Intrigam-me as certezas! Num mundo povoado por relatividades,
prefiro ficar mudo, diante de afirmações sem prazo de validade.
Há quem se orgulhe de jamais voltar atrás, anos, décadas gestando
as mesmas idéias, ruminando conceitos e preconceitos, tratados
como irmãos de criação. Essa insólita imutabilidade é usada como
impermeabilizante, um escudo protetor contra o movimento, as
nuances, mantendo a gangorra estática, essa é a tática.
A ciência reformula suas teorias, a religião procura acompanhar as
novas tendências dos fiéis, até para mantê-los como tais, os
ciclos da natureza sucedem-se, no clima, nas marés, na flora.
Mas, lá fora, almas engessadas ostentam sua enfadonha previsibilidade,
tentam subjugar desejos, que as deixariam sem o controle de tudo.
Os objetos de desejo estão por toda parte, desafiando, seduzindo
os que desejam não desejar. Mas a resistência é gigantesca.
E sem controlar o externo, o mesmo ocorreria com o que está dentro.
Sabem extamente o que farão, sentirão, com espantosa antecedência,
desprezando qualquer margem de erro. Afinal, sempre foram assim,
não se surpreendem com absolutamente nada, em si mesmos.
Começam a ler o livro pela última página e não chegam ao prefácio.
Não é fácil a saga de quem entra no mar sem querer se molhar.
Já conhecem o final de todas as histórias.
Ou será uma só?
“As convicções são prisões.”
Friedrich Nietzsche