quarta-feira, 9 de março de 2011

enchente e vazante

A chuva chegou sem avisar. Em poucos minutos, 
a água ultrapassava os joelhos. Os passos eram lentos,
temerosos. Um bueiro, um estúpido buraco, o desconhecido
que sempre representa risco iminente. E o carro estava
longe, obrigando à longa travessia. Algo cai, em direção
à correnteza. Os dedos mergulharam no indesejável, suportando
o constrangimento que se seguira ao surpreendente reflexo de
recuperar algo que perdera, atitude inédita.
Num impulso, pôs-se a tatear, em busca do que ia embora,
deixando uma lacuna indizível, que incomodava mais que a enchente,
pois esvaziava, denunciava a ausência, súbita como a chuva e a ousadia
de enfrentar o asco da sujeira que ela trouxe. Coisas que vêm e que vão,
disso ela entendia muito bem.
Finalmente, consegue resgatar o que vira afundar, naquele insólito mar,
urbano e imundo: uma chave.
O que abriria? Ou seria para fechar?


2 comentários:

  1. A atitude inédita, desprovida de qualquer apego, foi surpreendente e ousada. Talvez, por isso, tenha ficado registrada e, aqui, detalhada em forma de suspense.
    E as cenas do próximo capítulo? rs!

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