sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

indefinível

Existe amor talhado para viver. 
E aquele que se contenta em sobreviver.
Existe amor que talha, que vira mortalha.
Amor que vem a calhar e amor que encalha.
Amor que abre a porta, amor que aperta, amor bandido e até amor banido.

É claro que amor não se define.
Mas importante mesmo é que ele não definhe.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

mulher-reticências

Ah! A mulher-reticências...
Sem ser reticente, nem mesmo inocente,
ela diz o que sente, sem ponto final.
Ela saltita, escorre, fazendo minha alma suar.
Soam os alarmes, mas é tarde demais para escapar.
Aqueles três pontos...de vista ou não, não há imaginação
que não invista, que não insista em seguir naquela direção.

como são

De certas coisas, não me lembro como eram,
mas como são.
Sem comoção, elas se apresentam para mim
com menos memória e menos emoção.

faça e aconteça

Faça e aconteça!
Fazer todos fazem. É da essência do prazer fazer o melhor, seja o que for.
Limpar a calha, vem a calhar, mas sem avacalhar, pois seria uma limpeza canalha.
O melhor abraço, o melhor beijo, o melhor amasso.
O melhor cansaço, sim, aquele abençoado, que se ocupa do corpo sem culpa,
todo suado.
O melhor sorriso, o melhor perdão, a melhor lembrança.
Faça e aconteça.
Como a maioria não 
faz, talvez por temer a maioridade dos desejos.
É verdade, desejos nascem, crescem, tornam-se independentes.
Abrace-os, beije-os.
Dê até uns amassos, mas não seja amassado por eles.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

intactos

Nada é só o que aparece.
Há universos intactos, atrás das lentes.
Nada é só o que parece.
Há vidas em cactus, protegidas das fomes.
Nada é só o que carece.

Lacunas são cobertas, aquecendo quase todos os frios.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

lendo você

Como é gostoso o que minha alma lê:
poemas no muro, 
livros que me livram do escuro
e principalmente você!

sábado, 25 de janeiro de 2014

sem moderação

É, amar cansa, exatamente como correr, nadar, pedalar...respirar.
Benditos cansaços, que nos salvam do descanso precoce, do ócio
da imaginação.
Amar deixa-nos exaustos, promove a permuta de toda a cota de oxigênio, a troca mais completa de peles, a mistura anárquica de pelos e apelos, pronunciados em dialeto que só os amantes dominam, sem minar
suas individualidades. 
Amar nada tem a ver com descanso, muito menos com descaso. O ato
do amor pressupõe o casamento, o acasalamento, o aumento da pressão arterial, de um jeito tão especial e sutil, que jamais fará mal.
Quem ama defende o seu amor, depende dele para ser verdadeiramente
livre...do inconcebível desamor.
Amar significa...que tudo o mais torna-se insignificante, diante do amor.
Aquele que ama não é ficante, muito mais que isso, percebe o quanto é
edificante o mais profundo amor, que é capaz de levar ao fundo de nós mesmos, revelando-nos todos os segredos que nos libertam de todos os
medos e coloca em nossas bocas o melhor sorriso.
Esquecem-se todas as regras e sequer são solicitadas tréguas, pois o que
garante a paz é justamente a guerra santa de corpos e almas, que entoam cânticos românticos e mantras poderosos.
Tantas são as formas de se manter em forma, mas amar é aquela que mais radicalmente transforma, por fora e por dentro. Amar sara!
O Ministério da Vida recomenda: amar faz bem à saúde, ame sem moderação.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

desconcertante

O que importa, mais do que o fato, é por que e como se faz.
Os fatos, por si só, dizem pouco, misturam-se a outros, parecidos
como centenas de maçãs num barril. O que diferencia uma maçã
de todas as outras é a sua escolha, que decide que você a colha
e não a confunda nunca mais.
Fatos são páginas em branco, virgens, neutras, caladas. Tingir as
páginas, desvirginá-las, torná-las comprometidas, veementes é
obra destinada a poucos, àqueles raros que enxergam o que não
está ali e descobrem para onde irá.
Obras de arte são admiráveis, mas arte nas obras dá um sentido
de quase eternidade, imprime movimento constante, desconcerta
a vulgaridade.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

rolezinho

Darei um rolezinho por aí. Sem lenço e sem documento, sem dinheiro no bolso, sem parentes importantes e indo para o interior do meu interior. Com muito amor dentro do peito e pouca coisa na sacola. Lá fora, muitas guerras (sempre frias): de facções, com faces e balas perdidas, de liminares, que nos levam ao limiar da alucinação, de objetivos militares e objetos civis, de egos e seus ilimitados desejos vis. Gente que se acha e que em nada se encaixa em nossos devaneios, levados a leilão. Haverá interessados? O que se esconde na Bolsa, quais os seus valores? Ações sobem como fumaça e descem feito avalanche. Sonhos empinados como pipas e o cerol rondando, afiado como línguas ferinas. Felinas, as ousadias disparam, saltam e se protegem das presas, à espera de algum aliado que as liberte, permitindo que as esperanças, quase inertes, recuperem os sentidos.

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

idem

Quando não me identifico,
inexiste idem
e eu não fico.

verdadês


Eu quero falar e ouvir verdadês, sem necessidade de tradução simultânea.
Mas considero imprescindível a simultaneidade de guardas baixas, de ideais que alvorocem as nuvens e cutuquem estrelas. Acredito na capacidade de superar o ar poluído da maldade e finalmente respirar liberdade, bebê-la sem temer defeitos colaterais, sê-la, como talvez tenha sido há muitas luas atrás.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

ultraleve

Perca tempo, sem pressa de reencontrá-lo. Perca-se do tempo matreiramente, ele que se vire, que pire, transpire até afinar sua
voz. Entenda, é sua vez e quantas ainda haverá?
Descubra o prazer de perder tudo aquilo que não faz diferença.
Não é nenhuma ofensa descartar o que pesa. Só leve o que deixar você mais leve, ultraleve, a um passo de voar.

domingo, 19 de janeiro de 2014

a quem interessar possa

Vamos dar as caras, não a tapas, mas ao vento, para que varra maquiagens
e aos temporais, para que a vida contida na água liberte o que em nós estiver contido.
Vamos dar as caras, pois coroas não há em nossas cabeças. Paguemos o pato, só para deixá-lo por as patas na roça.
Vamos dar as caras, para abraçar a magia que há tanto tempo nos roça.
Que, ao menos, poças de audácia sejam caras a quem interessar possa.

sábado, 18 de janeiro de 2014

a prazo

Felicidade à vista?
Pode até ser a prazo.

sem título

Eu não me iludo.
Eu me ilúdico.

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

a estação sem medo

O verão acorda a gente cedo
Ele é um trem que não para na estação do medo
É naturista, artista despido de maldade, mas ensolarado de quereres
O verão faz escorrer em nossas peles o sumo de todos os prazeres
Deixa o céu ruborizado, no epílogo do dia

Não por vergonha, mas por um calor diferente, que ele sequer conhecia

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

o cio e o ócio

Um palmo de salva ao rei dos anúncios.
Pois ele anuncia o fim do que nem principia e o mapa da mina onde não quer chegar.
O rei dos anúncios propaga o cio eletivo,  o ócio afetivo e tudo quanto é negócio que não vingará.
Ele é o rei de um reino calado, que se fosse alado não estaria mais lá.
Não acha nunca o seu trono e teme encontrar o outono...mas isso ele não anunciará.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Afeto sem fronteiras

Fundemos a ONG "Afeto sem fronteiras".
Afundemos o medo paralisante da entrega, que faz mal ao que a nega
e àquele que se apega.
Lancemos nosso manifesto de vida, infestado de entusiasmo. Façamos a festa
no meio da gente, no meio da rua, dias e noites a fio, no meio-fio de todas as

correntezas, que arrastarão consigo as velhas correntes da hipocrisia ignorante.
A Afeto sem fronteiras desafiará as línguas afiadas, as faces desconfiadas, que se
fiam nas certezas siderúrgicas, para fundir em aço o cansaço de quem desistiu
antes de tentar.
Nossa ONG enfrentará os tentáculos da burrice acéfala, que fala a língua dos
descrentes crônicos, autores das crônicas bizarras da intolerância e do desamor.
ASF conclamará a desesperança anônima a se animar, a se lançar ao mar das
possibilidades, a correr o risco de surpreender-se e finalmente render-se à
relatividade das verdades.
As inscrições estão abertas, são tão gratuitas quanto o ar que nos invade a todo
instante, sem que nos sintamos invadidos.
Quanto mais adesões, maior será a amplitude das decolagens, que nos descolarão
dos porões da infelicidade.
Povoemos nossa cidade de tentadoras utopias, cuidemos de nossos frutos, para
reduzir os furtos de oportunidades.
Para associar-se à Afeto sem fronteiras só existe um requisito: não ter receio de
ser esquisito, já que a capacidade de ser e fazer diferente, sem indiferença, assusta demais.

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

sardas iluminadas

Um Sol embriagado por tanto calor, pendurado no estribo do céu
Logo depois, sardas iluminadas, brincando com a gente, ao léu
Em meio a elas, aquela Lua quase obesa e tão leve, levando com ela o pensamento da gente
Sóis, céus, sardas, luzes, luas e nós todos juntos, tão de repente.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

meu sorriso

Meu sorriso não usa gravata. Coloca o pescoço para fora e vai embora,
na cola de um afim. Meu sorriso não é pipa, voa sem amarras, abre mão 
do cerol, pois corta o ar sem cortes, é sempre cortês. Meu sorriso não
tem passaporte, desconhece fronteiras e todas as besteiras que dividem
o indivisível. Meu sorriso se parece com o Sol, é invisível às vezes, mas está sempre por lá.
Ele detesta ferir, seu prazer é transferir prazer de graça, é fazer arruaça nos lábios, atraindo a atenção dos astros nada castos, que cintilam exuberantes nos céus das bocas nunca ocas.

domingo, 12 de janeiro de 2014

cume

Ciúme pode levar às alturas.

Basta tirar só um pouquinho e se chega ao cume.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

trôpega

Tropeçar na fantasia e cair na realidade não me apraz

Que a fantasia peça e a realidade, embriagada e trôpega,


confesse que isso a satisfaz.

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

gramática

A vida é proparoxítona,
é ávida.
Mas também é oxítona,
quando é já.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

pergunta e resposta

Para que a pulsão de morte não nos destrua,
quando a gente pergunta à vida de quem é a resposta,
ela gosta e responde: tua

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

pretextos

Quando alguém que a gente ama fica distante,
ouve-se um silêncio que diz tanto...
Todo e qualquer lugar vira um canto,
onde a falta tenta se encostar.
Um estranho canto,

que a voz de quem fica mal consegue cantar.
O olhar se perde, a catar pretextos,
com os quais a saudade imensa procura se disfarçar.

a gia

Por mais que as sacudidelas da vida te empurrem daqui para lá,

não permitas que a magia se transforme em gia má.

circos voadores

Os preços estão engordando, os salários anoréxicos.
Malucos torcem o esporte, organizando a violência.
Estádios de futebol com muito mais conforto que escolas.
Dirigentes mal digeridos pelos dirigidos.
Minha cabeça quase funde, ante a problemas tão complexos.

Mas minha alma permanece calma e clama por poesia cotidiana com veemência.
E minhas ideias voam, como se estivessem sobre molas.
Ainda prefiro circos voadores a discos rígidos.

domingo, 5 de janeiro de 2014

desatino

O tempo tem passado tão depressa, que quase tropeça no futuro.
Além disso, ele é tão desorganizado, que é bem capaz de misturar tudo.
Dia desses, ele se confundiu e colocou o passado diante de mim.
Eu me vi de novo um menino e, que desatino, acreditei que era mesmo assim.

sê-las

Minhas vontades uivam como viúvas
Elas me alagam como o fazem as grandes chuvas
Minhas metades multiplicam-se como estrelas 
Em mim, o declarado deslumbramento em sê-las