
decolar rumo à ventura sem fim

doar e doer

Doe
sangue, a quem precisa
Doe
um sorriso, assim, de graça
Dói
o desamor, o coração avisa
Dói
a estupidez, mas a caravana passa

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

puro e simples

Purificar
o corpo, com alimentos vivos
Purificar
a mente, com pensamentos leves
Simplificar
a alma, com sentimentos sem crivos
Simplificar
o espírito, com retiros breves

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

tantas e poucas

Calo, para ouvir seu coração
Colo, para adormecer seu cansaço
Corro, sempre em sua direção
Morro, de saudade do seu abraço

terça-feira, 31 de agosto de 2010

descalça

Minha alma anda descalça,
quer sentir o frio e o calor
Minha alma despreza palavra falsa
e prefere ardor a dor

Minha alma não tem endereço,
ela não mora, ela namora
Minha alma não tem preço
Mesmo calma, ela chora

Minha alma é agitada e serena,
é irresignada e mutante
Minha alma é plena
de descobertas, a cada instante

Minha alma não é candidata,
ela ama a liberdade
Minha alma é autodidata,
aprendeu o que é a saudável saudade

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

o par

O que é amar uma mulher?
A fonte do prazer?
Fazer o que quiser?
Ou  conhecer a fundo o outro ser?

Você já amou
verdadeiramente
uma mulher?
Mas amou por inteiro?
Amou, apenas, como ama o diinheiro?
Ou descobriu que não era um capricho qualquer?

Você deseja amar
uma mulher?
Prepare-se para enfrentar
seu medos
Desista de inventar segredos
E, sobretudo, aprenda a sentir mais,
haja o que houver

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

retratos

Sou tudo que há em mim:
livros e revistas,
jazz e jasmim,
aviões e suas pistas

Sou tudo que assimilei:
fórmulas mágicas,
tantos rostos que nem sei,
lembranças atávicas

Sou tudo que esqueci:
a hora do parto,
o amor que perdi,
o primeiro quarto

Sou tudo que fui:
o filho do pai,
a razão que intui,
a lágrima que cai

Sou tudo que serei:
o pai de mim mesmo,
o amor que desejei,
certezas a esmo.

sábado, 21 de agosto de 2010

precisão

Precisa-se
de marneceiros,
que produzam almas móveis
Precisa-se
de engenheiros,
que construam esperanças
Precisa-se
de advogados,
que defendam a utopia
Precisa-se
de obstetras,
que façam o parto da luz
Precisa-se
de odontólogos,
que extraiam a maldade
Precisa-se
de mágicos,
que distraiam o pessimismo
Precisa-se
de chefs,
que tenham a receita do perdão
Precisa-se
de faxineiros,
que limpem as mentes poluídas
Precisa-se
de adultos,
que saibam brincar
Precisa-se
de tempo,
para poder perdê-lo, sem culpa
Precisa-se
de silêncio,
para ouvir a voz do coração
Precisa-se
de muito pouco,
para entender que tudo o mais é supérfluo.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Sol

É manhã,
não é tarde, ainda
Todas as promessas
estão no varal
Há maçã
sobre a relva, linda,
em meio às conversas,
em alto astral

A chuva mudou
de destino
Despediu-se do Sol,
ao bater a porta
A uva murchou
a fome do menino,
que pediu um anzol,
pois Inês não é morta.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

celebração

É tão bom
Insensatez, com o Tom
É tão bom
Apoteose, Luana, Tainá, Elton John
É tão bom
da natureza ouvir o som
É tão bom
sentir vontade e comer bombom
É tão bom
dizer bom dia, sem perder o tom
É tão bom
chegar pertinho e sentir frisson
É tão bom
não comer mais filé mignon
É tão bom
fazer amigos, não perder o dom
É tão bom
admirar teus lábios, mesmo sem batom
É tão bom
ver nascer o dia, em azul neon
É tão bom
descobrir o encanto de Saigon
É tão bom
relembrar o primeiro Chicabon
É tão bom
paz, peace,paix, salaam, shalom

terça-feira, 17 de agosto de 2010

retrovisor

Nunca tive catapora
Não sou amigo do rei
Ofereço um abraço a quem chora
O sapo, não fui eu que enterrei

Eu era bem magricelo,
não comia direito
Não sei tocar violoncelo,
mas a vida me toca com jeito

Até fui bom de bola,
de tanto driblar confusão
Não aprendi na escola
o que tenho na palma da mão

As palavras, fiéis companheiras
nunca me deixaram sozinho
Mesmo nas brincadeiras,
sempre fazia um versinho

Paixão pulsando nas veias
Os pés correndo no chão
Escapando de tantas teias
Aprendendo a dizer não

Trocava tanto de casa,
que esquecia o endereço
Mas poucas vezes confessava
como era caro aquele preço

Um dia, quebrei um dedo
e o corpo inteiro doeu
Eu fiz o meu próprio brinquedo
mas, depois, esqueci quem me deu

uma temática

Folha murcha
é adubo
Papel passado
é documento
Serenidade
é fé ao cubo
Eternidade
é um momento

Pintar o sete
é travessura
Deitar o oito
é infinito
Endurecer,
mas com ternura
O mar afoito
é tão bonito

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

quebra cabeça

Perder o juízo,
para achar o caminho
Juntar as peças,
ao quebrar a cara

Se for preciso,
tocar no espinho
Retomar conversas,
deixar a alma clara

Em Deus acreditar,
mas fazer sua parte
Mais do que sonhar,
viver com arte.

domingo, 15 de agosto de 2010

o tato sem teto

O corpo tem
a nossa biografia
Rusgas e rugas
Silêncio e folia
Vitórias e fugas

Em meu território,
desenhos imaginários
Iniciais ou por extenso
Personagens lendários
O que sinto e o que penso

Nesse continente,
há ilhas inexploradas,
de clima quente
e areias temperadas

sábado, 14 de agosto de 2010

desenhando o caminho

Amanheci
com todas as manhãs
que há em mim.
Te conheci
com a casca de avelãs
ou algo assim

O ponto G
é de grito?
Ou, pra você,
é só um mito?

Quanto te custa
envelhecer!
É porque te assusta
ver tudo morrer?

Esqueça a dor
que a vida traz
Desenhe o que for,
sem olhar para trás

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

descompasso

Dê-me seu silêncio
Será guardado, como lembrança
Ele é o resumo de nós dois

Leve sua ausência
Ela pesa demais aqui
É o sumo dos nós

Mede a distância
que separa ontem de hoje
Verá passado demais

Vele a vontade
contida, em segredo
Descompassado, o coração trovejará

Contemporaneidade

Este mundo está muito louco
Lógica de cabeça pra baixo
Só queria entender um pouco
Procuro uma razão e não acho

Ficha limpa: é pra valer?
Mulher apedrejada
Paraíso fiscal pro pecado esconder
Pedras que não constroem nada

Celebridade sendo presa
pelas presas da fama
Criança indefesa
maltratada por aqueles que ama

Moradias, em meio ao lixo,
rolando a ribanceira
Político prolixo
enrolando a vida inteira

E até a seleção,
que alegrava um pouco a gente,
trafegou na contramão
de uma idéia indigente

Palestinos e judeus,
iraquianos e afegãos,
acreditam que há um deus
que justifique matar irmãos?

Em meio a tanto horror,
nem tudo está perdido
A esperança está no amor,
que está vivo, mesmo ferido

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

ao léu

Esse é para nós dois
O que foi dito
e o que ficou pra depois


Lembra daquele foto?
A saudade que não muda,
com controle remoto

Dois olhares que convergiam
Os lugares, os luares que aconteciam

Nadar é a ação do nada?
A singularidade perdida é "ex cada"?

Escapa-me das mãos
o suor, em grãos

Restituo a ti
tudo que, em mim,
sem saber,
escondi

Palavras soltas,
ao léu,
que voam aqui
 e no céu

o tao da saudade

O sal da terra,
que adoça a plantação
O mal da guerra,
que aguça a solidão

O tao da física,
de princípios parecidos
A tal da música,
que forma pares em meus ouvidos

A nau do tempo,
que naufraga no oceano da eternidade
A mão do vento,
que afaga você, no plano da saudade

terça-feira, 10 de agosto de 2010

a lagarta e a escolha

Estamos dormindo ou acordados?
Em movimento ou ancorados?
O que é real?
Ver o que poucos vêem é anormal?

Já esperei, sem receber
Desesperei, de tanto querer
Mas, também, frustrei a espera
de quem acreditou que seria, mas não era

Estamos juntos ou separados?
Conseguimos cumprir os tratados?
Realidade é questão de escolha
Para cada lagarta haverá uma folha

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

a tez da vida

Assombrosa
a insensatez
dos caminhos adversos

Amorosa
é a tez da manhã,
em céus diversos

És tão rosa,
por teus femininos
universos
 
Mentirosa
é a morte.
Vida à vida,
em prosa
e versos.

sábado, 7 de agosto de 2010

caminhos e carinhos

Capixaba carioca,
índia que não mora na oca

Goiana mineira,
medita à sua maneira

Paulista, do ABC,
três palitos e faz acontecer

Pernambucana, cabra da peste,
poucas palavras disseste

Do outro lado da ponte,
não há pudor que desponte

A tia que História ensina,
e aí? o que tem poder sobre ti, menina?

A moça de desejos incertos,
que mantém seus caminhos abertos

Eis aqui sutil homenagem
de um caminhante, que pede passagem

leveza

Há mortes pequenas
e outras maiores
Há vidas apenas
e vidas piores

Há cortes que, pasmem,
nos deixam melhores
A longa viagem
com bagagens menores

ps:  que sorrisos ensinem
       o que as dores não sabem

       e, ainda que tuas torres desabem
       e  mesmo que chores,
       ores, ores...

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

aliterando

Calo...
somente nos pés
Falo...
tem tanto viés
Caio...
Abreu, que os olhos abriu
Falho...
tantas vezes, mais de mil
Ralo...
o cheiro que invade
Raio...
a luz da verdade

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Trilhas

A chuva fina
desenha trilhas
de estrias
na vidraça.
Quem sabe,
ela sua, somente.
Ou será sua mente
que, suavemente,
mistura a chuva,
que passa,
no vidro, que embaça,
e na gente?

Tears e teares

Choro as lágrimas alheias

Rechoro, até explodirem minhas veias
Eu me debato, como em teias
E me desato, quando incendeias

Acredito na emoção pura,
que sacode todo o meu ser
E me protejo na luz escura
Mas apareço, sem parecer

Estremeça, não meça
Peça, não impeça
Aqueça, não esqueça
Inflame e ame

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

6 de março

Deslizo nos degraus
do que não é,
sem usar o corrimão

Não canso de nadar
contra a maré,
trafegando em contramão

Meu aconchego
está em mim, é minha fé,
sem padre ou sacristão

Mas quando chego
ao teu redor, arredo o pé
de todo descaminho,
nem sinto o chão.

solilóquio

Troco palavras por abraços
Corto despesas e caminhos
Toco nas curvas, sem cansaços
Corro nas nuvens, os meus ninhos

Torto o meu desejo, sinuoso
Oco o meu grito, não ecoa
O troco da ilusão é perigoso
Torço para o vento, enquanto voa

quinta-feira, 29 de julho de 2010

carta ao espelho

Leite derramado
que escorre na rua,
sob a lágrima
que seu olho sua

Amor esquecido
debaixo da porta,
ao lado da notícia
que a chuva recorta

Diante da imagem
que o espelho não gosta,
escreve a ti mesma
e espera a resposta.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

equilíbrio?

Por vezes,
há mais relógio que horas,
menos trovão que raio.

Acontece
de eu não perceber que demoras,
levo um tropeção, mas não caio.

a flor e o espinho

Quero o impossível
Abraço a improbabilidade
Vejo o invisível
Desprezo a fatalidade

Sou surdo aos argumentos
que justificam a covardia
Explodo em sentimentos
e renasço todo dia

Não se orgulhe da dureza,
que engessa sua vida
Não abuse da certeza,
liberte-se para a dúvida

Orgulho excessivo?
Previsível seu caminho:
desenlace compulsivo,
pouca flor e muito espinho

terça-feira, 27 de julho de 2010

4x4

Calma? Sem calmante.
Alma?  Corpo errante.
Cama? Sempre amante.
Carma? Atenuante.

dia e noite

No dia do meu aniversário,
me dá um sorriso de berçário.
Na noite mais bonita,
ressuscita a minha sede com uma lágrima bendita.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Você, a preferida

Lança                   a ferida
Balança                 aferida

Redução                referida
Dedução                inferida

Amortização          conferida
Ação do amor       deferida

sábado, 24 de julho de 2010

música em você

Tu és
veleiro em noite clara

Tu és
a Lua sob o lençol

Tu és
mistério que se declara

Tu és
silêncio em si bemol

sexta-feira, 23 de julho de 2010

vôo livre

Dispenso a toalha,
prefiro o ar
Que a água escorra,
que a morte morra,
voar, voar

Propenso à claridade,
indefiro a treva
A terra não tem idade,
a rocha não tem saudade,
invade, invade

quinta-feira, 22 de julho de 2010

o que soul

Sou novamente antigo
Eu sou a maré
Eu sou pão e sou o trigo
Sou mais que isso, até

Sou a chama que se acende
Eu sou o lampião
Sou o que você não compreende,
mas não sou em vão

Sou a beira do caminho
Eu sou a voz do vento
Sou a embriaguez do vinho
e a lucidez que invento

Soo como soa o sino
Suo sua procura
Sou também seu desatino
e o seu bem sem cura


Sou a fresta da estrada,
que convida à mudança
Soul e blues na madrugada
Sou o som que te balança.

roteiro de viagem

Passeio por mim,
qual turista.
Perambulo pelos
escombros das lembranças,
navego pelas lágrimas
sem legenda,
ancoro em certos sorrisos
incertos.
Tropeço em datas,
sem cair,
ajeito a gravata,
que não uso mais,
descalço o sapato
antisocial,
desleio a agenda
e dobro a esquina,
em cinquenta e cinco pedaços.

terça-feira, 20 de julho de 2010

"mesmo esquecendo a canção"

Amizade
é café com sentimento,
é banquete na calçada,
é fé, consentimento
para tudo ou quase nada.

de novo

Remexe meu sono
Acorda meu dia
Floresce no outono
Entorna poesia

Distrai meus enganos
Brinca comigo
Refaz os teus planos
Esquece o umbigo

Me dá tua mão
Me conta um segredo
Aquece o pão
Esfria o medo

sábado, 17 de julho de 2010

probabilidades

Se titubeio, bobeio
Se invisto, creio
Se exagero, edito
Se pondero, medito
Se adio, adios
Se deposito, depois
Se exito, dou nós
Se êxito, nós dois

sexta-feira, 16 de julho de 2010

ego

Desen(canto)
Desap(ego)

Des(pedida)
Des(proteção)

A voz do ego
pedindo proteção?
Prefixo que renego
dizendo sim ao coração?

suposição

Se trai o sofrimento,
retrai a retirada,
subtrai todo o lamento,
contrai o tudo e o nada.


Se traz o sentimento,
detrás  da ansiedade,
distrai meu pensamento,
atrai minha saudade.

retoque

Requentar?
Esquentar é bem melhor.

Rejeito?
Gosto mesmo é do teu jeito.

Receios?
Prefiro os  teus seios.

Retorno?
Recomeço do transtorno?

Revolta?
Só se for outra volta.

Recolher?
Pra acolher melhor o fruto.

Refugas?
Melhor fugir das fugas.

Retira?
Antes isso, que mentira.

Reparto?
Nascer de novo.

Recato?
Recolho e te entrego.

Renego?
Reafirmar a negação?

Remar?
Navegar em outro mar.

Revide?
Olhar, de novo, e ver melhor.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

quem?

Quem é você,
que chega de mansinho
e depressa faz seu nome
decorar o meu caminho?

Quem é você,
sobre a cama que flutua,
que me faz perder o chão,
decolando rumo à lua?

Quem é você,
que me rouba os sentidos,
mas me torna mais sensível
aos meus sonhos escondidos?

sax

Espalhe jazz por toda a tez
Saque seu fone e diz assim,
em dó maior, o que a fez
amanhecer tocando em mim.

também

Início do amor,
no final do dia,
sorrisos reunidos,
clima de euforia,
me faz bem!

Cheiro de delícia,
vindo da cozinha,
ausência de malícia,
você sorrir sozinha,
me faz bem!

Chico e Tom Jobim,
inventar um jogo,
você perto de mim,
gol do Botafogo,
me faz bem!

Descrever estradas,
escrever poesia ,
sair por entradas,
sentir a maresia,
me faz bem!

Jogar futebol,
fazer gol,
ver o por do sol,
descobrir quem sou,
me faz bem!

Falar de amor
e filosofia,
driblar a dor,
confiar em quem confia,
me faz bem!

Gargalhada boa,
a qualquer momento,
e ficar à toa,
sem arrependimento,
me faz bem!

Ser o que proclamo,
cuidar da saúde,
abraçar quem amo,
tanto e amiúde,
me faz bem!

quarta-feira, 14 de julho de 2010

chuva

As ruas amanheceram lavadas,
o azul pelo ceú esquecido,
desliza suor nas encostas

Noite e manhã, meninas levadas, 
brincando e soprando no ouvido
palavras travessas, que tanto gostas

terça-feira, 13 de julho de 2010

confesso que vivi

Já chorei
Já sofri
Jacaré,
eu já vi

Já fui rei
Fui saci
Jaca, né,
já comi

Já casei
Grande amor,
eu vivi
Bom te ver,
bem- te- vi

Te esquecer?
Esqueci
Ao escrever,
revivi

a cor da solidão

Tem gente que machuca gente,
agente do desamor.
Há quem machuque a gente
e não suporte a própria dor.

Indiferença é solidão, 
uma casa muito escura.
Diferente é compaixão, 
experimente, é sua cura.

brincadeira de roda

A vela, pra iluminar
Há vela, pra ir pro mar
Revela, pra cedo ir
Revê-la, pra seduzir

A veia, para sangrar
Aveia, para nutrir

A teia, para a aranha
Ateia, pra incendiar
 
Areia, sem arranhar
Arreia, pra cavalgar

A terra, para plantar
Há Terra, para salvar

Halteres, pra exibir
Alter ego, pra ocultar

A ceia, pra reunir
A seita, pra dividir
Aceita, pra eu sorrir

Avenca, pra harmonizar
Avença, pra aproximar

Me vença, pra eu ganhar!

Ah! venha, pra eu te amar!

café com (de)leite

Café misturado ao beijo
Sabor de menta e desejo
Doce o sal da saliva
A pequena morte é viva
Meandros da tua alma,
que provo e aprovo, com calma 
Escafandros a caminho,
para mergulhar em meus medos
sozinho
Eternidades de qualquer tamanho
em abraços que dou e que ganho
Pegadas do doce e louco desejo
no café, na saliva e no beijo

Sonho real

Sair pelas ruas cantando

Ouvir       o    vento        falar  

Nuvem      tocando   a    pele

Hiato entre o medo e o agora

Ondas   de     paz       matinal

bom dia

Ainda dormes.
Movo-me, de mansinho,
pois teus sonhos
ainda vão espreguiçar.

Peço que me informes
mas, de todo modo, eu adivinho,
se é melhor um beijo
ou um raio de sol,
ao despertar.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

enfim

Não voltarei atrás,
pois os passos já passaram
Seguirei em frente,
até estar de frente a mim

O que será fugaz,
se as fugas terminaram?
Um meditar contente,
atestar que me encontrei, enfim!

a luz do desejo

Meus olhos estão nas mãos,
enxergo pelo tato,
sua boca em meus desvãos,
meu pudor perde o contato.

Luz acesa, quarto escuro,
me procuro e não me acho,
em seus cabelos me seguro,
o desejo enche um tacho.

contratempo

E se o tempo parasse,
de repente?
Para onde iria a pressa?
E você, o que faria?

Mas se as horas corressem,
loucamente,
até a dor passaria depressa.
Mas a vida toda só seria...um dia.

domingo, 11 de julho de 2010

para sermos

Deixo, sobre a calçada,
junto ao leite e ao pão,
meia dúzia de intenções.
Assim, com a alma lavada
e a esperança na mão...
mas sem sermões.

sábado, 10 de julho de 2010

o som da soma

S  etembro, para os cabelos
O  ásis, para os olhos
M  adrugada, para a boca

A  lma, para o corpo inteiro

eu e os outros

Imaginei reunir
todos que já fui:

a criança, o rapaz...
Deixar fluir
o que sopesa e o que intui,
serei capaz?

Descobri, contudo,
reunidos já estão,
eloquente ou quase mudo,
eu sou muitos, eles não.

desvendar

A paixão, em mim, não é hormonal,
não chegou agora, ela vem de longe.
O que me eriça a alma, não é o normal,
é o que transcende, mas não sou monge.

Kerouac, Nietzsche, Jobim,
terra molhada, amendoeira, maio, quintal,
breve resumo de mim,
sem vendas...lual...vendaval

sexta-feira, 9 de julho de 2010

copa e cabana

Que fazer com o pior
que há em nós?
Para debaixo do tapete varrer
ou tentar desatar os nós?
Almas miseráveis
vivem até em castelos
Qual será a origem
de tamanhos flagelos?
Ídolos de barro,
que convidam ao precipício
Concebidos, escondidos,
abandonados desde o início
Dizem que a seleção
é a pátria de chuteira
Mas o simples cidadão
anda descalço a vida inteira.

manhã da noite

Eu te entrego
as estrelas
que a noite
esqueceu de levar.

Eu me entrego
às estrelas,
para que, à noite,
você me veja brilhar.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

eu e ela

Partam minha alma ao meio,
olhem bem, sem receio...
estrelas, do céu e da terra,
um choro sentido,
uma longa espera,
palavras pingentes, no ouvido,
um garoto magrinho,
caminhando sozinho...
é o que verão.

Partam minha alma em pedaços,
mas é preciso escutar...
um suplicar de abraços,
rimas, amor e o mar,
um refazer infinito,
indecifrável o grito..
é o que ouvirão.

Partam, deixem a alma comigo,
serei dela o abrigo,
e ela, minha porta de entrada.
Ela, que mal adivinha
onde vai dar a estrada.
Minha alma... é tudo que sou...
e mais nada.

mu dança

Musicar conforme a dança,
ir com poucas,
não com as outras,
ser Quixote e Sancho Pança

Intolerância e abandono,
lágrimas que ninguém vê.

A esperança não tem dono,
se entrega a quem nela crê.

Por que?

Por que
tanta violência contra uma pessoa?
Por que
não se importar com o quanto doa?
Por que
o desprezo pela vida?
Por que
mesmo preso, não se intimida?
Por que
falar em Deus, se há tanta cobiça?
Porque
feminina é, também, a palavra justiça

ps: o texto é um libelo contra toda e qualquer violência contra a vida.

vamos

Vem
mudar a minha rima
Vem
desarrumar meu pensamento
Vem
confundir minha retina
Vem
desatinar o algoz que invento


Vou
desarrumar minha rotina
Vou
desafiar seu sofrimento
Vou
mudar a sua sina
Vou
confundir a voz do tempo

presentes bem passados

O tempo passeia por mim,
tira fotos, sem negativos.
Há tempos, desconfio do fim,
e tenho lá os meus motivos.

Coleciono presentes,
sem amarrotar.
Assim passados,  futuramente,
terei presentes pra dar.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

breve

Saudade é coisa estranha,
quanto mais, quanto menos...
é falta, é ausência tamanha,
é presença do que tivemos

sempre(ssa)

Entrar em seus domínios
não é algo premente,
é preciso que a gente
se penetre...no olhar

Sair de tua órbita,
tem que ser com calma,
até que tua alma
comece a exorbitar.

Lavoisier

Amor não se cria,
não se apropria
Amor não se perde,
nem se impede
Amor se transforma...

Amor  não tem dono,
nem sente sono
Amor não tem cura,
nem se mistura
Amor não tem norma...

Amor é da gente, 
onde tudo começa
Se palavra somente,
acaba depressa.

terça-feira, 6 de julho de 2010

atração

Garoa e temporal
criadora e criação
amorosa e sensual,
magnética atração

Faça acontecer,
não espere nem um dia,
disfarça, se eu morrer,
faz de conta que eu nascia.

simplicidade

Amor,
vem me tirar os medos
Amor,
vem me tirar dos trilhos
Amor,
vem me contar segredos
Amor,
vamos juntar os brilhos

Amor,
nem que seja por um tempo,
vamos ouvir o vento,
desperdiçar a dor...
Amor,
vem me trazer sabor.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

o poder das palavras

Escrevo o que sinto
sem códigos ou senhas,
deito e afrouxo o cinto,
inspiração, que me tenhas.

Falo, sem mentira,
e espero que me entenda,
o que, de mim, ouvira
é eterna oferenda.

motim

Sou tantos, em mim...
palavras soltas,
a surpreender...


Há santos, em motim...
em mil revoltas...
pra se perder
dos prantos,
e dos tantos...
que há em mim.

o pequeno príncipe

Raposas e galinhas...
o bem e o mal... onde estão?
Um pote de eternidades, se adivinhas,
passemos para outra parte, então.

Cativar é essencial,
na visão de Exupery,
o que torna alguém especial
é o tempo que, com esse alguém, "perdi"

Se houve um verbo, ao principiar,
se tudo começou daí,
o tal verbo só pode ser amar
e foi "perdendo" tempo que sempre vivi.

domingo, 4 de julho de 2010

se...

Incoerência
é incorrer em reticência?
socorrer a consciência?
ou só correr da paciência?

Ao meu olhar,
incoerente é não amar,

preferindo a rigidez
à beleza do talvez.

rua das acontecências

O que está acontecendo?
Quero chover em teu ser,
não quero sido, prefiro sendo...

O que acontece?
Trovejo de pulsões,
verto vertigem, ver-te, não vendo...

O que aconteceu?
Neblinei todo o tato,
perdido em ti, em pleno ato...

O que acontecerá?
Estarei ensolarado,
imerso na pureza,
emergindo do pecado.

p.s.:  what's going on? Do mergulho, beberei o som!!

inspiração

Postagem
que remete, mira

Miragem
que intromete, atua

Tatuagem
que se mete, vã


Vantagem
que promete, imã

Imagem
que mente, passa

Passagem
semente, via

Viagem
somente ia

Bobagem
demente dia

Postagem
premente filha

sábado, 3 de julho de 2010

wave

E se...
meu calor tocar no seu?

E se...
sua fome provocar a minha?

E se...
o talvez se perder no breu?

E se...
seu segredo o meu adivinha?

E se...
depois de tanto, remanescer?

E se...
nossos gritos, o mundo ouvir?

Esse
será, em mim, o amanhecer

desse
flutuar que há de vir

ambos

Amor e paixão...
quando é um,
quando os dois?

Amor e paixão...
se nenhum,
não há depois.

Amor com paixão...
dois em um,
magia, pois.

desaniversário (por Patrícia Gonçalves)

Andar,
venho andando há tempos...a esmo, sem bússolas.
Chegar...contratempo de percurso...
desvios e atalhos no caminho,
em meio às buscas,
fui eu a encontrada...
garota perdida, que bate à porta,
mundo novo que se apresenta...
desconhecido...
carinhos, desejos e medos...
o gato de Alice...alianças aladas, desaniversários vários...
venha comer um pedaço de bolo,
vamos comemorar a vida, o novo, inusitado,
o insólito, que se apresenta...
um basta nas falas, roteiros escritos ...
personagens aguardados ...
andemos, inventemos subverter toda ordem pretendida!
Caminho que se ascende, de mãos dadas ...
medo que se olha no olho, não é mais medo!

p.s.: não poderia colocar aqui nenhum outro poema, a não ser o que fiz pra você, do sentimento que me inspirou. Mas, como poetas e loucos, buscamos caminhos..., caminhos errantes..., ora paralelos, ora se cruzam, algumas vezes, se fundem na mesma rota, outras se perdem na trilha. Mas o sentimento perdura, assim como a ternura e todos os versos de uma linda poesia. Beijo Grande!

sexta-feira, 2 de julho de 2010

beleza plural

Intensidade,
criatividade,
atividade intelectual...
beleza é fundamental?

Leveza
ternura
elegância acima do normal...
beleza é fundamental?

Sensualidade
simplicidade
amorosidade toda especial...
beleza é fundamental?

O toque de alma
o jeito sensível
a arte final...

O que é beleza, afinal?

contudo...com tudo

Compaixão
para aceitar
Com paixão
puro néctar

Competição
para superar
Com petição
para esperar


Compulsão
impura mania
Com pulsão
pura magia

Compensar
anoitecendo

Com pensar
acontecendo

Contato
para aquecer
Com tato
para esquecer

Contíguo
seu, ao lado

Contigo
eu, alado!

quinta-feira, 1 de julho de 2010

senha do amor

Nuvens
no céu da tua boca
decoram a não pouca
fome de mais

Penugens,
o mapa da mina
que me descortina
anseio demais

Tu vens,
batom sobre os lábios,
que tombam em meu rosto
deixando um gosto
que quero provar

Nu vou
e nua vieste
ternura é a veste
e a senha de amar

oito palavras

Desejo...

que seja...
ensejo...
pro beijo...
cereja...
deseja?

dança das palavras

Está tão claro...mas é segredo

o teto existe...mas é de palha
você se esconde...mas é sem medo
se traz pra mim...mas não espalha

Existe, é claro...mas é de palha
o teto esconde...mas não espalha
você pra mim...não é segredo
se traz amor...não há mais medo

quarta-feira, 30 de junho de 2010

resposta ao tempo

Agora, já é quase depois
muito tarde pra gente cansar
em sentido anti-horário, nós dois
não deixamos o tempo passar

para ti

Pra te ver sorrir


caço pipas e estrelas

onde caiam, só pra vê-las...

pra te ver sorrir



Pra te ver sorrir

cato ripas de madeira

queimo o frio na fogueira...

pra te ver sorrir



Pra te ver sorrir

calço nuvens bem macias

percebendo que dormias...

pra te ver sorrir



Pra te ver sorrir

calo tudo que não seja

ternura e gentileza...

pra te ver sorrir



Pra te ver sorrir

caibo em tua fantasia

faço amor e poesia...

pra te ver sorrir
 
 
ps: ei-la novamente, leia, novamente.

a mulher

Procura-se uma mulher
com brilho no olhar
e segredos vãos
melhor ainda se tiver
histórias pra contar
e colhê-las com as mãos

mergulho livre

Acordei abraçado em devaneios
e ao nevoeiro que invadiu o quarto.
No escuro, há que andar por outros meios,
buscando a luz, revivendo o parto.

Ancorei, atracado entre teus seios,
e mergulhei, sem máscara, em teu eito.
Vasculhei os teus desvãos, sem preconceitos,
sem me importar com o que é esquerdo...
e o que é direito.

terça-feira, 29 de junho de 2010

a nudez do desejo

A nudez da amada que dorme
faz tremer as paredes do quarto
altivez danada, que entorne
meu desejo em teu sono ingrato

Que o tempo adormeça contigo
e a calma me faça o favor
de abandonar meu instinto contíguo
ao fascínio, ao afeto, ao amor

cio da alma

Repare na pétala da utopia
releve a dor que escorregou
esqueça o frio que fazia
no acaso do encontro, quando acabou

Supere toda a monotonia
eleve a confiança que regou
aqueça o cio da alma, que anuncia:
o ocaso da tristeza só começou

la question

Você acredita em paixão virtual?
Sentimento verdadeiro ou só ritual?
Pode-se apaixonar pelos versos?
Poeta e poesia (um só ou controversos?)

outrem

Alvorecer em minha pele
mistura de hoje e de ontem
algo que instiga, algo que repele
descubro, em mim, o que já foi de outrem

Histórias, segredos mal desvendados
memórias de medos...olhos vendados...
Mas quando teus seios despertam no escuro
receios, em fuga, pulam o muro

segunda-feira, 28 de junho de 2010

lua cheia

Nesta vida (e,creio, em nenhuma outra), 
não há lugar para meias verdades, 
para sentimentos pela metade, olhares fracionados, 
intenções despedaçadas, amores em pedaços.
Se a Lua é crescente, se sentamos no meio-fio, se calçamos a meia, 

até mesmo se damos meia volta, ainda assim, é porque estamos inteiros,
íntegros, completamente fascinados pelo encanto da existência,

por todos os lados, poros, aos pares.
De janeiro a dezembro,
mais uma vez, eu te lembro,
o convite à vida!!

mar de mim

Daqui a pouco
perderei o juízo,
aqui, há pouco,
achei-me e aviso
em mim, sou inteiro
mas eu me divido
em barco e barqueiro
e navego comigo

ainda há tempo

Felicidade à prazo ou à vista?
Há quem troque liberdade por "conforto"
mas assim, com aspas, bem malabarista,
cheio de equilíbrio...e quase morto!

essência

Amo, de segunda a domingo,
sinto, sem intervalo comercial,
pulsa em mim, acordado ou dormindo,
fome e sede de viver,  sem igual

Eu mergulho, não importa o perigo,
e me dôo, sem medir a consequência,
e, ainda que não tenha conseguido,
não desisto, me refaço, é minha essência.

domingo, 27 de junho de 2010

tear

Nosso amor foi tecido artesanalmente,
fibra após fibra, foi ganhando forma e cor
Pensando em ti, eu sinto, de repente,
banhar-me o corpo o prazer, feito suor.

Dos mais caros sonhos, és a posseira
e, de ti, jamais roubarão esse chão.
Fizeste de fragmentos, uma esperança inteira,
resgatando energia de cada fração.

Mas, claro, nada se perdeu,
pois nossa magia pulsa no espaço.
És o universo, o universo sou eu,
irmã das estrelas, docemente te abraço.

amor em 3D

Antes de ver o que soa,
ouvi a alma que quer.
Eu toquei teu relevo, um toque que voa,
pé ante pé.

Trocas a tela pelo presente da vida?
A caixa se abrindo...
o laço de afeto, a verdade distraída
tudo se encaixa...que lindo!!

A criança encantada...amor em 3D....
meus braços em ti...
meus passos, senti...
já vão te buscar...
e te entregar...
pra você!

ps: republico, em homenagem à uma pessoa muito especial.

mantra dominical

Não basta dizer, vezes tantas,
palavras o vento dispersa,
repetir palavras, feito mantras,
esquecendo o começo da conversa.

Guardar o melhor do dia pro final,
desde o início, sempre foi o meu jeito
de extrair melodia sem igual
do teu corpo, instrumento mais perfeito.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

a vida é viva

Ávida vida, já.
Não se trata de imediatismo,
nem pragmatismo, mas obter a cumplicidade do tempo.
Trata-se de um chamamento ao hoje, sentir o cheiro da chuva, enquanto chove,
o calor dos primeiros raios de Sol, em manhãs de qualquer estação,
ser recriança, a qualquer momento, beber lágrimas
(de alegria ou de tristeza), sem censura, cometer "loucuras", refazer planos
(que não tiverem rostos), desfazer-se de planos (que estiverem rotos),
desfalecer de prazer (seja qual for), chegar a muitos lugares, por caminhos outros,
voltar a estudar, estudar a volta, viajar para dentro e para fora, desligar o celular,
cantar debaixo do chuveiro, pular o carnaval, em janeiro,
amar e dar vexame, pois não há vexame maior que não amar.

Há vida, já.
Ler, novamente, o mesmo livro, surpreender-se com idéias que
passaram batidas, não terceirizar as frustrações sofridas, dando uma
chance a si mesmo (e ao outro), acreditar mais na humanidade,
tratar da angústia, com serenidade (mesmo que pareça impossível) ,
plantar uma esperança novinha em folha,
subir numa árvore, todo arrumado, rir de si mesmo.

Há vida após a vida?

A vida está viva, agora, já. A sabedoria está no óbvio, no simples, na magia de tentar.

só pra não perder o gosto

Se, mais tarde,
o tempo escapar-me das mãos,
já será tarde demais.

Se amanhã, ao primeiro acorde do sol,
não despertar ao teu lado,
já será manhã demais.

Se, depois de tudo,
sentir que nada ficou comigo,
já será tudo,
nada mais.

Se, depois da vida,
persistir em mim
o que jamais morreu,
já não será possível
perder-te mais.

até breve

Viajo agora...
voltarei no domingo
Os versos estarão comigo, lá fora
mas a saudade de vocês...estarei sentindo

quinta-feira, 24 de junho de 2010

para ti

Pra te ver sorrir
caço pipas e estrelas
onde caiam, só pra vê-las...
pra te ver sorrir

Pra te ver sorrir
cato ripas de madeira
queimo o frio na fogueira...
pra te ver sorrir

Pra te ver sorrir
calço nuvens bem macias
percebendo que dormias...
pra te ver sorrir

Pra te ver sorrir
calo tudo que não seja
ternura e gentileza...
pra te ver sorrir

Pra te ver sorrir
caibo em tua fantasia
faço amor e poesia...
pra te ver sorrir

carícia essencial

Este livre pensador dedica a vocês,
amantes da poesia, a eternidade deste momento,
expressando minha imensa gratidão por todas
as palavras que aqui deixaram. Elas foram recebidas
e estão vivas, em mim.
Não imaginava que um blog fosse capaz de aproximar-me
de pessoas que, rapidamente, tornaram-se tão especiais.
Vocês me inspiram, com sua arte, coragem e
generosidade.
Muito obrigado por todo o carinho.
Vocês são a prova diária de que é possível viver com beleza
e acreditar no amor.
Sintam o meu abraço, em cada coração!

vertigem

Verte, verte,
deslisa em teu colo
verte e veste
vertigem no solo

Ver-te, ver-te
coberta de vida
ver-te verteres
suor e saliva

Ventre, ventre
curvas sem fim
ventre, invente
estradas em mim

teoria da dádiva

Nós falamos o dialeto da paixão.
Brincamos com os números, somos lúdicos, a meninice está em nós, 
no jeito de achar graça do que passaria desapercebido a olhos "adultos", 
treinados para não ver.
Nossa arquitetura  é leve, futurista, lança-se no espaço que ainda está sendo construído,
Já temos memória, a partir de tantas histórias a contar, alegrias para cantar, no almoço e no jantar.
Sei lá se são meses, dias, lembranças que transgridem a normalidade, a obviedade, a mesmice, para espreguiçar-se no quarto das surpresas, no quarto crescente, em 1/4 de 4 eternidades.
Brindemos, redesenhando a felicidade, feita de dedicação, criação e serenidade.
Parabéns para você, para mim, para os  tantos que há em nós (sonhos, desejos, tântricas esperanças).
Envio beijos ao vinho, sublimes, subliminares, superestelares.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

palavras náuticas

Suas palavras escorrem em meu corpo
sob a pele, sobre os olhos, em espiral
teus desejos beberam a água do copo
e há em mim uma sede impontual

Se procuro e não acho o teu rastro
meu instinto solta um grito colossal
no bote da paixão, sou o mastro
e as velas se acendem...vendaval

quase às três

Quatorze e cinquenta e nove
mais que duas, menos que três
há paixões que a razão remove
há razões que a paixão desfez

há vida inteira

Se, mais tarde,
o tempo escapar-me das mãos,
já será tarde demais.

Se amanhã, ao primeiro acorde do sol,
não despertar ao teu lado,
já será manhã demais.

Se, depois de tudo,
sentir que nada ficou comigo,
já será tudo,
nada mais.

Se, depois da vida,
persistir em mim
o que jamais morreu,
já não será possível
perder-te mais.

lá de longe

Não repare  nos silêncios,
cicatrizes das palavras,
não foi fácil contar histórias...
lá, de onde eu vim.

Não repare nas palavras,
hemorragia de desejos,
não foi fácil calar instintos...
lá, de onde eu vim.

Nã repare nos desejos,
vizinhos da loucura,
não foi fácil estancar os medos...
lá, de onde eu vim.

Não repare na loucura,
amante da razão,
não foi fácil remendar os sonhos...
lá, de onde eu vim.

Não repare nas razões,
que eu tenho pra te amar,
não foi fácil resgatar a vida...
lá, de onde eu vim.

reencontro

Esteja onde eu estiver,

eu ardo, eu tardo, mas vou
ao encontro daquela mulher
e me encontro com tudo que sou...

entre aspas

As palavras me beijam,
me envolvem, me queimam,
aspas, da lavra que sejam,
ensejam novas palavras

terça-feira, 22 de junho de 2010

o tempo parou

Vinte e duas e trinta
o tempo parou na porta do quarto
Fiz-te dunas de tinta
transformadas em versos, atrás do retrato

Teu sorriso tocou
meu desejo sem sono
o inverno acabou
e voltou o outono

eternidade

Na ilha, tão grande, pequeninos os teus medos
ondas quebravam em nossa cama
eu juntava os pedaços de segredos
antes de acender a chama

Foi na rede, não esqueço
que juraste eternidade
mas o tempo, num tropeço,
esqueceu da validade

Escrevi na areia, não me importa se apagar:
sobrevivi aos naufrágios,
sem perder o amor ao mar

quanticamente

Dizem que sou romântico...
elogio ou desdém?
lanço um olhar quântico,
desconfio e vou além

Quero tanto, tanto, tanto... 
que persisto, até morrer
e, para grande espanto,
não desisto de querer

Eu convido, de verdade
e espero que aconteça
se você tiver vontade...
abra os olhos...amanheça

por que?

Por que teria de encher meus dias
feito lixo jogado ao chão
se tuas noites são tão vazias
e tua boca diz tanto não?

Porque veria tua boca vazia
de ternura e de perdão
é que me lixo para a hipocrisia
ainda que tarde, bato o portão.

amor em 3D

Antes de ver o que soa,
ouvi a alma que quer.
Eu toquei teu relevo, um toque que voa,
pé ante pé.

Trocas a tela pelo presente da vida?
A caixa se abrindo...
o laço de afeto, a verdade distraída
tudo se encaixa...que lindo!!

A criança encantada...amor em 3D....
meus braços em ti...
meus passos, senti...
já vão te buscar...
e te entregar...
pra você!

segunda-feira, 21 de junho de 2010

sinto(nia)

Esperei,
quando a espera se esgueirava, clandestina
Esperei em cada olhar,
esperei em cada esquina.

Esperei acordado,
quando todos já dormiam,
esperei ancorado,
quando os barcos já partiam.

Esperei nas grutas,
nas insanas madrugadas,
esperei nas lutas,
nas entranhas das jornadas.

Esperei nos gritos
que o silêncio amordaçou,
esperei nos mitos
que a razão já desprezou.

Esperei sentado
contemplando a escuridão,
esperei cansado, enganando a solidão.

Esperei, de pé,
mal contendo a ansiedade,
esperei, até,
desaprendendo a ter saudade.

Esperei, de uma vez,
todo encanto e poesia,
esperei, talvez, o que não mais se espera,
hoje em dia.

Esperei, enfim,
e esperaria por mais vidas,
e ainda espero...
para lhe dar as boas vindas.

ps: poema que retorna, por vontade própria.

vascular

Colar de sílabas...
calor do paladar...
colar dos corpos suados...
testemunha ocular do que os olhos não viram...
oscular tua poesia...
decolar do teu ventre...
escolar fantasia...
descolar tua boca...
vasculhar...vasculhar

ps: transcrição (quase literal) de comentário que fiz no fascinante blog OutrosEncantos , a partir da primeira frase, que atiçou a sequência de pensamentos lúdicos, no desejo irrefreável de brincar com as palavras e seus significados íntimos.

um toque de humor

Tu tens dois nomes
e eu, um boné
De vez em quando, tu somes
qual a lua, nos braços da maré.

Eu tenho um telefone
e já tive, também, um boné
De ti, sei só o codinome,
a voz e que és mulher.

Mas já te vi, algum dia, me esqueço
feito meia guardada no pé
Afinal, para que serve o começo,
se tudo termina em boné?

nota de rodapé: esqueci um boné, que foi parar em outra cabeça, que ficou, transitoriamente, no lugar do boné.

menta(lidade)

Saudade é falta ou presença?
Falta da presença...presença da falta...
Amor que chora, por dor ou desavença,
Pintor, que precisa da tinta...
olhos baixos...noite alta

Ciúme é demasia ou ausência?
Posse em demasia...
confiança que se ausenta?
Amor não é ciência...
é tosse, é dia a dia...
é temor, é suor... e menta.

domingo, 20 de junho de 2010

as luzes da cidade

  
  Você vestiu meu corpo com o seu sorriso e com a seiva de seu desejo.
  Você me  brindou com   flagrâncias tão diversas, que me embriaguei de você.
  Mas seguimos procurando o "nosso rumo". E nos reencontramos, pertinho do mar.
  E a cidade acendeu-se, fulgurante, como nunca. As canções das ondas ficaram
  ao fundo porque, do fundo de cada um de nós, vieram outros cânticos. Foi
  tanta mansidão, parecia que a vida encostara a cabeça em nossos ombros e
  sonhara acordada, encantada, sob o efeito catártico de nossos olhares
  cúmplices.
  Aquela lua imensa, de uma brancura impossível, era um convite a loucuras
  deliciosas e aceitamos a oferenda.
  Nosso caminhar natural pelas calçadas, de corações descalços, a visão das portarias,
  dos prédios - inestéticas, assépticas, diversas, os quadros que admiramos, ao longe, os
  contrastes que vislumbramos, de perto.
  A manhã trouxe frutas saborosas, a visão de um azul sem fim, talvez,
  influenciado pelos nossos murmúrios de satisfação e cumplicidade.
  Você tem o dom de fazer acontecer uma vida, tem luz para dar e dela
  tenho me servido, para iluminar meus pensamentos.
  Amor, vem me tirar o cinto, amor vem me botar na vida... (sem aspas, pois
  não está literalmente reproduzida a letra, apenas o sentido...e temos, ao
  menos, cinco deles, para nos tocar, sem nos trocar, jamais).
  Cheguei em casa com frutas, mares, luas, néctares do prazer, olhares, confissões e
  promessas espalhados por mim.
  E agora? Só podia, mesmo, entregar a você o sumo de uma saudade e uma
  vontade sumamente declarada.
  Boa noite!
  Beijos enluarados.

sábado, 19 de junho de 2010

ávida vida

Ávida vida, já.
Não se trata de imediatismo,
nem pragmatismo, mas obter a cumplicidade do tempo.
Trata-se de um chamamento ao hoje, sentir o cheiro da chuva, enquanto chove,
o calor dos primeiros raios de Sol, em manhãs de qualquer estação,
ser recriança, a qualquer momento, beber lágrimas
(de alegria ou de tristeza), sem censura, cometer "loucuras", refazer planos
(que não tiverem rostos), desfazer-se de planos (que estiverem rotos),
desfalecer de prazer (seja qual for), chegar a muitos lugares, por caminhos outros,
voltar a estudar, estudar a volta, viajar para dentro e para fora, desligar o celular,
cantar debaixo do chuveiro, pular o carnaval, em janeiro,
amar e dar vexame, pois não há vexame maior que não amar.

Há vida, já.
Ler, novamente, o mesmo livro, surpreender-se com idéias que
passaram batidas, não terceirizar as frustrações sofridas, dando uma
chance a si mesmo (e ao outro), acreditar mais na humanidade,
tratar da angústia, com serenidade (mesmo que pareça impossível) ,
plantar uma esperança novinha em folha,
subir numa árvore, todo arrumado, rir de si mesmo.

Há vida após a vida?

A vida está viva, agora, já. A sabedoria está no óbvio, no simples, na magia de tentar.

sem (ou cem) motivos

Andar andei. Ah! como eu andei.
Percorri lugares pouco povoados, trilhei trilhas e trilhos desativados,
contemplei templos desertos,
mas orei, por horas a fio, equilibrei-me, no fio da navalha,
sem corte para bajular-me, sem corte, para machucar-me. Musiquei minhas ilusões,
iludi meus corações, múltiplos assim mesmo, por tantas razões (e desrazões).
Neguei, pequei, peguei minhas mãos e busquei, em vão, por aquilo que as fez tremer,
suar, mudar de mãos.
Fitei a impaciência, pacientemente. Sorri para a dor, ardorosamente.
Percebi que a indiferença é diferente, só mente.
Mas, principalmente, restou uma ausência, que preenche meu silêncio, somente.

ps: essas palavras visitaram-me, ao som de Streets of Philadelphia, Hotel California,
Your Song e Falando de amor.

velha infância

Quero despencar em teus sorrisos repentinos,
retornar, em desejos vespertinos,
povoar o princípio da madrugada

Trocar reticência por reentrância,
acordar o meu sonho da infância
abraçar teus temores...e mais nada

será?

Será que a gente tem peito para enfrentar as marés?
Será que a gente tem jeito para domar os medos, dobrar os preconceitos?
Será que a gente tem feito tudo que pode, para realizar os sonhos?
Será que a gente tem sonhado tudo que explode, para multiplicar os feitos?
Será que a gente se acode, se sacode, para superar defeitos?
Nós não somos como os outros, nós não queremos pouco...
nós não fomos com a maria, que foi com as outras,
e, por isso, nossa nave está chegando onde chegaram poucas,
pois temos a mania de ser nós mesmos.
Não sei se é preciso mais do que dois meses,
já falei, já senti, já pedi milhões de vezes,
que Deus mantenha em nós o nosso jeito.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

amor por inteiro

Teu ar de menina,
com fita no cabelo,
tira meu sono

Teu afago me nina,
flores nascem, no espelho,
em pleno outono

Não precisa temer,

que eu te faço tremer,
de outra maneira


Quando a alma doer
e o amor não vier
na forma primeira

Não precisa sofrer
nem mais nada  dizer

te amarei, num abraço,
a noite inteira

ne me quitte pas

Quando eu olho meu desejo
desejando o que não há,
sei a lágrima, ao invés do beijo,
e meu sorriso, onde é que está?


Troquei teu nome,
tantas vezes,
te chamando, sem chamar
minha voz quase some
sussurrando, há meses...
oh! meu amor:
ne me quitte pas

a arte de escutar

Ouvir...é quase ver...
o som da lágrima, no último andar...
ouvir com os olhos...é perceber...
é pressentir...aconchegar...

Ouvir, com calma ...é quase ler...
o som da frase, que vai chegar...
ouvir, apenas, sem compreender...
é só ouvir, não escutar...

quinta-feira, 17 de junho de 2010

on the road

Em minha boca, perdão e desejo,
em meu olhar, segredos que desconheço,
em minha roupa, rastros do teu beijo,
em meu caminho, mapas pelo avesso.

pressentimento

Quando o sol se puser e os homens calarem
tudo será noite e fim,
não gritarei por mim,
pois só restará minha ausência.

As árvores, com seu brilho e teias,
neblina do mistério,
serão meu mar.

O inconsciente transborda
sem aviso, nem chamado
e tudo se perde, junto a mim.

Vou adiante,
inerte como as multidões,
cantando a morte de todos os olhares negados,
correndo atrás de pássaros,
qual gato selvagem.

A lua não é mais Lua
e, para lá do outro lado que não se vê,
encontro-me e desperto
na transparência de uma rua vazia,
perdida pelos cantos dos olhos.

Sem pressa ou culpa,
sigo a trilha a cada instante,
levando, nas mãos,
luas, sóis e abismos.

É na escada que me encontro
vôo pela escuridão alada,
sou farol na tempestade.

Passo a passo,
correndo, vou para lá,
universo subterrâneo
de vidas e morros que se perdem de vista.

E me desdobro,
clareio
e viro o vento,
uivo de todos os tempos. 
 
nota de rodapé: relato de um sonho, desses que a gente sonha, sem saber que é.
 
 

dual

Cortinas ou descortínio?

Rotina ou fascínio?
Emoção ou raciocínio?
Posse ou domínio?

Sensatez ou desatino?
Amar você é meu destino?

controVERSOS

Tu queres P  A  Z
Eu quero Z  A  P
Tua paz é remédio
Meu zap é antídoto ao tédio

Queres silêncio no escuro
Quero ousadias, pulando o muro
Queres que os teus te absolvam
Quero que minhas culpas se dissolvam

Querias tanto, mas tanto faz
Quero, entanto, o que em teu pranto jaz
Mas é bem simples, pensando bem
Queres três letrinhas e eu...também!

quarta-feira, 16 de junho de 2010

(c)alma

Quero amar sem amarras
extrair da alma algazarras
e te saber de cor

Quero amar como amaras
sem trair a calma que sonharas
para te amar melhor

(im)presença

Saudade, sem maldade
saudade com presença...
saudade da saudade
saudade de quem pensa...
saudade é maldade
na saudade sem presença...
saudade é só saudade
é só saudade de quem pensa!

terça-feira, 15 de junho de 2010

tear

Nosso amor foi tecido artesanalmente,
fibra após fibra, foi ganhando forma e cor
Pensando em ti, eu sinto, de repente,
banhar-me o corpo o prazer, feito suor.

Dos mais caros sonhos, és a posseira
e, de ti, jamais roubarão esse chão.
Fizeste de fragmentos, uma esperança inteira,
resgatando energia de cada fração.

Mas, claro, nada se perdeu,
pois nossa magia pulsa no espaço.
És o universo, o universo sou eu,
irmã das estrelas, docemente te abraço.

a céu aberto

Eu te quis eterna confidente
das mãos que caminham desertas.
Cada partida faz sangrar,
deixando as veias abertas.

teorema

Quero o que não quis
inventar caminhos, dobrar esquinas
mas, se as dobrar, como prosseguir?

segunda-feira, 14 de junho de 2010

sentido da vida

Estrada...verde...chuva e sol
Nós engolindo quilômetros e horas, sem perceber
 Estrada...azul...rouxinol
 Voz entoando odes ao amanhecer

 Nove e dez, dois mil
 Um deles quer prosseguir, outro chegar
 Entre março e maio...abril
 Em BH, não há mar, mas luar e amar e amar e amar.
 Mesa cheia de gente,
 olhares acesos, histórias que se contam, que se tocam,
que molham os olhos,
 que brilham na noite.
 O lugar não era, mais, ali, mas toda parte,
não havia tempo, era sempre, não
 cabia mais ninguém, éramos todos.
 Subitamente, subiu à mente o clarão do mistério, 
palavras dando cambalhotas,
 achando graça das emoções que se amontoavam 
na porta do coração, no céu da
 boca, na calada da noite eloquente.

 Não sei se era nove ou se era dez. O tempo parou,
na estrada, na entrada do
 templo, na virada do ano, na lufada do vento.
 Rostos que chegam, gostos que ficam, mesmo quando 
já se foi o rosto, pois o
 resto da vida tem gosto de eternidade.

 Não sei quando começou, só sinto que nunca acabará,
meu desejo em seu olhar,
 esse jeito nosso de reinventar o sentido da vida, 
de tornar tudo tão bonito,
 tão simples e...infinito.

acalanto

Eu me encolho, me recolho, eu me colho no teu colo.
Eu não meço, recomeço,  me arremesso no teu colo.
Eu termino, determino, tão menino...no teu colo.

o céu da tua boca

Minha jangada vai sair pro mar...
pois amanheci ao meu lado
e beijei a boca da paz.

Minha jangada vai sair pro mar...
pois beijei a paz do meu lado
e voei no céu da boca da manhã.

sábado, 12 de junho de 2010

à mercê...

O que faz seu amor feliz?
Contar vantagens ou contar estrelas?
O que eu faço, o que eu fiz?
Semear sorrisos, de mil maneiras.

Para a vida não ser insossa...
Mercedes Benz
ou Mercedes Sosa?

meia lua inteira

"Nesta vida (e , creio, em nenhuma outra), não há lugar para meias verdades, para sentimentos pela metade, olhares fracionados, intenções
despedaçadas, amores em pedaços.

Se a Lua é crescente, se sentamos no meio-fio, se calçamos a meia, até mesmo se damos meia volta, ainda assim, é porque estamos inteiros,
íntegros, completamente fascinados pelo encanto da existência, vista de baixo ou de cima, por todos os lados, poros, aos pares.

Portanto, é imprescindível decidir que vida se deseja viver"

hoje

Enamorar-se, a vida inteira,
por algo ou por alguém,

amar, de qualquer maneira,
amar, amar e amar...também!

sexta-feira, 11 de junho de 2010

e aí?

O que você faz com a sua liberdade?
Brinca de ser livre
ou é livre de verdade?

O que você faz com a sua saudade?
Sente falta, simplesmente,
ou expressa sua vontade?

O que você faz com o seu amor?
Deixa bem guardado
ou  ama sem pudor?

O que você faz com o seu tempo?
Nunca tem tempo para nada
ou escuta a resposta do vento?

prova de amor e a efemeridade das coisas

Vi o filme com os olhos hidratados. Afinal, é muita emoção, com situações limítrofes,
em que vida e morte trafegam paralelas. A angústia das perdas, do que cessa,
sem nos consultar, da aflição de sentir escorrer o que parece (parece) ser tudo que temos.
Ao sair do cinema, pus-me a refletir: ora, a manhã linda de qualquer dia, mes e ano nunca
mais acontecerá e, nem por isso, nossos corações apertam-se, por essa irrecorrível passagem. Nunca mais teremos a idade que já tivemos, nunca mais jogaremos aquela partida (ainda que outras se sucedam), o sanduíche delicioso que provamos e arrebatou o paladar não se repetirá, ainda que tantos outros sejam saboreados. Os amigos e amigas com quem convivemos, atualmente, crescem, modificam-se, mudam (de endereço, de perspectivas, de estado civil, têm filhos, trocam de profissão...). Portanto, eles não serão, mais, os mesmos.
Todas as noites morrem no amanhecer, todo os Sóis se põem e, ainda que voltem a despontar no horizonte, será outro Sol, diferente dos demais. Os caminhos que percorremos, diariamente, renovam-se, de acordo com nossa percepção, atenção, estado de espírito. Nós trocamos de pele, constantemente e a pele é o nosso maior órgão, assim, também nós deixamos de ser, fisicamente, o que fomos, embora não percebamos as metamorfoses.
Variamos de projetos, de prioridades, há sonhos que rejuvenscem, outros que se escondem em guardanapos, espelhos, troncos de árvores, palmas das mãos, bilhetes enrugados.
Em suma, a vida coleciona despedidas e, concomitantemente, nascimentos,
surpresas, novidades.
Há porvir por toda a parte, a prover olhares novos, sonhos novos, esperanças nascituras, fantasias que engatinham, em busca da realidade que as adote e as torne adultas.
Assim é a existência - coisas que acontecem, crescem, transformam-se, para que outras cheguem, ocupem seu espaço, floresçam, em moto contínuo. Aí repousa a beleza de ser,
o encanto que surpreende, pela renovação e pela impossibilidade de encarceramento.
Vida é liberdade, é movimento, é o rio que, somente na aparência, é sempre o mesmo.
Portanto, a maior prova de amor à vida é viver, boquiabertos por tudo que esse processo maravilhoso é capaz de nos oferecer. Ele traz, ele leva, releva e nos sorri, infinitamente, pois infinita e imortal é a nossa paixão de estar aqui, com todas as incertezas que nos impelem a prosseguir, a criar, a sorrir, a chorar, a catar desejos, em nós mesmos, a cantar para que nossos temores adormeçam e tenham dias e noites serenos.

ps: este texto foi recitado, ao ouvido de minha alma, novamente. Não sei o motivo, mas acatei a solicitação tácita de relançá-lo ao mar.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

ar(vores)

Hoje, andando sobre árvores, lembrei de você...
lá embaixo, havia um desfile de saudades serenas,
o tom do olhar, o jeito de dizer as coisas, a cambalhota no ar.

Amanhã, lembrando de árvores, desfilarei sobre você,
lá na saudade, serenidades darão cambalhotas,
sem jeito, perderei o tom de dizer as coisas...
faltou o ar...

quarta-feira, 9 de junho de 2010

viola e madrugada

Paulinho da Viola escreveu, mais ou menos, o seguinte:

"Quem sabe eu encontro, em meio à madrugada, uma vaga esperança nos olhos de quem despertou de um sonho igual ao meu..."

Reflito eu: existe algo mais revelador que o olhar, espelhando utopias, carícias essenciais e perdidas pelos quatro cantos da memória, recuperadas num átimo, no balé esquisito do átomo da paixão?

enquete

Minha casa tem uma porta, uma janela e uma cama!

Falta alguma coisa?

terça-feira, 8 de junho de 2010

neologismo

Sofia diz ao homem das estrelas: "Você foi precipitado"!
A filha de Sofia pergunta: "Ele é um príncipe, mamãe?"

Moral da história: o homem das estrelas é um "principitado".

sorrisos sem nome

Acordei envolto em sorrisos anônimos, desconhecidos, pingentes.
Mas será preciso identificar, nomear, reconhecer, racionalizar?
Ao levantar, deixei-os sobre os travesseiros.
Mas eles, travessos, acompanharam-me até a porta do quarto e,
simplesmente...sorriram para mim.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

inventário de surpresas

"Hoje eu tive certeza. Não vou caber dentro de mim"

A frase, de autoria de Alex Polari, é a síntese do meu dia, do momento que me abraça e a dedico a vocês, com muito carinho!!

futuro do presente

Você me deu, de presente,
um presente sem fim...

Você me deu, de presente,
um presente pra mim...

Você me deu, represente,
nem pressente, assim...

Você me deu, de presente,
pra mim!!

ainda há galos, noites e quintais

Não sei o que busco,
pois é brusco o encontro com o quase.

Não sei o que quero,
pois espero esperas sem fim,
feitas de anjos e feras, "jazzigo" e jardim.

Sou desejante e faltante,

errado e errante,
sou maio, sou raio e, por vezes,
fico fora de mim.

Mas não traio
o louco, o rouco anseio
de jamais fugir de mim.

domingo, 6 de junho de 2010

existe um lugar...

Não repare  nos silêncios,
cicatrizes das palavras,
não foi fácil contar histórias...
lá, de onde eu vim.

Não repare nas palavras,
hemorragia de desejos,
não foi fácil calar instintos...
lá, de onde eu vim.

Nã repare nos desejos,
vizinhos da loucura,
não foi fácil estancar os medos...
lá, de onde eu vim.

Não repare na loucura,
amante da razão,
não foi fácil remendar os sonhos...
lá, de onde eu vim.

Não repare nas razões,
que eu tenho pra te amar,
não foi fácil resgatar a vida...
lá, de onde eu vim.

Sintonia

Esperei,
quando a espera se esgueirava, clandestina
Esperei em cada olhar,
esperei em cada esquina.

Esperei acordado,
quando todos já dormiam,
esperei ancorado,
quando os barcos já partiam.

Esperei nas grutas,
nas insanas madrugadas,
esperei nas lutas,
nas entranhas das jornadas.

Esperei nos gritos
que o silêncio amordaçou,
esperei nos mitos
que a razão já desprezou.

Esperei sentado
contemplando a escuridão,
esperei cansado, enganando a solidão.

Esperei, de pé,
mal contendo a ansiedade,
esperei, até,
desaprendendo a ter saudade.

Esperei, de uma vez,
todo encanto e poesia,
esperei, talvez, o que não mais se espera,
hoje em dia.

Esperei, enfim,
e esperaria por mais vidas,
e ainda espero...
para lhe dar as boas vindas.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

há vida inteira

Se, mais tarde,
o tempo escapar-me das mãos,
já será tarde demais.

Se amanhã, ao primeiro acorde do sol,
não despertar ao teu lado,
já será manhã demais.

Se, depois de tudo,
sentir que nada ficou comigo,
já será tudo,
nada mais.

Se, depois da vida,
persistir em mim
o que jamais morreu,
já não será possível
perder-te mais.

in dubio

Suspeito que estou feliz...
Mas, enquanto perdurar a dúvida,
não acusarei ninguém!

(C)oração

Por que o amor,
que tinge de humano o coração
que navegava sem rumo,
silenciosamente sereno?

Silencie, como a súbita escuridão,
e permita que me ouça,
quando nada mais houver, além de nós dois:
eu e a loucura da paixão.

Fuja de mim,
que não te busco,
escolha os caminhos por onde não passarei.
Celebremos, então, nosso encontro imortal.

passagem

Te liguei para dizer coisas amenas,
erroneamente pequenas,
que caibam no coração.

Tomara que passe a tempestade
e persista a vontade
de irrigar esse verão.

Não importa o quanto doa,
nem que tudo seja à toa...
o verdadeiro sonho é vão.

manhã de maio

Não estou pronto,
mas prestes a acordar.
Os caminhos ainda estão embaralhados,
feito nuvens, ao vento.
Loucura  e lucidez em demasia,
mas sem angústia.
Apenas, permito-me, como outrora não ocorria,
simplesmente, contemplar a dança das possibilidades e... esperar.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

as razões da loucura

Não repare nos silêncios,
cicatrizes das palavras,
não foi fácil contar histórias
lá de onde eu vim.

Não repare nas palavras,
hemorragia de desejos,
não foi fácil calar instintos,
lá de onde eu vim.

Não repare nos desejos,
vizinhos da loucura,
não foi fácil estancar os medos
lá de onde eu vim.

Não repare na loucura
amante da razão,
não foi fácil remendar os sonhos,
lá de onde eu vim.

Não repare nas razões
que eu tenho pra te amar,
não foi fácil resgatar a vida,
lá...de onde eu vim.

pressentimento

Quando o sol se puser e os homens calarem
tudo será noite e fim,
não gritarei por mim,
pois só restará minha ausência.

As árvores, com seu brilho e teias,
neblina do mistério,
serão meu mar.

O inconsciente transborda
sem aviso, nem chamado
e tudo se perde, junto a mim.

Vou adiante,
inerte como as multidões,
cantando a morte de todos os olhares negados,
correndo atrás de pássaros,
qual gato selvagem.

A lua não é mais Lua
e, para lá do outro lado que não se vê,
encontro-me e desperto
na transparência de uma rua vazia,
perdida pelos cantos dos olhos.

Sem pressa ou culpa,
sigo a trilha a cada instante,
levando, nas mãos,
luas, sóis e abismos.

É na escada que me encontro
vôo pela escuridão alada,
sou farol na tempestade.

Passo a passo,
correndo, vou para lá,
universo subterrâneo
de vidas e morros que se perdem de vista.

E me desdobro,
clareio
e viro o vento,
uivo de todos os tempos.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

prova de amor e a efemeridade das coisas

Vi o filme com os olhos hidratados. Afinal, é muita emoção, com situações limítrofes,
em que vida e morte trafegam paralelas. A angústia das perdas, do que cessa,
sem nos consultar, da aflição de sentir escorrer o que parece (parece) ser tudo que temos.
Ao sair do cinema, pus-me a refletir: ora, a manhã linda de qualquer dia, mes e ano nunca
mais acontecerá e, nem por isso, nossos corações apertam-se, por essa irrecorrível passagem. Nunca mais teremos a idade que já tivemos, nunca mais jogaremos aquela partida (ainda que outras se sucedam), o sanduíche delicioso que provamos e arrebatou o paladar não se repetirá, ainda que tantos outros sejam saboreados. Os amigos e amigas com quem convivemos, atualmente, crescem, modificam-se, mudam (de endereço, de perspectivas, de estado civil, têm filhos, trocam de profissão...). Portanto, eles não serão, mais, os mesmos.
Todas as noites morrem no amanhecer, todo os Sóis se põem e, ainda que voltem a despontar no horizonte, será outro Sol, diferente dos demais. Os caminhos que percorremos, diariamente, renovam-se, de acordo com nossa percepção, atenção, estado de espírito. Nós trocamos de pele, constantemente e a pele é o nosso maior órgão, assim, também nós deixamos de ser, fisicamente, o que fomos, embora não percebamos as metamorfoses.
Variamos de projetos, de prioridades, há sonhos que rejuvenscem, outros que se escondem em guardanapos, espelhos, troncos de árvores, palmas das mãos, bilhetes enrugados.
Em suma, a vida coleciona despedidas e, concomitantemente, nascimentos,
surpresas, novidades.
Há porvir por toda a parte, a prover olhares novos, sonhos novos, esperanças nascituras, fantasias que engatinham, em busca da realidade que as adote e as torne adultas.
Assim é a existência - coisas que acontecem, crescem, transformam-se, para que outras cheguem, ocupem seu espaço, floresçam, em moto contínuo. Aí repousa a beleza de ser,
o encanto que surpreende, pela renovação e pela impossibilidade de encarceramento.
Vida é liberdade, é movimento, é o rio que, somente na aparência, é sempre o mesmo.
Portanto, a maior prova de amor à vida é viver, boquiabertos por tudo que esse processo maravilhoso é capaz de nos oferecer. Ele traz, ele leva, releva e nos sorri, infinitamente, pois infinita e imortal é a nossa paixão de estar aqui, com todas as incertezas que nos impelem a prosseguir, a criar, a sorrir, a chorar, a catar desejos, em nós mesmos, a cantar para que nossos temores adormeçam e tenham dias e noites serenos.

sui generis

Será que a gente tem "peito" para enfrentar as marés?
Será que a gente tem jeito para domar os medos, para dobrar os preconceitos?
Será que a gente tem feito tudo que pode para realizar os sonhos?
Será que a gente tem sonhado tudo que pode para multiplicar os feitos?
Será que a gente se acode, se sacode, para superar defeitos?
Nós não somos como os outros, nós não queremos pouco...
nós não fomos com a maria, que foi com as outras,
e, por isso, nossa nave está chegando onde chegaram poucas,
pois temos a mania de ser nós mesmos.
Não sei se é preciso mais do que dois meses,
já falei, já senti, já pedi milhões de vezes,
que Deus mantenha em nós o nosso jeito.

terça-feira, 11 de maio de 2010

a arte de escutar

Escutar é dizer, sem falar. Por isso, não se corre o risco do dito
pelo não dito, pois não há ruídos nesse som, que é, apenas, sentido,
percebido pelo próprio silêncio, em reverência ao mais que respeitoso
cessar de palavras e julgamentos do outro.
Vê-se mas não se ouve, fala-se, mas não se transfere afeto, faz-se
de conta que isso é troca, quando, no máximo, é o troco, a paga por algo
que não se pediu.
Escutar, somente escutar, é proeza que as mães bem conhecem.
Elas escutam os sinais do perigo que seus filhos ainda correrão, pois
trafegam nos becos estreitos do cuidado extremo e, outras vezes, nas amplas
avenidas da alegria proporcionada por um sorriso que substitui todas as palavras
e ainda acrescenta algo de sublime, que não se pode traduzir.
Escutar é ser regente de si mesmo, para manter em repouso os instrumentos
estridentes da razão desvairada, para calar, na mais perfeita harmonia, o vozerio
da vaidade, do sou-mais-eu.
Escutar, enfim, é amar sem segredo, sem medo, sem fim.

vida ascendidíssima

Compareci ao ritual de teu silêncio
Vesti-me com simplicidade,
trajava sorrisos de algodão e lágrimas de lã.

Amei o mais imortal dos amores, a sós
A negação da luz eternizou-a,
pois, jamais, se apagará o que não se acendeu.

Tentaste pronunciar duas palavras distintas,
a um só tempo, com cada um dos lábios.
Escutei, apenas, uma, a outra viaja pingente
em tua boca, sem destino.

Meu olhar arde em teus olhos,
minha voz incendeia tua mente.
Vou viajar para dentro de mim,
levando, na bagagem, o presente que era teu:
a vida.

meu boné

Tu tens dois nomes
e eu, um boné
De vez em quando, tu somes
qual a lua, nos braços da maré.

Eu tenho um telefone
e já tive, também, um boné
De ti, sei só o codinome,
a voz e que és mulher.

Mas já te vi, algum dia, me esqueço
feito meia guardada no pé
Afinal, para que serve o começo,
se tudo termina em boné?

segunda-feira, 10 de maio de 2010

ávida vida

A vida é para já. Não se trata de slogan imediatista,
que rejeite a maturação das coisas, o amadurecimento dos frutos,
a cumplicidade do tempo.
Trata-se, isto sim, de um chamamento ao hoje, à possibilidade de
sentir o cheiro da chuva, enquanto chove, o calor dos primeiros raios
de Sol, em manhãs de qualquer estação, aceitar o sorriso da criança,
que se esboça em nossos lábios, a qualquer momento, beber lágrimas
(de alegria ou de tristeza), sem censura, refazer planos
(talvez, todos),desfazer-se de planos (quase todos), desfalecer de prazer
(seja qual for), chegar a muitos lugares, por caminhos outrora
desconhecidos, reconhecer rostos e restos de lembranças
que, por qualquer motivo, haviam ficado lá para trás, voltar a estudar,
estudar a volta, viajar para dentro e para fora, desligar o celular, perceber
o céu e o luar, cantar debaixo
do chuveiro, pular de satisfação, amar e dar vexame, pois não há vexame
maior do que não amar.
Há vida, já. Ler, novamente, o livro já lido, supreender-se com idéias que
passaram batidas, não terceirizar as cotidianas frustrações, dando uma
chance a si mesmo (e ao outro), acreditar mais na humanidade (lembrando-se
de que faz parte dela), plantar uma esperança novinha em folha, subir numa
árvore, contar uma piada, rir de si mesmo.
Há vida após a vida? A vida está viva, agora, já. A sabedoria está no óbvio,
no simples, na magia de tentar.