sexta-feira, 16 de março de 2012

a gramática da felicidade

Estranha a gramática da felicidade. Cheia de regras ou desprovida delas. Concordâncias absurdas, imagens gritantemente surdas, regências que confundem os verbos, tão infinitivos e tão finitos. A linguagem profunda da existência vale-se de quase silêncios, corrompidos por sons sutis, sutilíssimos. Grilos ocultos (dentro e fora da gente). Gritos e cultos (dentro e fora da gente). E a urgente necessidade de compreensão de tudo ou quase nada, pois o que importa é encontrar a porta certa e fechar as outras. Mas como a gente se comporta diante das vãs tentativas?
Coleciono cicatrizes, atrizes do cinema mudo, representando meu drama diário. Mas Deus não quer que eu fique mudo, por isso, eu mudo, mudo, mudo... Cada esperança que me seduziu está tatuada em meu corpo e na minha alma. Por isso, é assim que vou: tonto e pronto para reconvocar os sentidos, recuperar o fôlego, só para gastá-lo. Quiçá, num estalo, algo surpreendente me descubra (e me cubra de estrelas), misturado às marcas e aos carmas, sem máscaras, às claras.


p.s.: comentário lançado no especialíssimo blog da Suzana Guimarães
postado por Lily em O MEDO DE SUZANA


4 comentários:

  1. Fernando Pessoa já dizia:
    "Dia em que não gozaste não foi teu ..
    Quanto vivas, sem que o gozes, não vives!
    Não pesa que amas, bebas ou sorrias: basta o reflexo do sol ido na água de um charco, se te é grato.
    Feliz a quem, por ter em coisas mínimas a felicidade"
    Em alguns momentos da vida fica complicado essa gramática, como bons alunos vamos tentando assimilá-la.
    Lindo fragmento ,
    deixo-te um abraço grande

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  2. Recebo o abraço e retribuo com a grampatica das coisas simples, simplesmente boas, lis.

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  3. Extremamente interessante o seu texto,no abstrato está todo o conteudo concreto do mundo, no qual vivemos.Gostei muito.Um abraço!

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