quarta-feira, 5 de março de 2014

por fora

Preconceituosos do mundo inteiro, uni-vos!
Sim, agrupem-se, bem juntinhos. Ouvidos, narinas, olhos bem abertos para o que tenho a lhes dizer.
Pasmem, não sou branco, não sou pobre, não sou mulher, não sou manco.
Portanto, sou e não sou alvo (aliás, nem um pouco alvo sou) da ira de vocês, por ser um misto de proletário e burguês, filho de branca com mulato, a faculdade até que me deu um trato, mas 
meu retrato responde a algumas dúvidas, mas nem todas.
Mas isso só em tese, pois resolvi que, diante de vocês, serei negro, mas também mulher, homossexual, nordestino, pobre, como outro pobre qualquer, analfabeto de pai e mãe (solteira), prostituta, mas astuta o bastante para saber excluir quem me exclui e, pior ainda, não possui a mínima capacidade de penetrar em meu corpo e muito menos na minha história, em minha memória. Quero milênios-luz de distância daqueles que desconhecem a luz, que carregam a cruz da impiedade, da indiferença.
Sem qualquer ofensa, vocês precisam comer muito feijão para subir o morro com a lata d'água na cabeça e samba no pé, além de segurar o moleque com uma das mãos.
Mais Lincoln e menos Bush, mais Geni que Zepelim, mais Lapa que Morumbi, menos Caxias que Zumbi.
Mais miscigenação e menos fronteiras. Mais oxigenação e menos besteiras.
Que as diversidades espalhem-se e despoluam, uma a uma, todas as cidades e mentes.
Atavismos não são eternos, intolerâncias também não serão.
Preconceituosos do mundo inteiro, unam-se aos diferentes e vocês terão a maior surpresa de suas vidas: somos todos muito parecidos, por dentro. E quem não perceber nada disso...está por fora.

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