terça-feira, 31 de agosto de 2010

descalça

Minha alma anda descalça,
quer sentir o frio e o calor
Minha alma despreza palavra falsa
e prefere ardor a dor

Minha alma não tem endereço,
ela não mora, ela namora
Minha alma não tem preço
Mesmo calma, ela chora

Minha alma é agitada e serena,
é irresignada e mutante
Minha alma é plena
de descobertas, a cada instante

Minha alma não é candidata,
ela ama a liberdade
Minha alma é autodidata,
aprendeu o que é a saudável saudade

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

o par

O que é amar uma mulher?
A fonte do prazer?
Fazer o que quiser?
Ou  conhecer a fundo o outro ser?

Você já amou
verdadeiramente
uma mulher?
Mas amou por inteiro?
Amou, apenas, como ama o diinheiro?
Ou descobriu que não era um capricho qualquer?

Você deseja amar
uma mulher?
Prepare-se para enfrentar
seu medos
Desista de inventar segredos
E, sobretudo, aprenda a sentir mais,
haja o que houver

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

retratos

Sou tudo que há em mim:
livros e revistas,
jazz e jasmim,
aviões e suas pistas

Sou tudo que assimilei:
fórmulas mágicas,
tantos rostos que nem sei,
lembranças atávicas

Sou tudo que esqueci:
a hora do parto,
o amor que perdi,
o primeiro quarto

Sou tudo que fui:
o filho do pai,
a razão que intui,
a lágrima que cai

Sou tudo que serei:
o pai de mim mesmo,
o amor que desejei,
certezas a esmo.

sábado, 21 de agosto de 2010

precisão

Precisa-se
de marneceiros,
que produzam almas móveis
Precisa-se
de engenheiros,
que construam esperanças
Precisa-se
de advogados,
que defendam a utopia
Precisa-se
de obstetras,
que façam o parto da luz
Precisa-se
de odontólogos,
que extraiam a maldade
Precisa-se
de mágicos,
que distraiam o pessimismo
Precisa-se
de chefs,
que tenham a receita do perdão
Precisa-se
de faxineiros,
que limpem as mentes poluídas
Precisa-se
de adultos,
que saibam brincar
Precisa-se
de tempo,
para poder perdê-lo, sem culpa
Precisa-se
de silêncio,
para ouvir a voz do coração
Precisa-se
de muito pouco,
para entender que tudo o mais é supérfluo.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Sol

É manhã,
não é tarde, ainda
Todas as promessas
estão no varal
Há maçã
sobre a relva, linda,
em meio às conversas,
em alto astral

A chuva mudou
de destino
Despediu-se do Sol,
ao bater a porta
A uva murchou
a fome do menino,
que pediu um anzol,
pois Inês não é morta.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

celebração

É tão bom
Insensatez, com o Tom
É tão bom
Apoteose, Luana, Tainá, Elton John
É tão bom
da natureza ouvir o som
É tão bom
sentir vontade e comer bombom
É tão bom
dizer bom dia, sem perder o tom
É tão bom
chegar pertinho e sentir frisson
É tão bom
não comer mais filé mignon
É tão bom
fazer amigos, não perder o dom
É tão bom
admirar teus lábios, mesmo sem batom
É tão bom
ver nascer o dia, em azul neon
É tão bom
descobrir o encanto de Saigon
É tão bom
relembrar o primeiro Chicabon
É tão bom
paz, peace,paix, salaam, shalom

terça-feira, 17 de agosto de 2010

retrovisor

Nunca tive catapora
Não sou amigo do rei
Ofereço um abraço a quem chora
O sapo, não fui eu que enterrei

Eu era bem magricelo,
não comia direito
Não sei tocar violoncelo,
mas a vida me toca com jeito

Até fui bom de bola,
de tanto driblar confusão
Não aprendi na escola
o que tenho na palma da mão

As palavras, fiéis companheiras
nunca me deixaram sozinho
Mesmo nas brincadeiras,
sempre fazia um versinho

Paixão pulsando nas veias
Os pés correndo no chão
Escapando de tantas teias
Aprendendo a dizer não

Trocava tanto de casa,
que esquecia o endereço
Mas poucas vezes confessava
como era caro aquele preço

Um dia, quebrei um dedo
e o corpo inteiro doeu
Eu fiz o meu próprio brinquedo
mas, depois, esqueci quem me deu

uma temática

Folha murcha
é adubo
Papel passado
é documento
Serenidade
é fé ao cubo
Eternidade
é um momento

Pintar o sete
é travessura
Deitar o oito
é infinito
Endurecer,
mas com ternura
O mar afoito
é tão bonito

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

quebra cabeça

Perder o juízo,
para achar o caminho
Juntar as peças,
ao quebrar a cara

Se for preciso,
tocar no espinho
Retomar conversas,
deixar a alma clara

Em Deus acreditar,
mas fazer sua parte
Mais do que sonhar,
viver com arte.

domingo, 15 de agosto de 2010

o tato sem teto

O corpo tem
a nossa biografia
Rusgas e rugas
Silêncio e folia
Vitórias e fugas

Em meu território,
desenhos imaginários
Iniciais ou por extenso
Personagens lendários
O que sinto e o que penso

Nesse continente,
há ilhas inexploradas,
de clima quente
e areias temperadas

sábado, 14 de agosto de 2010

desenhando o caminho

Amanheci
com todas as manhãs
que há em mim.
Te conheci
com a casca de avelãs
ou algo assim

O ponto G
é de grito?
Ou, pra você,
é só um mito?

Quanto te custa
envelhecer!
É porque te assusta
ver tudo morrer?

Esqueça a dor
que a vida traz
Desenhe o que for,
sem olhar para trás

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

descompasso

Dê-me seu silêncio
Será guardado, como lembrança
Ele é o resumo de nós dois

Leve sua ausência
Ela pesa demais aqui
É o sumo dos nós

Mede a distância
que separa ontem de hoje
Verá passado demais

Vele a vontade
contida, em segredo
Descompassado, o coração trovejará

Contemporaneidade

Este mundo está muito louco
Lógica de cabeça pra baixo
Só queria entender um pouco
Procuro uma razão e não acho

Ficha limpa: é pra valer?
Mulher apedrejada
Paraíso fiscal pro pecado esconder
Pedras que não constroem nada

Celebridade sendo presa
pelas presas da fama
Criança indefesa
maltratada por aqueles que ama

Moradias, em meio ao lixo,
rolando a ribanceira
Político prolixo
enrolando a vida inteira

E até a seleção,
que alegrava um pouco a gente,
trafegou na contramão
de uma idéia indigente

Palestinos e judeus,
iraquianos e afegãos,
acreditam que há um deus
que justifique matar irmãos?

Em meio a tanto horror,
nem tudo está perdido
A esperança está no amor,
que está vivo, mesmo ferido

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

ao léu

Esse é para nós dois
O que foi dito
e o que ficou pra depois


Lembra daquele foto?
A saudade que não muda,
com controle remoto

Dois olhares que convergiam
Os lugares, os luares que aconteciam

Nadar é a ação do nada?
A singularidade perdida é "ex cada"?

Escapa-me das mãos
o suor, em grãos

Restituo a ti
tudo que, em mim,
sem saber,
escondi

Palavras soltas,
ao léu,
que voam aqui
 e no céu

o tao da saudade

O sal da terra,
que adoça a plantação
O mal da guerra,
que aguça a solidão

O tao da física,
de princípios parecidos
A tal da música,
que forma pares em meus ouvidos

A nau do tempo,
que naufraga no oceano da eternidade
A mão do vento,
que afaga você, no plano da saudade

terça-feira, 10 de agosto de 2010

a lagarta e a escolha

Estamos dormindo ou acordados?
Em movimento ou ancorados?
O que é real?
Ver o que poucos vêem é anormal?

Já esperei, sem receber
Desesperei, de tanto querer
Mas, também, frustrei a espera
de quem acreditou que seria, mas não era

Estamos juntos ou separados?
Conseguimos cumprir os tratados?
Realidade é questão de escolha
Para cada lagarta haverá uma folha

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

a tez da vida

Assombrosa
a insensatez
dos caminhos adversos

Amorosa
é a tez da manhã,
em céus diversos

És tão rosa,
por teus femininos
universos
 
Mentirosa
é a morte.
Vida à vida,
em prosa
e versos.

sábado, 7 de agosto de 2010

caminhos e carinhos

Capixaba carioca,
índia que não mora na oca

Goiana mineira,
medita à sua maneira

Paulista, do ABC,
três palitos e faz acontecer

Pernambucana, cabra da peste,
poucas palavras disseste

Do outro lado da ponte,
não há pudor que desponte

A tia que História ensina,
e aí? o que tem poder sobre ti, menina?

A moça de desejos incertos,
que mantém seus caminhos abertos

Eis aqui sutil homenagem
de um caminhante, que pede passagem

leveza

Há mortes pequenas
e outras maiores
Há vidas apenas
e vidas piores

Há cortes que, pasmem,
nos deixam melhores
A longa viagem
com bagagens menores

ps:  que sorrisos ensinem
       o que as dores não sabem

       e, ainda que tuas torres desabem
       e  mesmo que chores,
       ores, ores...

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

aliterando

Calo...
somente nos pés
Falo...
tem tanto viés
Caio...
Abreu, que os olhos abriu
Falho...
tantas vezes, mais de mil
Ralo...
o cheiro que invade
Raio...
a luz da verdade

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Trilhas

A chuva fina
desenha trilhas
de estrias
na vidraça.
Quem sabe,
ela sua, somente.
Ou será sua mente
que, suavemente,
mistura a chuva,
que passa,
no vidro, que embaça,
e na gente?

Tears e teares

Choro as lágrimas alheias

Rechoro, até explodirem minhas veias
Eu me debato, como em teias
E me desato, quando incendeias

Acredito na emoção pura,
que sacode todo o meu ser
E me protejo na luz escura
Mas apareço, sem parecer

Estremeça, não meça
Peça, não impeça
Aqueça, não esqueça
Inflame e ame

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

6 de março

Deslizo nos degraus
do que não é,
sem usar o corrimão

Não canso de nadar
contra a maré,
trafegando em contramão

Meu aconchego
está em mim, é minha fé,
sem padre ou sacristão

Mas quando chego
ao teu redor, arredo o pé
de todo descaminho,
nem sinto o chão.

solilóquio

Troco palavras por abraços
Corto despesas e caminhos
Toco nas curvas, sem cansaços
Corro nas nuvens, os meus ninhos

Torto o meu desejo, sinuoso
Oco o meu grito, não ecoa
O troco da ilusão é perigoso
Torço para o vento, enquanto voa