quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Uma criança chamada verdade

Fatos e versões. Há quem nutra aversão às versões. Há quem considere fatos meras diversões. A História é escrita, de início, pelos "vencedores", que a ela atribuem seu paladar. É o que eles têm para dar - suas versões. Em versos ou prosas, muitas vezes precisamos suportar os espinhos, até que toquemos nas rosas. Quando o Império Romano usurpou povos, roubando-lhe seus bens, o mesmo mal foi vertido em livros que definiram a barbárie como "expansão do Império Romano". Mais tarde, diante da reação dos invadidos, que buscaram retomar o que lhes fora subtraído violentamente, os mesmos autores denominaram a insubmissão das vítimas como "invasões bárbaras". O golpe militar de 1964, no Brasil, foi apelidado de "revolução", até que a tortura, o silêncio, o medo, o sadismo fossem superados, possibilitando que a História fosse reescrita, com outras letras e outro enfoque. É fato que legislação e justiça nem sempre se encontram na mesma esquina. Tanto assim, que a escravidão estava sob o abrigo da lei, embora fosse (como continua a ser) uma monstruosidade.
Fatos e versões. Um vastíssimo e bravio oceano de emoções e motivações que condimentam atos, elevam inimaginavelmente a temperatura do prato, dificultando por algum tempo a digestão.
Enquanto isso, estarão vigorando a fome e a sede de verdade, esta encantadora criança, cuja paternidade muitos irão disputar.

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