sexta-feira, 20 de maio de 2016

Defeitos perfeitos

"Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro."
A frase, de autoria de Clarice Lispector, ajudou-me a compreender um mundo de coisas. A crucialidade dos defeitos, das faltas, das fomes, das fobias, dos sintomas. Precisamos dos nossos sintomas ( e eles de nós).
Eles nos salvam do poço sem fundo, dos fantasmas que assombram o castelo de nossas mentes assombrosas. Inconscientemente, rejeitamos os antídotos, as vacinas que poderiam controlar as patologias que escolhemos. Fugimos da cura, não queremos essa cruz. Preferimos a nossa, cujo peso nos é familiar. Temos bolsos do tamanho de nossas carências e não das nossas posses. São exatamente as dores que fazem poses. De tão narcisistas, elas querem luz, câmera e muita ação. Maldito governo, time sem vergonha, pessoa que não quero ver nunca mais, juiz ladrão, vizinho chato. Tempo que não passa, tempo que passa rápido demais, calor insuportável, tanto quanto o frio. Tudo e nada, juntos e misturados. Saturados um do outro. Mas um é pouco, dois é bom e três é demais. Então, deixa como está. Mas não nos peçam para deixar de reclamar! Amando pelo avesso, buscando o sucesso do insucesso. A mando do superego, que não tolera a saciedade. Maldizendo o desejo, por tanto desejar. Só não tirem da gente os problemas. Esta falta (e somente ela) não conseguiríamos suportar!

A vela e o vento

Chuto de trivela e nem olho para saber se foi gol.
Sou a própria vela e, por não ser o vento, 
sabe-se lá por onde vou...