terça-feira, 31 de julho de 2012

Dia do orgasmo


Hoje é o dia do orgasmo!
Que vergonha, eu nem sabia. Certamente, nem o sabiá.
Mas ele, apesar da imperdoável ignorância, não deixaria de cantar para sua parceira e, de toda maneira, os dois sabiás que não sabiam assim mesmo dançariam o balé esquisito, que deixa todo mundo aflito só de pensar. 
Ficaria o dito pelo não dito. O periquito e a periquita, é claro, passariam a noite em claro e, mesmo sem esse especial motivo, também iriam comemorar.
Li, não sei onde, que há mulher que esconde não conseguir chegar lá.
E o que pensa e faz esse homem que também esconde seu medo e prefere manter o segredo ao invés de simplesmente...mudar?
Orgasmo tem até o tatu. 
Para que transformar em tabu algo tão natural?
Orgasmo urbano, orgasmo rural, orgasmo humano, orgasmo animallll...
Orgasmo singular (nas duas acepções), orgasmo plural (em todas as posições), orgasmo virginal (em súbitas erupções), orgasmo simultâneo, subterrâneo...são muitas as opções.
Orgasmo, cá entre nós, é muito mais do que muitos se julgam capaz.
Orgasmo, sem nenhum sarcasmo, acontece até no sono. 
Orgasmo não tem dono.
O melhor orgasmo é estar em paz !

terceiro tempo


Não esperem de mim que eu faça cera, torcendo pro jogo acabar
Torço o nariz para o pouco, meu jeito louco é o infinito sonhar
Esquivo-me das tréguas, há milhões de léguas que meus pés podem alcançar


Se cansar, não corro pra sombra, pois não me assombra o peso das pernas
Leio três livros por vez, mas nem sempre termino. Quem sabe as histórias terminam ficando eternas
A lógica é tão escorregadia, que derrapo em suas poças internas


A água não esfria o corpo quente, um calor que só a gente consegue produzir
Mesmo se acabar a brincadeira, haverá outra maneira de te fazer sorrir
Minhas rimas não pedem vênia e cada vez mais veneram o extasiante porvir

domingo, 29 de julho de 2012

Vontade com pimenta


Presta atenção no antes, naquele segundo quase interminável que antecede, que prepara, que para o próprio tempo, que se encanta e se esquece de passar.
Abraça esse instante, antes que ele se despeça. Não tropeça na censura passageira. Segura a onda, a poeira irá baixar. Respira esse ar embriagante e brevemente infinito, com o fito de ser presenteada com torpores, odores e cores quase celestiais, que afugentam muitas das dores que havia antes e você já considerava quase normais. 
Arrepios esguios você experimentará, um súbito sabor de menta que refresca a memória do futuro já vivido na insubmissa imaginação, que tem sempre um olho na missa e o outro na missão.
Vontade com pimenta, que arde gostoso, que condimenta, que inventa maluquices tão espertas que quando você desperta não deixa de sonhar.
Deixa a porta aberta, que ela não se importará.
E a cama deserta...de tudo que nela não é imprescindível ficar.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Desespero


Não digo coisa com coisa. Seria muito chato.
Digo de muitas maneiras, sempre escancarando as torneiras,
escandalizando as trincheiras da patética normalidade.
Profiro a ética da palavra selvagem, sem cabresto.
Firo a calmaria, para que sangre novidades.
Prefiro arriscar a alma do que riscá-la do mapa das nações soberanas.
São profanas minhas utopias. Não verto sobre as pias a água de mãos lavadas.
Elas são levadas, inventam itinerários, invertem os horários da prontidão.
Minhas mãos falam o idioma de minha língua, conhecem o paladar da liberdade,
trafegam em tuas costas suadas e ofegantes, na contramão do que conhecias.
Quando ias eu vinha, para que fosses outras tantas, em parábolas tântricas, sem parar, sem esperar que esperes, por saber que queres desesperar.

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Se é

Que venha aos meus a seda de seus lábios
Que eles cedam aos seus a senha dos beijos sábios
Inebriado com o tato, o rosto e todo o resto ficam sedados
Um vagalume acende o caminho
que apaga a distância...
Se é que estamos separados

quarta-feira, 25 de julho de 2012

essencial


Há suores que o banho não deveria me tomar, 
entregando ao ralo. 
Nos porões dos meus poros 
há um clamor por aquela essência de que falo. 
Eles não querem vertê-la.
Eu a quero ver
e quero tê-la.

terça-feira, 24 de julho de 2012

Início


Qualquer dia desses, 
nossas teimosias se encontrarão,
na frente de um quiosque, 
no meio de um bosque, 
atrás da inocência perdida. 


Qualquer dia desses, 
nos perderemos do caminho costumeiro
e vagaremos descalços por calçadas estrangeiras.
Abandonados pelo vício, 
retornaremos sem querer ao início.


Como isso vai acabar?

segunda-feira, 23 de julho de 2012

tratos e retratos

O pássaro arranha a manhã em seu voo errante
Uma aranha percorre a maçã no mesmo instante
Milhares de vidas envolvidas em suas âncoras mortais

Mil olhares dissolvidos por distrações banais
Cigarros entupindo a respiração do tédio
Carros arrastados pela pressa sem remédio
Um sonho embriagado atrapalhando a multidão
Gente feito gado sem pasto enganando a solidão
Um grito desprezado pelo cínico anonimato
A distância esquecida diante do retrato

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Até quando

Até quando terei de ouvir
suas palavras caladas?
Até quando me apegarei ao caminho
para ver suas pegadas?
Até quando contarei as horas
que não passam tão cedo?
Até quando dormirei mais tarde
para iludir o medo?
Até quando olharei para trás,
à procura do futuro?
Até quando acenderei a luz da ilusão
para me proteger no escuro?
Até quando ouvirei a mesma música,
pensando que é a sua voz?
Até quando fingirei não saber que eu e você
não somos mais nós?

quarta-feira, 18 de julho de 2012

ânsia sã


Você não entende?
Os motivos são loucos
e muito frágeis
Você não entende?
Emotivos são poucos e
nem sempre ágeis
Você não entende?
Essa dor é anciã,
está tão fatigada
Você não entende?
Amor é ânsia sã
Faz...não diz mais nada




Sol da meia-noite

Esta noite, 
entrega tuas mãos às minhas
Deixa que eu te conduza
Vamos dançar no telhado
Ouvir o que as estrelas têm para contar
Vamos contá-las, 

bem devagar
Não tenhas medo, 

não iremos escorregar
Despertaremos lá em cima,
regados pela madrugada

Bocas secas
e peles molhadas
Estrelas também,
mas em outro lugar

segunda-feira, 16 de julho de 2012

A rosa

A rosa mais bonita que eu colhi
não é mais flor
A rosa mais bonita que eu colhi
encolheu
A rosa mais bonita que eu colhi
perdeu a cor
A rosa mais bonita que eu colhi
o vento comeu
A rosa mais bonita que eu colhi
foi cuidada por mim
A rosa mais bonita que eu colhi
não amanheceu
A rosa mais bonita que eu colhi
era mais rosa sim
A rosa mais bonita que eu colhi
se recolheu

Incandescente

Escrevo o que está em brasas, incandescente. O que nem depende de mim.
As palavras entram em transe e saem embebidas em suor e lágrimas. Nem sempre em rimas. O que verto pode vir de perto ou de muito longe. Invariavelmente é um parto incompleto, já que parte da criação ainda se esconde. O que vai ao mundo uiva,
ostentando todo o desespero que resulta desse estranho tempero de verdade e f
icção.
Fique são (é o que ditam os apóstolos da normalidade) !!
Sanidade é tão parecida com santidade.
Mas essa rima, faço não.
Minha poesia é desatinada, caudalosa, não fica prosa de ser o que é.
É indignada, mas não dirá mais nada...se meu coração não quiser.

domingo, 15 de julho de 2012

in dubio

Se eu devolver o beijo roubado
serei condenado?

Uns e outros

O que seria do acessório sem o principal?


Acredita-se que devem andar juntos, mas nem sempre é assim.


Arroz pede feijão, manteiga pede pão, setembro pede primavera, boca pede beijo.
Na contramão, o não impede o sim, a intolerância impede a inteligência, a deselegância impede o charme.


Mas se desarme: amor não impede a paixão, tesão não impede a ternura, promessa não impede a frustração.

O que seria do principal sem o acessório?


Calças cairiam sem os cintos, sapatos machucariam sem as meias, os fins nem começariam sem os meios.

Para que calçadas se não forem alcançadas por pés, braços se não se entregarem a abraços, vidas se não tiverem avidez, certezas se desprezarem o talvez?

sexta-feira, 13 de julho de 2012

sóis



Tenho muito apreço pelos olhares vorazes.

Aqueles que são capazes de devorar fomes,ainda que não saibam seus nomes.

Não reparo tanto nos olhos, mas não há reparo que faça a esse olhar que passa e me atravessa.

Mesmo que eu peça que ele não passe,ou melhor, que não pare de me mirar.

Admirável o esplendor daqueles faróis,que queimam minha pele como fariam sóis.

Fazendo com que meus olhos jamais se sintam sós.

conciliação

Convivo, aos trancos e barrancos, com os tantos personagens que me habitam.
São controversos. Alguns são solidários e catam meus devaneios, por mais espalhados que estejam. Outros desacatam meus versos, proclamando o inverso. O avesso do começo. Quem sabe prefiram o anonimato. Ano após ano, não sei se mato ou alimento a sede de torná-los irmãos. Estendo-lhes as mãos, mas parecem gestos vãos. Pois eles se vão, pelo meu mundo a fora, sem sair de mim. À espera de um milagre ou de algo assim que possa nos conciliar.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

a morte do medo

Sou um pêndulo a te provocar. Para lá e para cá, a hipnotizar.
Sabes que depois de ir, voltarei...mas quando será?
A espera pelo retorno te faz arfar. A mesmice irá zarpar.
Teu ventre é uma harpa prestes a vibrar. 
Entre aspas deverão ficar nossos ditos e feitos.
Eu me dependuro em teus contornos até despencar em teu abismo.
Em torno da ambiência palpitante, a rotina silencia agonizante.
A pele em gotas esgota a fadiga.
Não há quem diga que isso deva cessar.
Acessa os segredos que eu nem conhecia,
confessa que à noite teu medo não dormia,
morrendo de medo de não despertar.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

pegadas

Para que eu me renda,
preciso que você me surpreenda
Não tão devagar, em doses homeopáticas
Capturando com o olhar, mas sem táticas
Pode ser de cara lavada
Melhor ainda com a alma levada
Cabelos e gestos soltos
Pelos eriçados e apelos roucos
Suave blusa a pulsar
Quase confusa engolindo o ar
Pegadas de beijo nos lábios
Apagadas para que as encontrem desejos sábios

segunda-feira, 9 de julho de 2012

hermetismo


Não me sensibilizam os insensíveis. Não levo em conta quem faz contas o tempo todo. As calculadoras são suas bússolas. Entram de sola em todas as divididas, pela ânsia insana de multiplicar pseudos ganhos. Por aqui, invisto em valores que não estão na bolsa. Fui ao mercado de futuros e não voltei. Fiquei somente com os presentes, que são somente sementes, que não irei comercializar. Sinto coceiras diante do cientificismo e do ceticismo lineares. Respiro outros ares, impregnados de aromas sutis, de compreensões incompreensíveis aos que não enxergam o invisível. Meu coração é divisível, sem perder a integridade. Ele se entrega às causas e consequências, sem pausas e sem penitências. Os latifúndios da razão são protegidos por cercas de alta tensão. São pobres de intuição e não têm a menor intenção de baixar a guarda. 
O que os aguarda?
Eles são herméticos, eu prefiro Hermeto. 

Seus encantos são cosméticos, eu me encanto com o cosmos.


sábado, 7 de julho de 2012

dunas

Encantam-me as dunas do deserto, com suas cachoeiras de silêncios, avenidas   de areia e teias de vento. As tempestades soberbas de interrogações, a individualidade enigmática de lugares quase infinitos, que se fundem na superfície da ilusão embriagada. Dois céus paralelos, imensidões indomáveis e adoravelmente livres. A metamorfose incessante escancarando a impermanência de formas e fórmulas. Dias engolidos pelo sol e noites que aproximam todos os corpos, como se copos simbólicos brindassem aos opostos, postos lado a lado, para que se reconheçam no improvável e desconcertante reconhecimento de suas semelhanças.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Luau

Gosto do que deixa a boca aberta
e os olhos fechados por segundos
Gosto da incerteza e da palavra certa
e da sensação de encontrar o melhor dos mundos

Gosto do sorriso escancarado
e da vontade revelada sem rodeios
Gosto do caminho inventado
e de olhar para o mistério sem receios

terça-feira, 3 de julho de 2012

Bacana

Desperte antes do despertador. Descubra as cores, sons e lições do alvorecer.
Olhe com mais atenção para a imagem que o espelho revela, hidrate-a generosamente.
Escove os dentes com a outra mão, percorra seu corpo junto com a água do chuveiro,
seja você por inteiro. Cante e se não souber, invente uma melodia. Coloque mel no café e no
seu dia. No prato, um pequeno pomar. Sem açúcar e com muito afeto.Olhe para o mar, se puder.
Caso contrário, imagine-o em neon. Surfe nas ondas da imaginação e retorne, antes da arrebentação. 
Você se surpreenderá, quando o relógio lhe mostrar que tudo isso aconteceu em tão pouco tempo.
Vista algo leve. Se estiver frio, leve o calor consigo. Sim, você consegue. Cumprimente desconhecidos,
estranhamente parecidos com aqueles que conhece. Desconheça os vícios, eles seviciam a espontaneidade. Ah! Não se esqueça de esquecer de tudo que lhe oprime. Conjugue somente o verbo que rime com seu coração. Não é preciso matar um leão por dia, para sobreviver na selva urbana. Mas é bem bacana ter a suavidade de um felino para que seus saltos, mesmo os mais altos, não despertem seus fantasmas.