quarta-feira, 27 de abril de 2016

Quiçá

E, se não tiver razão,
loucura não me faltará...
Pois entre o sim e o não,
eu me abraço ao quiçá!

segunda-feira, 25 de abril de 2016

Desejo

Desejo é mais, muito mais que necessidade. 
E desejo não é energia estática nem estatística. 
Desejar é algo que começa por dentro e se espalha pelo entorno da mente e da alma. É possível desejar ardentemente, aos solavancos, mas é ainda mais gostoso quando se acrescenta a calma. E não se iludam: calma não é antônimo de intensidade. A calma qualifica o desejo. Não se trata de ir aos poucos. É a capacidade de ir onde poucos vão. 
O mais é apenas correr e sofrer em vão!

domingo, 24 de abril de 2016

À margem

Um dia, tudo será esquecido. 
O cão abandonado no balcão, o negócio sugado pelo ócio. 
Até a história faz suas escolhas.
Não há papel para todas as personagens. 
Cada vez menos rios e muitas margens.

O tabuleiro da vida

No tabuleiro da vida, o rei e a rainha mandam no jogo. 
Sempre montados em seus ágeis e dóceis cavalos. 
Os bispos percorrem as diagonais dos medos penitenciais, 

limpando o caminho da realeza com o desinfetante da culpa difusa e do perdão condicional. 
Todos os demais são peões, enviados para a guerra dos outros para perder as vidas que não lhes pertencem mais.
É o mal-estar da civilização. Ou o mal é estar na civilização?

sábado, 16 de abril de 2016

Os castelos da cegueira

"Se não houver limite para a idiotice, resta isolar-se e estocar alimentos".
Sim, vivemos tempos bicudos. Simone de Beauvoir demonizada por seleto grupo de não-pensantes, o poder pútrido escapando de mãos inábeis e permissivas para outras habilíssimas na arte de bajular o poder.
O mais interessante é que a burrice é bastante democrática, circula por todas as classes sociais, frequenta ambientes acadêmicos, é aprovada em concursos públicos e até chamada de "excelência".
"A burrice, tanto como categoria cognitiva quanto moral, venceu".
Fora comunistas, fora Simone de Beauvoir, fora diferentes de mim,
que não compreendem minha estupidez, minha incapacidade de, ao menos, desenvolver alguma curiosidade por aquilo que vai um centímetro além do que me disseram que era certo e bom.
Quem rompe com a crosta de autoritarismo é rapidamente rotulado de transgressor, marginal, bandido. Oferecem ao delinquente algumas alternativas de castigo: a masmorra, a fogueira, o tronco ou, o pior de tudo, o desprezo.
"Se a linguagem nos tornou seres políticos, a destruição da linguagem nos tornará o quê?
Somos atropelados por clichês, lugares-comuns, mesmices, repetições enfadonhas e tacanhas do que foi dito e vendido como verdade absoluta no Jornal da tv. Aos poucos, mas com determinação assombrosa, arrancam de nós os pensamentos autênticos, originais, criativos.
Reproduzimos, compartilhamos, copiamos, destituídos, cada vez mais, de senso crítico e autonomia intelectual.
As redes sociais correm o risco (para ser bastante otimista)de serem convertidas em clubinhos de idênticos, álbuns de duplicatas, onde os "amigos" ou seguidores concordam com cada postagem, por mais cretina que seja.
O ódio é ostentado orgulhosamente, em textos pasteurizados. Armas brancas, afiadas, apontadas, invariavelmente, para os hipossuficientes, vulneráveis, ignorados pela avalanche de ambições materiais, os que nada valem, além da produção de mais-valia. A vida foi reduzida à lógica da economia. Será essa a causa de tanta economia de inteligência e sabedoria?
"Precisamos resistir em nome de um diálogo que torne o ódio impotente"
Marcia Tiburi, em seu instigante livro "Como conversar com um fascista", afirma que "não acabaremos com o ódio pregando o amor", "mas agindo em nome de um diálogo que não apenas mostre que o ódio é impotente, mas que o torne impotente".
Estaria aí a pedra fundamental da luta contra a antipolítica.
O fascista odeia muitas coisas, dentre elas, a diferença. O que se afasta de suas siderúrgicas certezas é insuportável, ameaça sua frágil rede de segurança. Então, a revelação de suas gigantescas contradições, pela via do diálogo (ainda que difícil, árduo, quase inviável), torna-se instrumento de resistência, na medida em que coloca diante dos "cegos dos castelos" algo arrebatadoramente novo, que sacode seu temor maior, qual seja, a nudez do pensamento. Afinal, o bom reacionário cuida de proteger suas ideias de toda luz , que precisam permanecer no isolamento obscuro de suas crenças, para sobreviver.
Nas palavras de Eliane Brum: " É isso ou não vai adiantar nem estocar alimentos".

terça-feira, 12 de abril de 2016

Dos outros

A dor não é tanta que prolongue o prazer. Nem o prazer é tamanho que preserve a dor. Ambos misturam-se e assim ficarão, por mais que insistamos em deixá-los em frascos separados. A inalcançável longevidade da satisfação é tão inquestionável quanto insuportável. Queremos (sempre) o que não temos e, se o tivermos, o querer desaparecerá, num piscar de olhos.
Por isso, somos pródigos e ágeis em soluções para todos os problemas (externos, dos outros). Pois aqueles que dizem respeito somente às nossas inquietas e frágeis existências... bem...desses, os outros cuidarão!

domingo, 10 de abril de 2016

Haras do tempo

Pressa para que? Eu não nasci ontem, nem morri.
Quando tiro o pé do acelerador, desacelero a dor da ansiedade
e acabo chegando antes (não de quem quer que seja, antes de
me estressar, de arrancar os poucos cabelos que me restam).
Ganhe tempo! Saboreie o caminho, ache graça de coisas bobas,
sorria para o azul do céu, para o verde das árvores,
para o amarelo do sorriso de alguém, que talvez precise de outras cores, também.
Pressa para que? Eu já vivi ontem e para amanhã ainda não nasci.
Posso mudar de ideia, de aldeia. Posso virar índio, só não quero
é ser cacique. Meu cacife basta para dizer basta ao que me arrasta por aí. Meus dias não têm horas, mas haras, em que monto e cavalgo no tempo e não ele em mim.

sexta-feira, 8 de abril de 2016

Silêncio vertical

Se você reparar, há algo silencioso no meio do alarido. Mais além, mais para lá, depois dos latidos. Mas é um silêncio ouvido somente por alguns ouvidos. Trata-se de uma ausência de ruídos, uma existência sutilmente vertical. Algo singular, que nem se considera importante. Apenas a metade de um instante. Se quiser, é só provar!