A saudade não é acidental, ela incide sobre tudo que nos restitui
sensações que nos visitaram, em determinados momentos de nossas vidas.
Embora não haja determinismo na saudade, só se sente de verdade
quando se é surpreendido por ela, que aparece, sem explicação, diante
da janela. Saudade não tem lógica, ela possui a mágica de dar movimento
ao que não poderia mover-se. Fotos acariciadas acariciam, vozes já caladas
se anunciam. Músicas, cartas, lugares, aromas, a saudade está em todas as
partes. É algo que parte partindo a gente. Só percebemos o princípio, sem
fazermos a mínima idéia do máximo de saudade que caberá em nós. Até
quando a sentiremos, até onde iremos, por causa da saudade?
A lua cheia pode encher-nos de saudade. Um verso, o universo de uma
música pode nos envolver na musicalidade da saudade. Seus acordes podem
fechar nossos olhos para a falta. E é aí que sobra mais saudade. Podemos até
ouvir seus passos, subindo a escada, descendo pela pele, transpirando numa imagem.
Ah! Qual são os genes da saudade? Que gênio a criou ou ela é a própria genialidade
do Criador? Pois, mesmo que traga dor, muito mais dolorido seria ser destituído de
saudade. Ela tem sempre remetente e destinatário. É inventário de melodias, na beira
de todos os dias ensolarados de talvez. É guitarra solitária , é cigarra solidária, anunciando
a vontade planetária de querer bem, de querer o bem.
São os dedos da história saltando de uma corda para a outra, equilibrados na ponte inexistente entre a realidade óbvia e a que chega por outras vias. É a súbita visão do que não vias.
É o chão riscado por pés nômades, sempre em busca
da paixão.
da paixão.
São séculos contidos num só olhar, que hipnotiza o cansaço de tantas rotas. Lembranças derramadas pelo caminho para possibilitar a volta.
São cores, odores e sabores. É saber que a sentirás, onde quer que fores.
São ombros tocados com a suave intenção de jamais dar as costas ao que se gosta.
São ombros tocados com a suave intenção de jamais dar as costas ao que se gosta.
É oração com sujeito e objeto. Um jeito só nosso de fazer o mesmo trajeto.
Que lindassssss suas palavras...você tem razão quase todo detalhe pode nos remeter à saudade..que vem e vai se apossando....nos inundando a alma...o coração...tomando conta da gente...nos levando a viagens, sem às vezes, nem sairmos do lugar...
ResponderExcluirBeijos...
Valéria
Belo comentário, Valeria, Bj.
ResponderExcluir"Se a gente lembra só por lembrar...saudade até que assim é bom"
ResponderExcluirSó senti a "saudade amarga que nem jiló" com a sensação de vazio. Quando o objeto da saudade estava fora do meu alcance e ela se calou ou gritou em outra direção. Essa é temporária.
No caminho da saudade fiz um trajeto da saudade doce, que faz meus olhos brilharem, que me faz sorrir (e só eu sei o motivo), que me remete à lembranças inesquecíveis e como é bom. Essa é permanente.
Grande beijo e muita SAUDADE!!!
ai,ai.... a saudade coloca em movimento o que estava parado, dentro e fora. parece um filme em 3D. As fotos, as lembranças, puxa que pensamento mágico esse teu.
ResponderExcluirE nofim, sempre o nosso jeito único de ser.
Gostei da metáfora do filme em 3D!
ResponderExcluirAbraço, Walkyria.
É, Nana, a saudade que permenece, que aquece, que tem por objeto o que está por perto e que se pode apertar, com carinho, é a mais doce e saudável de todas.
ResponderExcluirBeijo, saudade, pessoa que tanto amo!!
Gosto muito da tua poesia, Hélcio, mas tua prosa é ainda mais interessante, forte, envolvente. Não é fácil falar da saudade com tanta propriedade e, ao mesmo tempo, de forma tão original.
ResponderExcluir"São os dedos da história saltando de uma corda para a outra, equilibrados na ponte inexistente entre a realidade óbvia e a que chega por outras vias."... Realidade, tempo, presença e vazio... os mais concretos e paupáveis dos conceitos abstratos. Ou será o contrário?
De qualquer modo, a saudade, uma espécie de esperança em retrospectiva, já sei direitinho o que é... rs
Beijokas.
Esperança em retrospectiva...gostei e pensarei a respeito, Lua!
ResponderExcluirBjs e obrigado pelo carinho!