sexta-feira, 11 de junho de 2010

prova de amor e a efemeridade das coisas

Vi o filme com os olhos hidratados. Afinal, é muita emoção, com situações limítrofes,
em que vida e morte trafegam paralelas. A angústia das perdas, do que cessa,
sem nos consultar, da aflição de sentir escorrer o que parece (parece) ser tudo que temos.
Ao sair do cinema, pus-me a refletir: ora, a manhã linda de qualquer dia, mes e ano nunca
mais acontecerá e, nem por isso, nossos corações apertam-se, por essa irrecorrível passagem. Nunca mais teremos a idade que já tivemos, nunca mais jogaremos aquela partida (ainda que outras se sucedam), o sanduíche delicioso que provamos e arrebatou o paladar não se repetirá, ainda que tantos outros sejam saboreados. Os amigos e amigas com quem convivemos, atualmente, crescem, modificam-se, mudam (de endereço, de perspectivas, de estado civil, têm filhos, trocam de profissão...). Portanto, eles não serão, mais, os mesmos.
Todas as noites morrem no amanhecer, todo os Sóis se põem e, ainda que voltem a despontar no horizonte, será outro Sol, diferente dos demais. Os caminhos que percorremos, diariamente, renovam-se, de acordo com nossa percepção, atenção, estado de espírito. Nós trocamos de pele, constantemente e a pele é o nosso maior órgão, assim, também nós deixamos de ser, fisicamente, o que fomos, embora não percebamos as metamorfoses.
Variamos de projetos, de prioridades, há sonhos que rejuvenscem, outros que se escondem em guardanapos, espelhos, troncos de árvores, palmas das mãos, bilhetes enrugados.
Em suma, a vida coleciona despedidas e, concomitantemente, nascimentos,
surpresas, novidades.
Há porvir por toda a parte, a prover olhares novos, sonhos novos, esperanças nascituras, fantasias que engatinham, em busca da realidade que as adote e as torne adultas.
Assim é a existência - coisas que acontecem, crescem, transformam-se, para que outras cheguem, ocupem seu espaço, floresçam, em moto contínuo. Aí repousa a beleza de ser,
o encanto que surpreende, pela renovação e pela impossibilidade de encarceramento.
Vida é liberdade, é movimento, é o rio que, somente na aparência, é sempre o mesmo.
Portanto, a maior prova de amor à vida é viver, boquiabertos por tudo que esse processo maravilhoso é capaz de nos oferecer. Ele traz, ele leva, releva e nos sorri, infinitamente, pois infinita e imortal é a nossa paixão de estar aqui, com todas as incertezas que nos impelem a prosseguir, a criar, a sorrir, a chorar, a catar desejos, em nós mesmos, a cantar para que nossos temores adormeçam e tenham dias e noites serenos.

ps: este texto foi recitado, ao ouvido de minha alma, novamente. Não sei o motivo, mas acatei a solicitação tácita de relançá-lo ao mar.

4 comentários:

  1. Concordo plenamente: "a maior prova de amor à vida é viver" E devemos fazer isso de coração aberto, dedicando ao próximo o nosso melhor!

    Um beijo carinhoso

    ResponderExcluir
  2. Perfeito, Tatiana!!
    Beijo carinhoso e fátuo!

    ResponderExcluir
  3. Meu querido.

    Eu te respondo junto com Gonzaguinha:

    E a vida!
    E a vida o que é?
    Diga lá, meu irmão
    Ela é a batida
    De um coração
    Ela é uma doce ilusão

    E a vida
    Ela é maravilha
    Ou é sofrimento?
    Ela é alegria
    Ou lamento?
    O que é? O que é?
    Meu irmão...

    Há quem fale
    Que a vida da gente
    É um nada no mundo
    É uma gota, é um tempo
    Que nem dá um segundo...

    Há quem fale
    Que é um divino
    Mistério profundo
    É o sopro do criador
    Numa atitude repleta de amor...

    Você diz que é luxo e prazer
    Ele diz que a vida é viver
    Ela diz que melhor é morrer
    Pois amada não é
    E o verbo é sofrer...

    Eu só sei que confio na moça
    E na moça eu ponho a força da fé
    Somos nós que fazemos a vida
    Como der, ou puder, ou quiser...

    E a vida? É bonita, é bonita e é bonita!

    Um abraço apertado!!!

    ResponderExcluir
  4. Grande e inesquecível Gonzaguinha.
    Sim, claro, é a vida, é bonita e é bonita...

    Abraços lúdicos!

    ResponderExcluir