sábado, 13 de agosto de 2011

a minha, a sua, a nossa

Na poltrona do cinema, nos bancos do ônibus,
da praça, nas cadeiras de praia, da sala de espera,
na mesa ao lado, do outro lado da rua, ao seu lado,
na mesma esquina, esperando a mudança de cor
do sinal...quem está ali, quase invisível? O sinal abre,
mas seu sorriso se fecha e o olhar é quase uma flecha
em direção ao desconhecido. Todos são da mesma
cor ou serão furta cor? São temidos e temem, num
mesmo gemido. O sorriso escondido dentro do bolso.
Quase rostos, quase restos de um grito, no rito diário
da cegueira coletiva, da peneira seletiva que elege os
iguais.
Aprendemos a desconfiar, a nos fiar nas notícias de
tanta desgraça. Mesmo que a vida fique com menos
graça. São as traças do ego, é o nó cego que não
conseguimos desatar, que nos prende aos nossos
medos. Afinal, tudo podem nos levar. E embarcamos
nessa leva de insegurança, não nos permitindo ser mais
levados, como éramos quando crianças.
Assumimos a condição de alvos, mesmo que nossa pele
seja negra. E as setas parecem vir de toda parte. Sentimos
que algo se parte, se quebra, se perde. Perdemos o que
não pode ser roubado. Algo intangível, como aqueles seres
estranhos que nos cercam. E nos sentimos assim mesmo -
cercados, ameaçados pelo visível e pelo invisível, pelo real
e pelo imaginário.
O que sentirão aqueles que chegaram antes de nós ao cinema,
que entraram mais cedo nos ônibus, que madrugaram na praia,
que esperam há mais tempo nas salas...?
Seria melhor que cada um tivesse a sua própria rua?
Confesso que adoro ficar na minha, mas só de vez em quando.
E você, prefere ficar somente na sua?

2 comentários:

  1. ...é o nó cego que não
    conseguimos desatar, que nos prende aos nossos
    medos...

    Absolutamente verdadeiro, meu querido poeta, e escrito daquele seu jeito único e especial. Confesso também que adoro ficar na minha. Hoje sinto menos medo de tudo e isso me libertou muito.

    Sabe, meu pai se parecia com vc. Era um homem bonito, sensível, sedutor, inteligente, bem humorado, romântico e não conseguia passar desapercebido de jeito nenhum. Era o ídolo do filho e a paixão das filhas. Pode ser que me engane muito, mas com vc deve se dar o mesmo.
    Um lindo dia dos pais pra vc.
    Beijokas.

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  2. Clarividentes suas palavras, Lua. Você conversa com a vida, com a sutileza dessa estrada, que nos surpreende e encanta a todo instante. Gosto muito de suas linhas poéticas, desse jeito tão próprio de decifrar códigos não escritos, mas descritos pela voz das estrelas.

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