quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Etcetera

Viagens, viagens!
Como faz bem viajar, pelo céu, pela terra, pelo mar.
Mas é impossível viajar para fora.
Todas as viagens são por e para dentro.
Lugares, pessoas, músicas, filmes, textos, esculturas, pinturas, teatro...seja lá o que e como for, o certo é que chegaremos sempre ao mesmo lugar: em nós. 
Nossos labirintos indomavelmente secretos, os diletos dialetos de nossos desejos intraduzíveis, que infinitamente tentaremos decifrar.
Viagens, viagens!
Preferencialmente, sem roteiros, sem guias, ignorando mapas, setas...etcetera!

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

homens e mulheres

Homens gostam de imagens. 
Mulheres gostam de imaginar.
Homens fantasiam o ménage.
Mulheres apreciam homenagem.
Homens detestam perder.
Mulheres preferem vencer.
Homens embriagam-se com vantagem.
Mulheres embriagam-se com vintage.
Homens desejam mulheres.
Mulheres desejam.

domingo, 17 de janeiro de 2016

A pós

Somos muito estranhos. Afinal, não nos estranhamos. Nós nos entranhamos nos nós e nos desatamos. Nós desacatamos a banalidade e seus pós. É assim que nos pós-graduamos em nós!

Ter para perder

O melhor de ter muito fôlego é perdê-lo!

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

A mala

Quanto menos percebido é, mais alto o sujeito fala.
Transtornado com tanto espaço vazio, ele acaba viajando dentro da mala.

domingo, 10 de janeiro de 2016

A musicalidade do olhar

Olhar é bom, mas não é tudo. A grande diferença, o toque de classe e o mergulho certeiro estão na capacidade, pouco assídua na estatística, de olhar...tudo. Ou melhor, de olhar melhor. Ver o que não está à vista, compreender o que jamais foi dito, decifrar o que sequer foi codificado. Olhar é, apenas, o princípio. Enxergar é outra conversa, dessas que acontecem em silêncio. Pois as palavras foram, sim, convidadas, mas para outro evento. Quando a obra estiver suada, o suor estiver pronto. Quando o cansaço estiver tão cansado que qualquer esforço seria uma afronta. O fantástico encontro entre a magia e a realidade
dá-se na ausência dos sentidos, um milésimo de segundo antes que eles irrompam na cena. Como obstetras e não bebês. Os sentidos são instrumentos, os sentimentos são a música.

Com a boca no mundo

Em boca fechada não entra mosca.
Será? Creio que entram algumas, sim. Mas só aquelas que engolem sapos, as que supõem segurar as ondas para depois
perceber que elas arrebentam, mais fortes, em suas costas.
Em bocas fechadas entram, portanto, esses insetos calados, além de toneladas de angústias e desejos reprimidos, que se acotovelam debaixo da língua, temendo os dentes.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Nós e os nós

Ah! Como é difícil mudar o mundo. Pois o mundo é grande, há tanta gente nele. E nem conheço todo o mundo. E o pouco que vi já me fez estremecer. Mas caramba, as árvores também estremecem com o vento, a própria terra, com os terremotos, o céu, com os trovões. Por que eu não faria o mesmo, com meus medos, ventos, terremotos e trovões?
Mas como é difícil mudar o mundo. Se a seta de um carro acende, o outro acelera, ultrapassa, rouba-lhe a passagem. Talvez eu já tenha feito isso,talvez ainda faça. Mas disfarço. Quanta desfaçatez! Quero o melhor para a minha rua, meu bairro, minha cidade, meu clube de futebol. Mas se as outras ruas, bairros, cidades, clubes, países ficarem entregues aos seus problemas e penúrias, o que será do mundo, o mesmo que quero tanto mudar?
Meu discurso ético equilibra-se na ponta de minha língua, atualiza-se com as últimas informações, que caço implacavelmente nas redes sociais. Socialmente, sou um amor de pessoa. Intimamente, a gente mente. Ora, mas são mentirinhas bobas, bobagens que não produzem nenhum estrago. É, parece que a ética que nos habita não é parecida com a das outras criaturas, cujas mentiras, deslizes, dissimulações, a gente não atura. Mentira não é mensurável pelo tamanho, altura, tom de voz ou circunstância em que se produz. Mentira é mentira e ponto final, ou melhor, ponto parágrafo. Mentimos para dentro quando proclamamos arrogantemente o erro alheio. O meio ambiente, disseram, começa no meio da gente. Ética, da boca para fora, é titica e nada mais.
É realmente difícil mudar o mundo. Mas alguma coisa incrível, inusitada, acontecerá caso compreendamos essa mudança caso a caso. Ou seja, respeitando setas, árvores e tudo que é tão diferente ou, quem sabe, tão semelhante a cada um de nós.

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Raro

Primeiro dia do primeiro mês de ano bissexto. Nada melhor para tecer fantasias. O inaugural associado ao insólito são ingredientes de aroma e sabor agradáveis demais. Provemos desse néctar sem moderação, pois a oferta é por tempo limitado. 
Ilimitado é o desejo de desejar. Raridade é aquilo de que se pode dizer: de novo e jamais novamente.
Saúde!