domingo, 30 de junho de 2013

varanda

Coloco em dia os pensamentos noturnos,
revendo as noites rascunhadas
na varanda, varando madrugadas

Flutuo nos silêncios oportunos,

relendo palavras rabiscadas,
recolhendo sorrisos das calçadas

Brasil versus Espanha

A Espanha é uma senhora elegante, de hábitos refinados. Mulher bem criada, passou pelas melhores instituições de ensino, domina vários idiomas, conhece restaurantes requintados, sabe usar todos os talheres, frequenta palácios sem fazer feio.
O Brasil é um adolescente estabanado, que abandona tênis e sapatos pelos quatro cantos, que se esquece de fazer o dever de casa, que já repetiu ano, que cola de vez em quando, fala o português cru das ruas nuas, onde se esbaldava nas peladas, isso antes dos campinhos de terra serem transformados em gaiolas de concreto.
A Espanha é racional, toca piano a diversas mãos, aprecia geometria, seu palco é dividido por vários protagonistas, mas tantos que quase se tornam coadjuvantes...
do próprio palco.
O Brasil é intuitivo, cada qual com seu pandeiro, gosta de pagode, pois geometria só no cabelo, tem um protagonista de calção e um estrategista que adora caução, cautela, que repete a mesma canção, fazendo de maior aliada...a espera.
A Espanha é psicanálise, é whisky, é reforma agrária, é distributiva, é paciente.
O Brasil é papo de bar, chopp bem gelado, é latifúndio de sonhos impacientes, é concentração de ansiedades, disfarçadas em piadas prontas e outras...improvisadas.
A Espanha é Ortega y Gasset.
O Brasil é o Profeta gentileza, é Casseta e Planeta.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

ao mar

Sobrevivi aos naufrágios sem perder o amor ao mar !!

artes macias

Fazemos artes 
que não se desfazem nas manhãs
Elaboramos antes 
nossas manhas sem divãs

quarta-feira, 26 de junho de 2013

constituição

Não quero mudar minha constituição:

cabeça (que pensa)
tronco (que não se curva) 
membros (que me permitem ir e vir)

terça-feira, 25 de junho de 2013

em um segundo...

Em um segundo é possível fazer tanta coisa...
Mudar de ideia, de direção
Ouvir o vento e o coração

Em um segundo é possível desfazer tanta coisa...
Fechar a porta, abrir a boca
Gritar bem alto a vontade mais louca

peças

Não tenho todas as peças que te faltam,
mas te ajudarei a fechar a figura,
a menos que impeças.
E nem é preciso que me peças.
Sei que não tropeças nas pedras,
mas conte comigo, para mitigar as perdas.
Falta alguma te pregará uma peça.

multisós

MULTI (soli) DÃO

domingo, 23 de junho de 2013

a pedra e o lago

Caetano Veloso teria afirmado que as recentes manifestações populares
no Brasil deveriam inspirar-se nos dribles de Neymar e buscar chegar ao 
mais bonito. Penso que o inusitado e histórico levante, que vem aquecendo
o nem tão gélido inverno, deveria associar a habilidade individual de Neymar
ao não menos fantástico "carrossel espanhol", que hipnotiza os adversários
com a força do conjunto, que se vale da renúncia à posse excessiva da bola,
fazendo com que ela gire, gire, em círculos concêntricos inebriantes. Algo que me
lembra uma pedrinha atirada num lago. O importante não é a pedra, mas a
transformação do lago.

LuTai


Eu me permito não permitir que eles deportem meus sonhos.
Eu me permito permitir que eles suportem o pesadelo medonho
da insatisfação declarada.
Considero justo esperar que ônibus, trens e metrôs cheguem na
hora certa.
Considero injusto desesperar, pela ausência de amparo nas horas
mais incertas.
Reivindico o construtivismo, para que sejam construídas muitas pontes...
entre o saber e o fazer.
Não sou rei, nem mesmo síndico, mas faço jus à minha cota de poder:
poder acreditar, poder sair e voltar, poder ser quem sou.
Rejeito a rejeição dos diferentes.
Rejeito ser igual aos indiferentes.
Quero mais escolas, mais escolhas.
Quero menos falcatruas na encolha.
Desejo precisar consumir menos para ser feliz.
Desejo, ao menos, sentir orgulho do meu País.

Helcio Maia

tudo e nada

O que acontece quando a gente se cala por muito tempo?
O que acontece quando a gente fala ao mesmo tempo?
Muitos calaram por medos, outros por causa de algum enredo,
que os enredavam, que depredavam sua consciência.
Ao falarem, assassinaram segredos, saquearam silêncios
penitenciais.
Calar-se tanto produz calos nas cordas vocais, que não distinguem
mais vogais de consoantes, tampouco o depois do antes.
A fala desgovernada falha ao degolar o falo da conversa, que no
primeiro momento não versa sobre quase nada.

sábado, 22 de junho de 2013

noites descalças

Amo as noites descalças
que iluminam as calçadas
Amo a lua sem vergonha
de se mostrar nua e tão risonha
Amo a manhã esparramada
que sorri para quem não ama nada

mais nada

O efeito manada é feito 
por quem não teme nada,
por quem não tem mais nada.

acerca do amor

Amo sem cercas, 
sem arames
Amo-te para que não te percas,
para que te ames

quinta-feira, 20 de junho de 2013

coisas de amor

Queremos de presente um futuro mais promissor,
precisamos de um teto e também de muito tato, sim senhor
Estamos cheios de discursos vazios, 
de exemplos vadios,
que não prestam para nada.
Se for preciso, faremos nós mesmos as estradas
que nos levarão ao verdadeiro progresso,
feito de corpos suados e mãos limpas.
Estamos colocando as mãos na massa,
que cansou de ser de manobra.
A obra que mais desejamos é a construção da dignidade sem restos,
da liberdade sem cabrestos,
do paraíso antes da morte,
da sorte fora dos dados.
Exigimos ser convidados para a festa da democracia
e que a demagogia fique de fora.
Nossas caras já não estão mais pintadas,
usaremos a tinta para colorir outros muros.
Encontraremos portos alegres e seguros,
onde embarcaremos,
com destino ao destino que escolhemos.
Para não dizer que não falamos das flores,
nós as plantamos e fomos colhidos por elas.
Haja janelas,
pois a banda vai passar,
cantando coisas de amor.

boca sublime

Roupa suja se lava em casa.
É verdade.
Estamos lavando nossa roupa nas ruas,
que são as casas de todos nós.
Talvez, esteja aí a grande sacação:
a identificação e ressignificação do que é público.
A começar pelas ruas e avenidas,
o povo está reocupando o que lhe pertence.
E recuperando outros atributos, que lhe foram subliminarmente tomados:
a boca no trombone e a expressão mais sublime de vergonha na cara.

significado

Quis saber o que significa verdade
Pesquisei no Google e não me satisfiz
Olhei no dicionário e só aumentou a vontade
Se você souber, me diz

quarta-feira, 19 de junho de 2013

perplexidade

Perplexidade. Talvez essa palavra aproxime-se do sentimento predominante de brasileiros e não brasileiros com o que vem acontecendo por aqui. Gente, muita 
gente nas ruas. Poucos cartazes, mensagens nuas. Quase nenhuma bandeira de
partidos políticos. Muitas, inúmeras camisas agitadas, como se fossem velas de uma
embarcação que ainda não avistou um porto por perto. Se não se sabe o que é certo,
o que é errado está na ponta das línguas e pode ser dito em todas as línguas, pois o
ideal de justiça é universal. O movimento marchará ou murchará? Quem puder, que
mate a charada e descubra que a saída e a entrada podem estar no mesmo lugar.
Percebo um inquietante politeísmo, há muitos e muitos deuses e pouquíssima fé.
Para acordar tanto sono, acalentado por tanto tempo, haja café (café não costuma falhar). Agora, chovem teorias e guarda-chuvas serão indispensáveis. Impensável
é deixar as coisas como estão. Que Descartes dê as cartas para quem quiser jogar,
ou melhor, pensar. Penso, logo...resisto!!

uma só nação

Multidão lá fora, multidão em mim
Em cada uma de minhas esquinas,
bares repletos de garrafas cheias
de alegria, cartas abertas sobre as 
mesas, trânsito fechado para as
ironias. Guardanapos guardando
confissões, confusões divertidas,
imagens invertidas pelo espelho da
lembrança, toda a maldade derretida
pelo perdão. Toalhas encharcadas de 
vagas recordações sem saudade, toda
a eternidade resumida numa só canção.

sábado, 15 de junho de 2013

Passagens

Custam caro as passagens. 
E as portas são muito estreitas, poucos assentos e assentados.
Ainda por cima, há roletas, algumas quase russas.
O tiro pode sair pela culatra.
Jogos de azar, para quem precisa chegar, onde só ganha quem lá não está.
Muitos narizes para janelas tão poucas, paciências tão roucas.
Custam caro as passagens.
E o tempo que não passa, corpos quase assando, passando da hora de descer.
A consciência sacoleja, haja saco e não há quem os veja.
Alegria congestionada, pensamentos buzinando e eu pensando: até quando, até quando?

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Tradução

Sou traduzido pela imperfeição, 
conduzido pela falta,
mas jamais consumido por elas.


Não sou locomotiva nem vagão,
voo baixo na noite alta,
escrevo o torto por linhas retas.


Erro sempre, por ser errante,
bebo tempestades e garoas,
remeto cartas sem destinatário.


Diante do insólito, meu olhar é rasante,
minhas utopias não são más, tampouco boas,
refreio alguns impulsos, sem ser refratário.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

asas

Penso que o dia dos namorados não se restringe aos casais.
Basta ter asas, para ir bem alto, muito além das convenções.
É possível apaixonar-se pela natureza, pela beleza sem
artifícios, amar o próprio ofício. 

Por que não se enamorar pela vida, que nos traz e leva, como faz com as ondas, 
com o sol e a chuva? 
O amor pode não ter um nome e, ainda assim, ele não some.
Andar de mãos dadas com a paz, abraçar-se longamente, como
quase ninguém faz
.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

expectorante

Expectativas são fenômenos pessoais e (o mais importante) intransferíveis.
Quanto projetadas sobre o outro, provocam maremotos emocionais, que
podem amordaçar a paixão, machucar o amor. São travessuras do ego,
numa vã tentativa de subverter a natureza da individualidade, criando ondas
colossais de desconforto. 
Cobra-se o que não é devido e, por isso, não pode (nem deve) ser pago.
Há remédio para isso? 

Talvez.
Quem sabe um revolucionário expectorante, para libertar o que aprisiona
a mente e o coração?

terça-feira, 4 de junho de 2013

mais ou menos

Não sei se te amo mais ou menos

Sei que não te amo mais ou menos

frontal

Sou desacompanhado de bula
Mas tenho efeitos colaterais
Não desisto fácil, sem ser mula
Aprecio papos frontais

Sou um texto sem notas de rodapé
Mais preciso que conciso
Só nado onde não dá pé
E também caminho, se for preciso

Pego o fruto e entrego à terra o caroço
Provo sem pressa, até me lambuzar
Prazer de verdade não prescinde de esforço
O final da história...você vai contar

pouco são

Tampouco quero ser são

como aqueles que tão pouco são

outros sons

A bondade não é perfeita,
como tudo que é bom
O silêncio nem sempre é ouvido,
como qualquer outro som