domingo, 30 de dezembro de 2012

Semente

Não quero pensar a quilo
Quero aquilo que não se pesa
O estilo que não represa
A prece que não se reza
Somente a pressa que se preze
A semente que não se meça
Antes que comece o apesar

termais

Poderíamos dar-nos por satisfeitos
Qual o que!
Não fomos feitos para isso

Se estivermos no paraíso,
buscaremos lugar melhor
Queremos sempre mais
Abdicamos de todos os ais
Não somos os normais,
mas hormonais
Nossos corpos e almas são termais
É disso que precisam: ter mais !
Por isso, perdemos o juízo
E perderemos, o quanto for preciso
Até onde o desvario for capaz

Ao tempo

Dois mil e doze está todo desarrumado em mim.
Caixas de lembranças espalhadas por todo canto.
Fotos sem legendas, textos sem imagens, fendas
existenciais, por onde se infiltraram perplexidades
de todas as idades. Tantas necessidades misturadas
em minhas retinas...belezas repentinas e feiuras
cretinas, numa ciranda maluca, a ponto de quase
a cuca pirar. 
E o tal do efeito estufa, que faz até a mufa transpirar.
Avenidas de conjecturas, que voam como aves
migratórias. Idas e vindas de orações e oratórias,
muitas e muitas histórias.
As curvas da vida que levaram o arquiteto são as
mesmas que trazem tantas promessas, dessas que a gente faz e ouve.
Suco de couve faz bem, mas o que houve com 
com tudo aquilo que não fazia mal? 
É estranho sentir saudade do contato com o jornal? 
Eu, que tanto gosto de cadeiras esparramadas na
calçada, ocupadas por muitas pessoas desocupadas 
de tudo que não importa.
Como é gostoso bater de porta em porta e encontrá-las
sensualmente abertas, como certas caras e cabeças!
Bom à beça!
De toda maneira, até segunda-feira, poderemos conceber uma loucura inteira, que caiba entre doze e treze.
Sem que o tempo saiba, pois ele não foi convidado,
ocupemos todas as suas frestas e não nos culpemos
por todas as festas que fizemos e faremos em seu louvor.


quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Dois pés e um caminho

Um amigo me perguntou por onde deveria ir.
O certo ou o duvidoso?
O oásis ou a miragem?
O antigo ou o novo?
O chão ou a paixão?

Digo que somente ele saberá as respostas.
O melhor caminho talvez seja o que faz o coração do caminhante sorrir.
Mas não há certeza de que seja recebida a carta que se posta.
No jogo da vida, não há certeza em nenhuma aposta.
Ser covarde com o que arde exige muita coragem.
Para poder ter é preciso ter menos poder.






segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Renovação

O primeiro passo, 
quando se tira o gesso
O sorriso de alívio,

quando cessa a dor
O gesto de perdão,
quando a mágoa eu esqueço
A virada de página,
seja lá como for
A gargalhada gostosa,
logo após o tropeço
Entulhos jogados fora,
para redescobrir espaços
Tudo, até mesmo esta vida
pode ser um recomeço
Um brinde ao amor,
com os melhores abraços

à beça

Você é
Não se esqueça
Ande com seus pés
Se aqueça
Sua vida é você
Dos pés à cabeça
Renove suas crenças
Pinte o sete
Erre, acerte
Seja à beça !

Teias

Uma gota de Sol (ou seria de chuva?)
lembra a rocha de que ela está viva
A tocha das utopias baldias está acesa
sobre a mesa, 
junto aos dados
Dardos se reviram no ar, 
junto a tudo que gira sem parar
Assim como eu e minha diva
Dádivas vãs 
Ávidas buscas sobre divãs
Teias ateando fogo só para iluminar





sábado, 22 de dezembro de 2012

tudo

Quero tempo para tudo. 
Quero tudo ao mesmo tempo.
Nada em meu território é pouco ou devagar. 
Divago sem parar, mas meu querer não é vago nem gago, ele sabe se pronunciar.
Preciso de oito outubros, sete setembros, dez dezembros e janeiros...tudo já!!
As correntezas nadam a meu favor.
Há imensuráveis profundezas em meu olhar.
Minhas mãos asfaltam as faltas, para mesmo nelas eu poder trafegar.
Minha alma não ofega, não se nega, esfrega os olhos para não adormecer.
Acaricio meu cio infinito, meu vício de ser e crescer.
Anseio por cumplicidade, pelo seio da intensidade.
Busco vontades que não silenciem, que chamem a desvairada chama da insaciedade.
Saboreio a presença com sabor de menta, refrescante.
E a silhueta que cante naturalmente.
E a mente que não minta, que esteja sempre faminta de liberdade.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

De dogmas, âncoras e tentações


Dogmas? De dog eu gosto, mas...mantenho a cabeça aberta
para que, na hora certa, a convidada possa entrar. O nome dela? Liberdade.


Âncora? No máximo, por uma hora, só para propiciar um bom mergulho.

Soprar as velas da irreverência, estufá-las para que ventos possam beijá-la,
possui-la, até que ela fuja da fugaz saciedade.
Deixar a alma submersa em oceanos iluminados, por anos-luz. Fotografar com 

o olhar a beleza que se mostra sem frescura. Saborear a pele escura da noite. 
Seguir suas trilhas, por milhas e milhas. Nadar até cada uma de suas ilhas, só para descobrir que nelas não há nada, além de tudo que se levou nas braçadas: distâncias abraçadas ao prazer...de tentar até cansar e descansar um pouquinho, para mais tentar...

A irresistível tentação !

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

vai e vem

Vai, que eu te convenço 

Mesmo que eu leve horas


De que existe um céu imenso


com estrelas para cavalgar sem esporas



Vem, que eu te enfeito


de luares que colhera na noite mais que perfeita


Um laço difícil de ser desfeito


Mas isso a gente aceita

Noir

O que se esconde em teu olhar deserto?

Diz pra mim por onde eu devo entrar


A dor antiga tem destino incerto


O que te faz viver é que me tira o ar!

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Se você tiver nas mãos verões e primaveras
Se você nutrir desejos sãos (que desconhecem saciedade)
Se em você houver avenidas e vielas
Se você souber onde acampa a liberdade

Se você quiser andar fora dos trilhos
Se você entender a linguagem de uma flor
Se você acreditar em sonhos maltrapilhos
Só você pode ser o meu amor

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Colateral

Não quer se apaixonar?
Então, é simples...
Fuja das noites enluaradas,
de conversa inteligente...
Finja que não sente
o olhar embaraçado com desejo
Disfarce com algum gracejo...
e tente seguir adiante


Se preferir tratamento de choque,
é infalível: evite gente
Se não funcionar
e isso for alarmante,
acione o alarme
Mas nada de charme!
Chame um taxi...
e tente seguir adiante

Se não der mais que um passo,
não perca a calma
Existe um remédio chamado alma,
que deve estar sempre à mão
Se não sentir seus pés no chão,
é apenas um efeito colateral
Tolere, pois não faz mal
Pode seguir adiante

Saga

Não é no meio que caminho

Faço arte sem fazer ninho


Não como pela beirada


Queimo a língua no frio da madrugada

domingo, 9 de dezembro de 2012

compromissos e compromísseis

Se tenho um motivo?
Mas nem é preciso

Alguns compromissos
são compromísseis

Desprezo os crivos
Prefiro os incríveis

sábado, 8 de dezembro de 2012

sem título

Mesmo que faça muito frio
Por dentro e por fora
Mesmo que todo mundo vá embora

Não soltarei a sua mão

Se a luz apagar
E você não enxergar um palmo além do nariz
Ainda que tudo fique por um triz
Não soltarei a sua mão

Pode ser muito tarde
Ou se for cedo demais
Encontrarei um tempo, em meio a todos os temporais
E não soltarei a sua mão






sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

irreverência


O que me salva são os desvarios

Vários, arrebatando-me dos becos vazios


Salve a libertadora irreverência !


Descobrir-se a cada instante é a verdadeira ciência

dito e feito

Será que a gente tem peito para enfrentar as marés?
Será que a gente tem jeito para domar os medos,
para dobrar os preconceitos, como se esquinas fossem?
Será que a gente tem feito tudo que pode para realizar os sonhos?
Será que a gente tem sonhado tudo que pode para multiplicar os feitos?
Será que a gente se acode, se sacode, para superar defeitos?

Nós não somos como os outros, nós

não queremos pouco...
Nós não fomos com a Maria, que foi com as outras
E por isso nossa nave está chegando onde chegaram poucas,
pois temos a mania de ser nós mesmos.

sábado, 1 de dezembro de 2012

Estímulo à resposta

Pequenas gotas d'água 
escorrem de teus cabelos
e acariciam teu colo 
e meus pelos


Uma brisa suave invade tua blusa 
e revela, à luz da vela, 
o que não usas


Tua pele ao estímulo responde

e conduz meu pensamento
nem sei mais para onde

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Sóis

Que nós só 
desatemos
quando tivermos remos
para navegar no após

Que sóis e nucas
se aqueçam
e nunca se esqueçam

de quando só eram sós

Que os dois sóis
com solos se encantem
e cantem bem alto,
sob lençóis.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

reluzes

Acendam as luzes ao dormir
É claro que não me refiro às lâmpadas,
que podem ferir o sono


Acendam as luzes ao dormir
Aquelas que iluminam o faro da imaginação,
que acordam o desejo mais raro:
flores nascendo no outono

Acendam as luzes ao dormir
Fachos de pura magia,
feixes de silenciosa poesia,
sonhos dentro de um sonho

simples requinte

Qual é o nosso tempo?
Nem passado, nem presente, nem futuro
Não precisamos do saudosismo amassado,

do embolorado "mais do mesmo" recorrente
e nem de tatear no escuro

O nosso tempo
não caminha em círculos,
não esmurra facas pontiagudas,
muito menos é prato requentado

O nosso tempo
supera o tédio em dois pulos,
colhe êxtases e planta novas mudas,
é simplesmente requintado.

bobagens afins

Hoje ouvirei teus silêncios incidentais

Eles aquecerão minhas palavras arrepiadas


Compreenderei melhor tuas confidências informais


Rirei das minhas bobagens, como se fossem piadas

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Início, meio e fim


Levo meus medos à beira do precipício
Para que contemplem, de um modo propício,
o início e o fim de seus reinados

Liberto-me de alguns por princípio
Não construo templos para eles
Seus rastros ficam apagados

Fundamental

Tento...sem tentáculos

Para perceber minha alma...tire os óculos


Amar e cuidar...dois espetáculos!

Alquimia das palavras

Não tento criar novas palavras
As que existem já me bastam,

na tentativa de transmitir o que ainda não disse
Emoções in natura funcionam como bastões

Varinhas mágicas que, ao tocar nas palavras,
conseguem transformá-las em energia,
que viaja,
para que ela aja
Uma espécie de eletricidade emocional,
que ilumina caminhos até então ermos,
só para sermos mais curiosos,
a ponto de ir além
Pouco importa o que poderia ter sido
Vital é o que será, o que está sendo construído...
nas oficinas da mente,
nos laboratórios do coração
Inusitada alquimia!
A magia que mia lânguida,
em transe,
face ao cio da audácia
A face oculta das palavras,
aquilo que não se escreve,
mas que se inscreve em algum lugar...
dentro de nós.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Sutilmente

Contentar-se com o útil

é mandar a imaginação para a UTI


Descobrir-se no sutil



é remeter o fútil para longe

e chamar a felicidade para ficar aqui

sábado, 24 de novembro de 2012

Vertical

Para que planos banais?

Eles me ferem, prefiro os verticais


Desconheço o que é preciso


Amanheço e troco idéias com o improviso

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Meu jeito

Ah! Esse meu jeito
de acreditar sem ditar,
de afagar as incertezas,

de nadar contra as correntezas
sem me afogar

Ah! Esse meu jeito
de apreciar o avesso,
de não achar que o começo
é o princípio do fim

Ah! Esse meu jeito
de amar até perder o ar,
de ser íntimo das palavras por tanto rimar,
de não cansar de remar, remar

Ah! Esse meu jeito
de sorrir pro perigo,
de ser o mestre que sigo,
sem mais seguidores

Ah! Esse meu jeito
de seduzir as dores,
para que se convertam em cores,
em flores, amores

Ah! Esse meu jeito
de desafiar o tempo,
de correr contra o vento,
para que ele me vença,
embora não me convença
de que seria melhor parar.

Desconcertante

Sabe o que quero provar?

Só você.


Sem teorias, pois quero que rias de todas as contradições.



Frente e verso, pois sempre haverá poesia.



Da meia noite ao meio dia, mas por inteiro.



De janeiro a janeiro.



Eu a escolhi e em você colhi o mais profundo e desconcertante despertar.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Mistério

Não é preciso teus olhos decifrar

Neles não há cifras


Eles contêm safras de mistérios que não se vendem


São olhos que não se pode vendar


É estranho...sinto em meus olhos o teu olhar...

xeque-mate



Nem sempre deixa de existir o que some

Há quem mate a sede com a fome

terça-feira, 20 de novembro de 2012

na mosca

Querem conhecer a verdade? 

É preciso fôlego, para correr muito do ego e não deixar que os alcance

Calçar sandálias surradas, para ir no encalço da mais louca utopia

Enfrentar enxurradas de mentiras e ousar ir além da ira

Aperfeiçoar a mira, para não acertar na mosca, que não tem nada a ver com o pato

Dividir o prato com os famintos de fomes como essa

Não se acomodar e nem ter tanta pressa

Colocar uma compressa na ansiedade, para aplacar sua gritaria

Desprezar as placas, pois o caminho só você conhece

Comece agora, antes que a luz vá embora

Ora, mesmo sem saber a razão

Estará diante da mais poderosa oração

Insubordinada e substantiva

Por inteiro, numa fração

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

gelos e elos

Um amigo falou que casal nenhum resiste à geladeira vazia. 
Mas o que deverá estar dentro dela? Gelo seco ou de outra natureza? Certamente não. 
O gelo até cala a dor, por algum tempo. Mas queima e teima em deixar as coisas exatamente como estavam. 
Anestesiado, o sintoma manifesta-se de outras maneiras, mais sorrateiras.
Creio que a geladeira existencial precisa estar repleta não de gelos e sim de elos. 

Pessoas, seus destinos e ideais sobreviverão às chuvas torrenciais das angústias desde que caminhem paralelos, tendo como trilhas exatamente aqueles elos, a permitir que se encontrem no infinito de cada abraço sincero. 
Talvez não consigamos despojar-nos de todos os nossos destroços, mas creio profundamente na possibilidade de destruir-nos menos, com mais altruísmo. 
Uma lareira entulhada de lenha não aquece, é preciso gerar calor.

sábado, 17 de novembro de 2012

(em você)


Não a possuo,

pois suo você (em você)


Ainda que seja transitório,


o transe é notório...

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Somente

A dor mente

mormente

quando está 

dormente a dor.

Inocência

Somos um estranho livro,

onde drama, comédia e suspense 


misturam-se pelas páginas, 


com a musicalidade incidental da inocência. 



Sou um estranho livre, 



que ama sem ser comedido,



que pensa sem suspender o que sente, 



que se mistura com as esquinas, 



em acidental coerência.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Lente da imaginação

Penso nas belezas que meus olhos 
ainda não perceberam
Naquelas que beiram o fascínio, 
ocultas nas beiradas de algum lugar
Alugo lentes que me aproximem,
que me ensinem a ultrapassar o óbvio
Acendo o pavio da curiosidade,
sem temer a explosão repentina
Que ela mande pelos ares,
como louca serpentina,
incontáveis pedaços de magia
que transformem todos os lugares
em notáveis orgias de imaginação.






segunda-feira, 5 de novembro de 2012

efervescente


Minha alma é efervescente

Ela ferve...você sente?

Pode não ter cabimento,

mas cabem tantos sentimentos

na palma do meu coração

Todavia

Me diz:
como é que eu vivo
sem a vida que havia
em meus olhos 
quando a via?

Todavia, você escreveu com giz
a história inteira
E veja só o que a chuva fez
De uma só vez, 
o que eu nunca fiz.



domingo, 4 de novembro de 2012

por inteiro

Quero estrelas guiando meu sono

Daquelas que partem o céu ao meio


Quando elas partirem, não haverá abandono


Guardarei as metades do sonho inteiro

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

O fim ao meio

Despir-se é despedir-se dos disfarces,
é mostrar a face
dos receios

É pedir ao tato
que dê um trato
nos fins e nos meios.

Aeroplano

Não sei quanta estrada há na frente

Eu me entrego ao lugar em que estou


Se me perguntam pelos planos, sou reticente


Quanto às montanhas...é pra lá que eu vou

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Chamas

Há um Sol dentro de mim
que me faz suar por dentro
e aquece todo o meu corpo


Um calor intenso
que me percorre da borda ao centro
e deixa em chamas meus pensamentos

Um ardor imenso
que eu sinto enquanto penso
que chamas...chamas...

entre tantos

Entre nós não haverá cobrança
Ela tem o veneno da cobra...e cansa

Entre nós não há ninguém
Apenas o espaço para ir além
Entre nós não há mentira
Não há verdade que tanto fira
Entre nós só um segredo
Já posso contar ou ainda é cedo?

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Enguia

Sua boca fala a minha língua,
mesmo quando sua minha vontade
e a deixa rouca

Seu olhar é uma enguia
que meus olhos guia 
até onde a escuridão é pouca

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

O catador

Sou um catador de palavras
Eu as encontro no meio das ruas,
no desvão de conversas alheias,
escondidas embaixo de silêncios descuidados,
escorrendo na pele das madrugadas ensolaradas.
Gosto das palavras nuas,
lânguidas,
lambidas pelo voraz olhar de quem as souber amar.


terça-feira, 16 de outubro de 2012

reprise

Por que te assustas com as entranhas da vida?

Quem sabe o que estranhas são as possibilidades escondidas?

Mas repare...historicamente o que te arranha são as dores repetidas.

Se estico demais a corda, é para que ela saia do teu pescoço.

Só mesmo para encontrar água é que se deve ir ao fundo do poço.

Capricho na dose só para sair da crise.

Dos nossos melhores momentos sempre vou querer reprise.

Colírio

Transborda como a taça

Caça a farsa


Faça o raro acontecer


Teça o acontecimento

Desaconteça a monotonia

Desfaça-se do fácil

Aprimora o faro

Seja o farol

Reescreva o rol do necessário

Afasta a traça da preguiça

Iça o desejo mais profundo


Profana a culpa

Desinventa todas as desculpas

Não disfarça com colírio

Ouça o delírio do amanhecer

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

cinco motivos

O céu fica sempre azul, você nem precisa pintar
O vento e o bambu se entendem, como a areia e o mar
A abelha produz mel, apesar do ferrão
Pensamento leva ao céu, sem sair do chão
Minha mão tem cinco motivos e uma só intenção:
convencer os teus medos de que eles não têm razão.

domingo, 14 de outubro de 2012

mantra

E nasceu uma flor no asfalto
O beco descobriu uma saída
Mil desejos emergindo sem sobressalto

Liberdade é um mantra, deve ser infinitamente repetida

sábado, 13 de outubro de 2012

pecado impecável

As mãos ávidas dos teus olhos me tocaram
Não se ouviu um pio
O arrepio tomou conta da pele,

que repeliu peça por peça
O desejo impecável derramado no olhar
Minha respiração nua tropeçando na tua,
até que o tempo se despeça e pare de passar
Diz....
Peça...

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

esquecimento

O amor esmoreceu

quando você esqueceu

que o amor é seu

Mentalizando

Comenta somente a cura
Amamenta a liberdade dessa doce loucura
Sedimenta dia e noite a vontade
Alimenta a sede, para saciá-la mais tarde
Apimenta o sorriso indeciso
Atormenta a monotonia, sempre que for preciso
Experimenta a sensação de chegar ao topo, num salto
Aumenta o volume e sonha bem alto
Fragmenta os fantasmas, até que desapareçam
Suplementa as fantasias, para que aconteçam



quarta-feira, 10 de outubro de 2012

equilíbrio desengonçado

Na matemática existencial, um mais um nem sempre é igual a dois.
Se os dois se fundirem e se confundirem num nó, o resultado será apenas mais um...
Mais um casal casual, usual, igual a todo aquele que se transforma em "cl", por ter perdido a asa.
Essa soma há de ser ímpar, inconfundível, invisível aos olhos nus da bula.
Asas, longas asas para quem almeja a burla das receitas prontas, dessas que não quero provar.
Cada qual traz consigo inacreditáveis coleções de si mesmo, em edições extraordinárias.
Variáveis espetaculares de uma só identidade que assim escapa da atrofia.
Somos tantas e nem sempre santas entidades, não conhecemos nem a metade do que nos habita.
Ora infantilizados pelo desamparo que parece navegar em nossas veias.
Ora adultecidos  pelo despreparo que parece nos despregar de nossas teias.
Somos todos malabaristas amadores, amamos as dores que tentamos curar.
Percorremos nossos caminhos num equilíbrio desengonçado.
Chega a ser engraçado e feliz daquele que consegue gargalhar.


travessura

Decifra meus silêncios amotinados, 
estrategicamente amontoados, 
entoados pelo sopro de sobrevivência

Desconfia dos sentidos,
guarde-os numa cesta
Afia o sexto,
desafiando a contradição

Imprima teus sonhos
na palma do teu olhar
Lamberei a esperança furtiva
antes que ela caia
Que minha travessura caiba 
no teu próximo despertar



segunda-feira, 8 de outubro de 2012

A tela

Do marasmo só quero o mar

Minha retina torce o nariz para a rotina


torcendo para ela se mandar


Eu me amarro na sensualidade elegante


A luz da vela revelando a tela só por um instante

Vertigem


E se o destino for mudo?
Não será nenhum desatino interpretar seus sinais.
Ele pode ser mudo e eu posso mudar, me dar outras portas, para abrir e fechar.
Não farei dele meu escudo.
Escuto a voz das estrelas mais remotas, viajo por corredores de luz.
Todos os dias dou uma volta ao mundo, no modo avião.
Faço escalas nas escolas sem muros, aprendo futuros que não sei ensinar.
Desacredito em sina, a vida sequer assina seus manifestos.
Gosto de festas, melhor ainda quando estás.
Minha imaginação esgueira-se pelas frestas da rotina, escapando da guilhotina do marasmo.
Minha retina não faz planos, ela vê o horizonte vertical.
Ver-te é vertigem, da maneira mais natural.


sábado, 6 de outubro de 2012

Magia

As nuvens serão apenas o ponto de partida e a passagem é só de ida.
O destino é mais alto, mas chegaremos lá num salto.
Não há porque temer a altura, lá de cima tudo muda de figura.
Para que desvendar todo o mistério?
Melhor misturar os meus aos teus...
Sério! Mas nem tanto, pra não arrefecer o encanto.
Sem fórmulas, mas com magia. 
Imagina!


sexta-feira, 5 de outubro de 2012

noite nua

Simples assim
Um silêncio eloquente e o olhar quente proclamando que sim
O instinto instigado pelo vinho tinto, no mais triunfante motim
A noite nua e macia como cetim

Simples assim

Palavras com aroma de jasmim
O presente plantado e colhido por mim
Infinito do princípio até o fim

Sim, és assim







tradução

Especial é quem compreende teus silêncios
sem invadi-los
Especial é quem respeita teus caminhos
sem colocar trilhos
Especial é quem adivinha o momento
de abrir a porta
Especial é quem afina o instrumento
que teu coração toca
Especial é quem chega junto
quando o bicho pega
Especial é quem mergulha fundo
sem temer a pressão da entrega
Especial é quem acredita
sem precisar de prova
Especial é quem elogia a roupa
mesmo não sendo nova
Especial é quem te traz prazer
sem levar a paz
Especial é quem traduz tua alma
como ninguém faz

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

sabedoria

Se o outro diz: espera
E o caminho está chamando
O teu coração em chamas pondera
mas a razão exclama: até quando?

Quando a refeição demora,
é convocada a fome
Porém, quando a aflição aflora,
o apetite some

Aguarda o desespero ir embora
Assim, o sabor será bem melhor
Experimenta ser feliz agora
Esqueça tudo que sabias de cor

E aí, já esqueceu?
Há sóis te iluminando quando estás a sós
A felicidade tem nome: o teu
Sabedoria aquece mais do que lençóis



quarta-feira, 3 de outubro de 2012

para isso

Quando a gente procura por dentro e não acha,
corre pra fora, meio sem graça, caçando a motivação.
Mas o que se vê, de tanta pressa, são restos de rostos

e, por mais que se peça, não sobra um tempinho para olhar.
Então, a gente volta pro interior, coloca cadeiras na calçada
e espera a poeira assentar.

E aquela maravilha, que antes se vivia, vicia e quer companhia.
Será que existe vacina para isso ou é só no paraíso que não 
se pode pecar?

terça-feira, 2 de outubro de 2012

suor da mente

Quando a paixão está se afastando,
ando, ando...até quando a recupero
Não importa quanto chão eu tenha que engolir

Quando a paixão está tremendo,
eu não remendo a janela
Eu me aqueço nela até o frio desistir

Quando a paixão está querendo,
eu me rendo suavemente
Então aprendo que o suor da minha mente faz meu corpo persistir




cheio de faltas

Vontade e desejo não são irmãos, mas podem dar as mãos.
Ela sabe o que quer. 
Ele quer o que sabe.

Vontade de beber água.
Desejo de sedes.
Vontade de dormir.
Desejo de sonhos.
A vontade morre ao ser saciada.
O desejo repousa por um instante para pousar no desejante em plena madrugada.

revelação

O meu pequeno segredo eu te confesso
e não te peço pra ocultar.
Porque não há maior segredo
que o medo de se revelar.

domingo, 30 de setembro de 2012

a pino

Sou adorável...para quem me adora
e detestável, a quem me detesta
Mas escrevo em braille na testa:

sou um cara legal

Buzino, azucrino,
travesso como um menino
Atravesso desatinos,
mesmo com o sol a pino
Desato mil nós

Recomeço começos
e mesmo aos tropeços,
sou avesso ao banal
O que dói eu esqueço
Felicidade eu não meço,
mas vou até o final

terça-feira, 25 de setembro de 2012

A rasura

Minha cura é a minha cara.
Longas jornadas por brevidades tão incontáveis que eu jamais contara.
Procuras desvairadas no jorrar do nada pela beleza brusca e rara.
O sufoco da urgência ofuscando o horizonte e a angústia ali defronte, cara a cara.
Uma secura incontida, contida em mil quereres concomitantes, que meu olhar errante declara.
A rasura na profundidade do desejo feita às claras.
O enigma do bocejo e a ternura do beijo, minha cara.