domingo, 15 de fevereiro de 2015

Whiplash

Cem por cento!!
A meta? Nada disso, apenas o começo de um caminho longo e dolorido.
101, 102, 103...suor, lágrimas, excelência, cada qual na sua vez.
Bom trabalho é expressão proibida, elogio que arrefece.
Todo virtuoso tem as cicatrizes que merece.
104, 105...onde estão meus dedos, minhas mãos, meu orgulho, que já nem sinto.
106, 107, 108...a porta está aberta, mas só para expulsar o mais afoito.
O melhor, o diferenciado é aquele que se abastece, sem precisar ir ao mercado.
Engula seus pecados, leia os recados que lhe manda sua inconsciência.
Aprender sem desaprender, ultrapassar um a um os limites conhecidos
equivale a suportar toda penitência.
Testado mil vezes o aprendiz,
detestado um milhão de vezes o professor,
a aprovação é dada por si mesmo, como o mestre diz.
É preciso ser, mais do que sentir amor.
Penetrar nas coisas e não somente saber como elas são.
Primeiro ser perfeito e só depois buscar a perfeição.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

A arte da perda

Se a perda é arte, somos todos artistas, então. Tão perdidos, nos perdemos do que se desvencilhou da gente, com ou sem inúteis arrependimentos. Curiosamente, colecionamos essas perdas, na tentativa de não nos perdermos delas. Guardamos o que já não temos, pois tememos não nos ter. Mas o que será ter-nos, se não somos eternos? Sejamos ternos conosco, mais que a finitude o é. A finitude é infinita, a morte é imortal? Quem souber as respostas, por favor, publique-as num jornal que eu não leia. Deixem comigo as incertezas fundamentais. Não quero perdê-las. Para que ser artista o tempo inteiro? Até porque prefiro o tempo fatiado, dividido. Assim, terei uma chance de dominá-lo e dele me perder, com arte.

domingo, 8 de fevereiro de 2015

conversas afiadas

Interditemos as conversas fiadas. Brotem as conversas afiadas, dessas que atingem a jugular da questão. Botemos nossos botes para navegar nas tormentas de ideias sem tempo, sem idade nem vaidade. Ideias de verdade. Inteiras, como tudo que está no nosso meio. Fiquemos de tocaia, para dar o bote em almas que, avisadas do perigo, fogem de todo e qualquer abrigo. 
Quero me expor, subir e descer escadas num salto, sem sobressalto. Banir o salto alto de olhares, de posturas impostoras. Arrancar os botões da ousadia, para que ela sinta como é gostoso livrar-se do cinto e de tudo que aperta, oprime, sufoca, estreita.
Sinto que a hora é essa, que pode e será bom à beça. E não há nada, mas nada mesmo que impeça.
Feijão com arroz só se o tempero for destemperado, como sou. Que me importa o que dá certo, se essa certeza jamais me elevou? Talvez não saiba por onde vou, mas sei que não será em vão. E aqueles que se escandalizam com o que não acham são, talvez descubram um dia que, depois de toda a escalada, finalmente alcançaram o chão.

idiotices charmosas

Todos querem. Ou melhor, parecem querer. Ou pior, querem parecer.
Que todos errem, por ser da espécie, mas que se ferrem as idiotices
horrorosas. Já que parecem inevitáveis, pratiquemos idiotices charmosas.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Vida e amor

No começo era o verbo (viver). Mas a espera e o encontro com o amor é que justificam e dão sentido à vida. A vida é só um veículo. O amor é a estrada, o caminho e a chegada. Se não houver amor, nem se pode afirmar que há vida. A carência é ávida, porém o amor é mais que a vida.
E mais: a existência do amor, sua afirmação cotidiana não são sinônimos de namoro, de algo que se pratica a dois. O enamoramento pode ou não conduzir ao amor. Este é muito mais que troca de carícias, muito mais que jogo de sedução, que troca de presentes em datas festivas. O amor é o presente em si, a mais extraordinária festa que ocorre em cada um de nós. E ele é um fenômeno pessoal, intransferível. É nesse sentido que podemos afirmar que não "amamos alguém" e sim "amamos com alguém". Aquele amor estava em você antes e prosseguirá em você depois, ainda que o romance se desfaça.
Por isso, faça as pazes consigo mesmo, acaricie-se, apaixone-se pelo ser inconfundível que você é. Mesmo quando se confunda amor com tesão, estar a sós com solidão. Creia: é impossível ser sozinho feliz. Ou seja, descobrindo e desenvolvendo toda a potencialidade do amor natural que se encontra em você, a felicidade será sua companheira. Sorrirá com e para você, acordará e dormirá em seus braços. Com quem compartilhar esse tesouro? Apenas com quem compreender que ele vale muito mais que ouro e que ninguém poderá jamais tirá-lo de você.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

cafuné

Nesta sociedade do espetáculo,
parecer ser vale mais que ser o que se é
A aparência é nada mais que um tentáculo
que aperta e sufoca, sem fazer sequer um cafuné

amor e saudade

Dizem que a palavra saudade só existe no nosso idioma. Mas pessoas de qualquer ponto do planeta, certamente, podem senti-la. Portanto, sentem, mas não podem expressar o sentimento, em uma só palavra. Saudade é a presença da ausência, é, muitas vezes, antevisão do porvir, presságio bom, é o barco partindo, avião decolando, carta ou e-mail que se espera, telefone que ainda não tocou, dia, hora, minuto e segundo certos para o grande momento, gestado não no ventre, apenas, mas no corpo e na alma, aflitos, sedentos. Saudade é final de algo, que logo recomeçará, é o nada repentino, que se materializará, é domingo que leva o sábado, é dezembro que engole o ano, é o dia que esconde a noite, é tudo que se despede, com a promessa de reaparecer, seja lá como for.
Amor é esquecer o tempo, é, parado, percorrer as avenidas do pensamento, é perder as contas, é fazer de conta que não há mais nada a fazer, senão...amar. Amor é o Sol se pondo, é o dia nascendo, é o céu chovendo verdades infinitas, azuis, estelares, universais. Amor é aos pares - aos milhares, aos milhões, iluminando os porões, libertando os sonhos, enfeitando os corações.
Amor á atributo dos deuses e de todos que, simplesmente, ousam amar.
Amar e sentir saudade é beber a água mais pura e refrescante, é sentir sede e daquela água lembrar...e precisar...e beber...sem jamais se saciar.

falta e desejo

Falta de água, de luz, de ar puro
Falta de vergonha na cara e de um mundo seguro
Muita estética e rara ética
Farra com dinheiro público cada vez mais eclética
Pouco conhecimento e pouco salário
Fortunas escondidas dentro do armário
Ódios disseminados em nome da religião
Árvores voando e aviões caindo no chão
Mas se é na falta que o desejo acontece
Desejemos bem forte para que nasça a vida que a gente merece.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015

lua rural

Já é madrugada. Hora de acordar. Pois os acordes são mais bonitos
assim, quando solamos juntos, tim tim por tim tim.
Já amanheceu. Como saber se esse sonho é meu ou seu? Se ele está
emaranhado em nossos braços e nos traços do inconsciente, coletivo
como o ônibus. Pois abriga tantos desconhecidos, sósias de nossos
delírios tão singulares e plurais.
Já anoiteceu. É tempo de ouvir os mugidos da lua rural, à espera do
sol, seu touro astral. O companheiro quase impossível, que a apaga aos

poucos, tornando-a imortal. E, como tal, ele se apega como poucos e
espalha nela todas as coisas, como faz o vendaval.

água e luz

Com tanta falta de água, ainda tem muita gente lavando as 
mãos, como fez Pilatos.

Talvez seja a falta de luz, que apaga a visão da sujeira e de outros maus tratos.

A busca da imperfeição

Admiro o que não é admirável por muitos. Valorizo os que creem ter pouco
e, por isso, têm muito a dar. Vasculho as estrias das estradas e elas me levam onde desejo chegar. Perco-me de coisas que não precisam me encontrar. Esqueço as letras e nem por isso deixo de cantar. Tropeço nas próprias pernas e continuo a dança, ainda que feito criança aprendendo a andar. Não decoro citações, mas decoro minha vida com incitações à alegria e à irreverência leve, que me entrega ao equilíbrio relativo ao qual me habituei e hei de suportar. Assisto a um filme pela segunda vez como se fosse a primeira e é assim que me emociono de novo.
Afinal, tudo será sempre novo. desde que rejuvenesçamos o nosso olhar.