sexta-feira, 26 de setembro de 2014

tragam e levem

Tragam de volta as plateias repletas
Levem consigo as cretinices indiscretas
Tragam de volta o mais puro talento
Levem consigo todo esse desalento
Tragam de volta os debates interessantes
Levem consigo as farsas e os farsantes
Tragam de volta a Baía de Guanabara
Levem consigo o óleo de peroba na cara
Tragam de volta a piada inteligente
Levem consigo quem não gosta de gente
Tragam de volta o futuro dos nossos sonhos
Levem consigo o medo e os pesadelos medonhos
Tragam de volta as ruas que são nossas
Levem consigo as promessas insossas
Tragam de volta as irreverências levitantes
Levem consigo as reverências nauseantes
Tragam de volta a inocência perdida
Levem consigo o que desacata a vida

terça-feira, 16 de setembro de 2014

constatação

Se eu soubesse que envelhecer me faria tão bem,
já teria feito isso antes.

domingo, 14 de setembro de 2014

falo e falácia

Os homens são de Marte. As mulheres também. Há homens que são de morte. Algumas mulheres também. O interessante é que homens e mulheres, a despeito dos planetas natais, apresentam características de Vênus, Saturno, Mercúrio, Plutão... Mas todos (eu disse todos, extensivo a todas) são mesmo é da Terra. Somos frutos da sociedade e não do gênero. Furtos do insaciável desejo de saciedade, que se apropria de nossas cucas, fundindo-as e confundindo-as. No mais, somos insuportavelmente normais.
A meiguice constante que se esperava e exigia das mulheres é algo perturbador e nada saudável. Aliás, isso fazia parte (e ainda faz) de um repertório sádico de homens que subjugavam suas parceiras, impondo-lhes um padrão de comportamento próprio de cativeiro. Diziam eles: releve, renuncie, compreenda.
E, como se não bastasse, diante das atitudes masculinas mais deploráveis, defendiam a ideia de que aquilo era "coisa de homem". Ora, coisa de homem é o falo e não a falácia chauvinista que tentava eclipsar o que estava à vista.
Que viva a diferença, liberta da indiferença atroz. Homens e mulheres compartilhando direitos e obrigações...isso é muito bom para todos nós.

outras coisas

As aparências esganam.
Arroz com feijão é diferente de feijão com arroz.
Dois nós é completamente diverso de nós dois.

0 x 0



Os desabafos são abafados pelo bafo do tempo.
Um a um, até que tudo fique zero a zero.
Verdades arranhadas por mentiras acanhadas,
como prédios comem e arranham céus,
até que quase todas as estrelas sejam abocanhadas.

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

outra esfera

Tudo que mais desejamos está à nossa espera.
O que ainda não desejamos...está em outra esfera.

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

duas pessoas

Porque te amo, sei que somos duas pessoas
Porque te amo, não bato as asas, quando voas
Porque te amo, eu me amo ainda mais
Porque te amo, não há âncoras, apenas cais

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

o pó da ilusão

Aumentou significativamente, nos últimos cinco anos, o afastamento do trabalho pelo uso de cocaína. 
Quando o buraco existencial não pode mais ser tapado com quinquilharias,
busca-se no pó da ilusão a solução. O resultado? Grandes soluços, pouco
Sol e muita solidão.

Amem, amém

Você quer abraços e o universo também. 
Você diz amem e ele diz amém!

domingo, 7 de setembro de 2014

Independência

Dia da independência. Agradam-me as independências, a despeito das pendências. Mas, cá entre nós, resolvê-las depende só da gente. 
Urgente é tornar-nos independentes o suficiente para ficarmos cientes da imprescindibilidade da independência.

sábado, 6 de setembro de 2014

Dia do sexo

Sexo pode ser feito a qualquer hora do dia e/ou da noite
Mas não é da noite pro dia que se aprende a ter e dar prazer
O sexo do P de pressa, do E de egoísmo ou do D de desamor é puro açoite
Para valer a pena, deve ser recitado por quem o faz, de A a Z.

a finitude da finitude

O que acaba não acaba com a gente e nem na gente,
pois o sentimento tem ótima memória.
A passagem é apenas uma presença diferente.
Só o esquecimento é morte sem vida, mas isso é outra história.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

reconhecimento

É conveniente reconhecer a firma de nossas emoções.
De vez em quando, podemos confundi-las com outros sons.

terça-feira, 2 de setembro de 2014

educa(n)ção

A gente só aprende quando não se rende ao ensinamento.
O aprendizado é uma luta renhida entre o antigo e o novo, 

muito mais que a passiva aceitação de um enunciado.
A lição profunda e duradoura chega como uma cantiga,
que hipnotiza o que se sabia até aquele momento.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

aversão à versão

A vida é feita de fatos e versões. Fatos comportam interpretações. E os intérpretes mencionam os fatos analisados. Ao contrário de quem propaga versões. Neste caso, os fatos não só são omitidos como substituídos por caricaturas.
O que são versões exatamente? A pergunta já peca pelo advérbio, pois não há exatidão em versões. Elas são conversas pela metade, diversões de quem despreza fatos, transformando-os em artefatos. 
Bom seria se versões fossem apenas versos grandes. Contudo, são o adverso, que sufoca o verso. Plágios da mentira, invariavelmente anônimos, como as fofocas, que não rimam com a verdade nem com a beleza, que não gostam de chuva nem gostam de sol.