domingo, 20 de outubro de 2013

permanente

Uma varanda e muitos mundos. 
Janelas pequeninas, manhãs ainda meninas.
Borboletas desavisadas desafiam besouros famintos...ainda bem!
A varanda também está faminta de novos olhares, esses lares provisórios
para tudo que é permanente...como a vontade, a criatividade e a gente!!

ideias abertas

Que minhas ideias não cicatrizem.
Que permaneçam abertas como os oceanos e o futuro.
Que elas oscilem, como os dias e as noites, para que sejam sempre novas.
Que minhas ideias não briguem com minhas emoções, para que emitam sons que possam ser ouvidos pelos mais escancarados corações.

a pedra e o banco

Uma pedra sobre um banco da praça. 
Ou será um banco de praça sob uma pedra?
As coisas mais importantes chegam assim, de graça.
Um sorriso, uma intuição, algo delicado que não se quebra.

processo e resultado

Muita gente valoriza cegamente o resultado, não conseguindo perceber que o sucesso decorre de um processo virtuoso, inteligentemente emocional.
Os imediatistas esperam pelo fim do jogo para se prostrar diante da vitória ou da derrota,
tornando-se reféns inertes dessas senhoras caprichosas e cheias de artimanhas.
Pois é de arte e de manha que desejo falar. A arte do raciocínio do coração, a manha da emoção de óculos.
Há alguns anos, no intervalo de uma partida de futebol de salão, o time em que eu jogava perdia de 2 x 0. Todos esperávamos uma preleção eminentemente crítica do nosso treinador, chacoalhadas em todas as direções, sermões apontando todos os erros que teríamos praticado naquela metade de embate, para construir placar adverso e desconfortável.
Para nosso espanto, o nosso treinador, uma alquimia de Menotti e Luxemburgo, com pitadas de filosofia carioca, desafiou nossas expectativas e disparou, em voz baixa: "Está tudo certo, para virarmos esse jogo, basta fazer exatamente o que fizemos até agora". E o estranho vaticínio confirmou-se. Vencemos por 3 x 2.
O treinador-profeta parecia ter encarnado o espírito de Sabino,se não estou enganado, autor da célebre frase "No fim tudo dá certo, e se não deu certo é porque ainda não chegou ao fim".
O exemplo no esporte serve para qualquer atividade humana. O processamento do resultado não é mais importante que a resultante do processo.
Se o processo estiver correto, a bússola certamente apontará para a direção do triunfo, ainda que ele não esteja ao alcance da ansiedade, mesmo que a estrada seja suficientemente longa para esconder temporariamente a linha de chegada.

a grande jogada

Fazer diferente não é sinônimo de fazer a diferença.
Pode-se caminhar de sapato social, tênis, botas e até descalço, 
mas nada disso garante a chegada.
Nem mesmo ser melhor que o oponente significa que você vença.
Ser original e acreditar muito em sua singularidade, aí está a grande jogada.

interpretar-se

Os poemas que parimos entregam-se a quem saiba admirá-los, não nos pertencem mais.
Se os quiséssemos para nós, ficariam presos na garganta da inspiração e não poderiam correr o mundo, encorpando-se pela sensibilidade de olhos que os leiam e os compreendam melhor que o próprio poeta.
Os filhos que geramos são poemas especialíssimos, feitos de substâncias mais sutis que as palavras. 
A exemplo das frases, eles nascem e ganham forma, transformando-se naquilo que ousam ser. Da mesma maneira, também não nos pertencem.
Se os quiséssemos para nós, ficariam presos na garganta da piração da posse e não poderiam correr o mundo, encorpando-se pela própria sensibilidade, que lhes permitirá ler-se e compreender-se, tornando-se intérpretes de si mesmos.

solúvel

Desacredito em fatalidades, determinismos.
Uma fatia generosa do que chamamos destino depende da gente.
Podemos virar o jogo, dar a volta por cima (mesmo que lá em cima seja muito íngreme).
O objetivo inatingível mora desde sempre na acomodação, na preguiça, no conformismo.
Quando decidimos virar a mesa, chutar o balde, ninguém e nada nos segura.
Pesadelos podem acontecer à noite e durante o dia...e sonhos também.
Soluções, lampejos, eurecas brotam milagrosamente quando silenciamos um pouquinho,
o bastante para ouvir a voz da vida.
Se até o café é solúvel, o que não será?

a passeio

Há coisas que não se explicam.
O amor e a dor que sentimos, as manias, as superstições, as intuições.
Tudo isso desenha ângulos de nossas almas, o que somos em águas rasas e nas mais profundas.
Para que tentar explicar?
Poucos entenderiam ou tenderiam a fingir que entendem, só para agradar.
Acariciemos nossos avessos, que eles se tornem tão travessos que provoquem boas risadas.
Abracemos tudo que reside em nós, nossos insólitos locatários, ao menos uma vez.
Sem qualquer critério nem exaustivas racionalizações.
Afinal, estamos a passeio e as férias só começaram.

sábado, 12 de outubro de 2013

o tempo e o mundo

Temos todo o tempo do mundo para esquecer o tempo e o mundo.

vendar para ver

Vendo-te, vejo-me mais profundamente
Vendo-te, para que só vejas tua mente
Vendo-me, tu te vês assim somente
Vendo-me e mesmo assim te vejo em minha frente

crianças

Crianças são também as nuvens em forma de bichos, que deixam nossas fantasias novamente infantis. Crianças são pedaços de papéis mundanos, bailando ao vento, que escrevem histórias em nossos olhares juvenis. Crianças são projetos que dão os primeiros passos. Crianças são esperanças novinhas, que precisam de beijos e abraços. Crianças são todos os filhotes de pais tão grandes quanto cuidadosos. Crianças somos todos nós, inclusive e principalmente, quando ficamos idosos.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

comportas

São as portas que me abrem.

Apenas não me fecho, como sabem.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

esperanças macias

Por desconhecermos segredos, somos íntimos.
Rimos dos problemas, que tornamos ínfimos.
Sabemos muito o que nos une e quase nada sobre nós.
Não somos neve e sim trenós.
Perambulamos por trilhas de estrelas baldias.
Para que não doam os pés, calçamos esperanças bem macias.

a via

Por quais vias eu andava,
se nada via?
Seria porque eu não olhava
ou nada havia?
Eu que tanto procurava

e você não vinha.
Até que um dia me dei conta
de que a sua busca também era minha.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

talvez

Talvez não seja tanto
o que julgas tão santo
Talvez nem seja pranto
o que expulsas pelo canto
Talvez não seja santo
o que desejas tanto
Talvez seja encanto
o que pulsas, por enquanto