terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Je ne suis pas Charlie

Eu não sou Charlie.
A vida tem graça, faz rir e chorar muitas vezes. Mas não é apenas uma piada. Sentimentos obscuros permanecem obscuros, ainda que sejam
expressos sob a embalagem colorida de um gracejo. 
É brincando que dizemos, de maneira pretensiosamente polida, o que
se esconde em nossos porões.
Cresce desordenadamente a população desse condomínio chamado de
humanidade. Na mesma proporção em que crescem os muros que separam as casas desse condomínio e o desejo (manifesto ou tácito) do
exercício de domínio sobre o que se passa nas demais unidades residenciais.
Na ponta dos pés em meio à calada da noite ou a pontapés nas calçadas de todos os dias, eugenias nada geniais e ojerizas glaciais deixam marcas profundas na pele das pessoas.
Piadinhas repetidas incansavelmente transformam-se em chacotas, bullying. O sarcasmo sequer esconde a repulsa pelo diferente. Ao contrário, enfatiza o desamor, a intolerância, a exclusão.
Repudio todas as formas de violência (física, psíquica, intelectual...).
Por isso, não sou Charlie. E, se um dia o fosse, seria Brown ou Chaplin.
Pois sou a resultante de todas as criaturas misturadas. Graças a Deus!
Mas também brindo aos ateus, aos judeus, aos muçulmanos e, acima de tudo, ao que de mais humano há e sempre haverá na gente (pelo menos em quem verdadeiramente gosta de gente).

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