quarta-feira, 31 de julho de 2013

suspiros

Aliás, independentemente do dia,
faz tempo que, enquanto alguns suspiram,
muitos outros piram no SUS.

Dia do orgasmo

O que significa isso exatamente? 
E eu pensando que todo dia seria dia (e até mesmo à noite).
Talvez seja para que alguns se lembrem (e suspirem).
Enquanto outros, quem sabe, se esqueçam (e pirem no SUS).

o ponto

Precisava ser o herói permanente, embora atormentado
por tanta impermanência. Acompanhado por ausências, não
podia ausentar-se.
Deveria ser o que se senta e resolve, o que dissolve as angústias,
de tias e sobrinhos, aquele que vigia o ninho, sem poder nele
se aconchegar.
Precisava saber tudo, estar sempre certo, mesmo que, ao certo,
pouco soubesse de si. E ele, que não conseguia ficar mudo.
Tinha que mover cadeiras e promover mudanças. E nem conseguia
dançar.
Era preciso apagar o passado e pagar pelo que lhe deviam, mas eles
nem viam que ele não teria com o que pagar.
Convinha trazer nas mãos uma porção de sins e de sinos que chamassem
fiéis e infiéis para a missão que só ele cumpriria.
E ria por fora e chorava por dentro, sem perceber.
Sua criança não crescia e seu adulto temia aprender, temia perder,
temia se perder da mão que deveria segurar a sua, até que parasse
de suar.
Por desencontrar-me daquela mão protetora, escolheu a contramão da rebeldia,
em busca de um dia em que não doesse amanhecer.
Deu muitos pontos sem nós, até passar do ponto e encontrar em si mesmo o que tanto esperou em nós.

almas atrevidas

Viver com a intensidade 
que a vida merece ser vivida,
como se houvesse muitas vidas nesta vida,
é para as almas atrevidas.

forma e conteúdo

Meditando sobre forma e conteúdo,
depois de muito estudo,
ao invés de encontrar alguma resposta,
do jeito que a gente gosta,
uma pergunta elementar:
é o requinte dos talheres que aguça o paladar?

quarta-feira, 24 de julho de 2013

guerra e paz

Amo o céu, mas vivo na Terra
Amo a paz, mas meu amor morre na guerra
Nasci na Terra, mas vivo no mundo da Lua
Eu me dispo de guerra e minha alma jamais fica nua

usura

A gente se devora e se regenera,
se recupera de toda, de tanta entrega
A gente varre a censura, 
ri a valer de toda usura,
usa e abusa do que a gente inventa
e nem se importa com a patente,
pois não é lucro o que a gente espera.

terça-feira, 23 de julho de 2013

tempos

Tempos curiosos, 
em que para ser famoso não é preciso ser conhecido
Tempos modernos,
em que para ser amigo não é preciso ter conhecido
Tempos singulares,
em que o reconhecimento não é sequer conhecido

sábado, 20 de julho de 2013

sede e deserto

Somos o que nos faz tremer
e o que nos faz temer
Somos dor e prazer
Quase sempre juntos, como errado e certo
Ou separados, como sede e deserto

sábado, 13 de julho de 2013

extraordinário

Se não houver Sol, 
a gente faz uma fogueira
Se não tiver chuva, 
nos molharemos de outra maneira
Se o relógio conspirar,
nós iremos no sentido anti-horário
E mesmo sem um motivo extra,
certamente será extraordinário

quinta-feira, 11 de julho de 2013

ao cubo

Suas mãos são estranhas escadas,
por onde apenas subo
Ao mesmo tempo, são estradas
que me permitem viajar ao cubo

terça-feira, 9 de julho de 2013

beijo de novela

Minha pele está à flor dela mesma. 
Queima e teima para mais queimar.
Quisera que o mar tocasse nela, 
nem que fosse como beijo de novela.
Uma só vela, para arder e navegar, 
até minha nave chegar.

logo, logo

Se meus olhos estiverem sombrios,
sombras neles não haverá..
são só brios.
Logo, logo, sóbrios irão ficar.

amizade

Amizade não se explica, não se justifica.
Ninguém nasce amigo, amigo a gente fica.
Amizade para que? Amizade não é vacina.
Amizade por que? Amizade não se ensina.

ao me ver passar

As melhores viagens não exigem passaporte. Basta passar pelas imensas portas da sensibilidade. Aliás, estou farto de carimbos. Não sou isso ou aquilo, nem omisso
nem esquilo. Anseio por pontes, em todas as partes, por partes que se associam,
que se encaixam, sem nos colocar dentro de caixas. Nunca fui caxias, abacaxis foram
feitos para saborear. Amo o sabor do ar, dos ares, do mar, dos bares exist
enciais
onde me embriago de talvez. Era uma vez alguém que já não sou, um sino anunciando
o princípio do até quando, coando suores para que perdurem somente os melhores.
Guardo comigo os odores das surpresas incandescentes. Sopram em meu ouvido sopranos e tenores, anteriores ao que a razão oprime. Quero e muito tudo que rime
com alforria. Quero que meu corpo sorria, ao me ver passar.

a recompensa

E então, eu cuidei do melhor que eu fiz
Como recompensa, um mundo de motivos para sorrir
Ainda que todas as minhas esperanças sejam escritas com giz,
com toda a chuva e vento, elas irão persistir

sede de saliva

Talvez eu não seja imortal
Tal e qual a rocha que medita
Certamente não trato a sede com sal
Mas a saliva me salva da vontade aflita

tanto quanto

Os homens sofrem com o mais e com o menos
Tanto os inquietos quanto os supostamente serenos
Os homens sofrem com o tudo e com o nada
Tanto os que balançam a rede quanto os que sacodem a estrada
Os homens sofrem com o longe e com o perto

Tanto os que mal enxergam quanto os que não fecham os olhos no momento certo