terça-feira, 30 de novembro de 2010

prefácio

Chuva acariciando o travesseiro
Sol à espera da cortina abrir
Palavras sedutoras, com caneta tinteiro
E o passado sorridente que há de vir

Cheiro de terra molhada
Sonata de pássaros ao amanhecer
A colcha toda arranhada
pelas peles, sem doer

Mistura de promessas pela casa
Frutas e pão quentinho à espera
Esperança que transborda da taça
Flores que enfeitam o caminho dela

de caixas e gaivotas

Hoje, ao acordar,
sonhei que estava ao seu lado
Entregava-lhe uma pequena caixa,
com tudo que é seu, de volta

Hoje, ao ancorar,
surtei, pois estava alado
Travegava sobre a cidade baixa,
sem tudo que é meu, gaivota

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

caos calmo

Onde está o grito?
Pois a dor está às claras
De tanto nojo, quase vomito
Que se soltem as amarras

Onde está o grito?
Escândalos banalizados
Ninguém se toca, se me irrito
Pudores anestesiados

Onde está o grito?
Se meu clube entrega um jogo
Nada mais do que um rito
O torcedor se faz de bobo

Onde está o grito?
Carros e valores em meio à chama
Eu quase não acredito
Somos tratados como idiotas e ninguém reclama?

Onde está o grito?
Liberdade e respeito algemados

Fica o dito pelo não dito
E corações apostam corrida, acelerados

Onde está o grito?
É uma aventura sair às ruas
O medo está aflito
Onde sepultaram as razões, as minhas e as suas?

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

histórias e estórias

Há muitas maneiras
de contar uma história
De olhos fechados,
abrindo a memória,
de coração aberto,
enquanto a alma chora

Há muitas maneiras
de ouvir uma história
Saltando para ela
ou fugindo à glória
Abrindo a janela ou
esquecendo lá fora

Há muitas maneiras
de escrever uma história
Vertendo a verdade,
sem medo de nada,
ou transformando a metade
num conto de fada

redundante

Não sei se foi ontem demais
Ainda sinto o aroma nas mãos
Não estou certo se serei capaz
de catar todos os grãos

Palavras caíram do colo,
mergulhando em desamparo total
Se mentes surgiram no solo
Ousadias estarão no varal

Já não tenho qualquer pretexto
para ver ou me aproximar
Pouco importa se está no contexto
simplesmente esquecer de lembrar

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

qualquer dia

Visite o que fomos
Primaveras, outonos
Descobertas a céu aberto
Jardins em pleno deserto

Incite o que somos
Abandone abandonos
Descubra que não é errado nem certo
Basta sentir-me por perto

domingo, 21 de novembro de 2010

sem legenda

Se no coração há neve, never
Lembrança esquecida
Mas se deve, é dever
A vida revida

Se perde de vista, reinvista
Fotografia sem grafia
Mas se quiser mesmo, persista
Desafinado desafia

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

(agri) cultura

Plantem pés de oportunidade
Perto do mar, longe do asfalto
Que seus frutos cresçam, com vontade
E sejam distribuídos, sem sobressalto

Observem os poderes do produto
Sem contraindicações e barato
Vazios  ficarão os vãos do viaduto
Além de arroz e feijão, esperança no prato

terça-feira, 16 de novembro de 2010

um dia qualquer

Vento dobrando esquinas
Blues multiplicando azuis
Gaivotas brincando, feito meninas
Um vago sorriso, que intuis

Imagens misturadas à poeira
Estrada que engole o horizonte
Desejo que se come pela beira
Água que escorre pela fronte

Pedaço de qualquer coisa pelos ares
Datas espalhadas pelas malas
Labirintos transformados em lares
E um silêncio persistente que não calas

Luzes que renascem pouco a pouco
Cera que escorre pela vela
A dança do destino, feito louco
Créditos derramados sobre a tela

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

no more

Não esconda. Onda!
Não reprima. Rima!
Não reclame. Ame!

Mais que perdoe. Doe!
Mais que junte. Unte!
Mais que procrie. Crie!

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

les questions

Culpa? Não me serve para nada
Ciúme? É como o carro tentar possuir a estrada
Maldade? O sofrimento que se reparte
Saudade? Quando o desejo é só metade

Dor? O grito do corpo e da alma
Medo? Quando a ansiedade perde a calma
Fuga? Correr levando junto
Mágoa? O vazio cavando fundo

Vida? Não existe nada melhor
Morte? Se for em vida, é bem pior
Indiferença? O coração sem cor
Amor? O melhor de tudo, seja lá como for

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

eterno retorno

Pra te ver sorrir
 
caço pipas e estrelas

onde caiam, só pra vê-las...

pra te ver sorrir


Pra te ver sorrir

cato ripas de madeira

queimo o frio na fogueira...

pra te ver sorrir


Pra te ver sorrir

calço nuvens bem macias

percebendo que dormias...

pra te ver sorrir


Pra te ver sorrir

calo tudo que não seja

ternura e gentileza...

pra te ver sorrir


Pra te ver sorrir

caibo em tua fantasia

faço amor e poesia...

pra te ver sorrir
 
 
ps: ei-la novamente, leia, novamente.

grão

Te liguei para dizer coisas amenas,
erroneamente pequenas,
que caibam no coração.

Tomara que passe a tempestade
e persista a vontade
de irrigar esse verão.

Não importa o quanto doa,
nem que tudo seja à toa...
o verdadeiro sonho é vão.

aqui e agora

Aqui é meu lugar
Agora é o que sou
Aqui bem perto do mar
Agora nem sei onde vou

Aqui não há endereço
Agora é tudo que tenho
Aqui é onde lembro e esqueço
Agora eu vou e venho

Aqui a onda se deita
Agora a dor não existe
Aqui a saudade espreita
Agora nem a tristeza é triste

Aqui o relógio espreguiça
Agora o passado sumiu
Aqui a janela enfeitiça
Agora a ansiedade fugiu

muito além

Cante para mim
a melodia imortal
Conceda-me
o impossível mais normal
Prepare em teus olhos
o melhor olhar
Amanheça meus sonhos
sem tardar
Vista minha alma
com tua elegância
Embriague meus descaminhos
com tua fragrância
Aceite meu silêncio
como trégua fecunda
Embale meu segredo
com a ternura mais funda
Esqueça meus erros,
bem como as conquistas
Compreenda as visões
que jamais foram vistas

ias

Vontades...discrepantes, distantes...vontades
Voam as tardes...discretas, pensantes...tardes

Desejos...iluminados, alucinantes...desejos
Desertos azulejos...coloridos, doloridos...azulejos

Fantasias...abençoadas, abandonadas...fantasias
Fantásticas alegorias...alegres, celestes...como disseste que ias

a vida em postas

Leite derramado
que escorre na rua,
sob a lágrima
que seu olho sua

Amor esquecido
debaixo da porta,
ao lado da notícia
que a chuva recorta

Diante da imagem
que o espelho não gosta,
escreve a ti mesma
e espera a resposta.

sábado, 6 de novembro de 2010

Decisão

As escolhas definem nossas vidas
Destinos ou desatinos
Buscas ávidas ou bruscas dívidas
Saltos diminutos ou de felinos

Optar é escolher e refutar
A cada gesto, algo fica pra trás
Definitiva é somente a vida, enquanto pulsar
Transitória é a semente escondida pelo tanto faz