segunda-feira, 23 de julho de 2012

tratos e retratos

O pássaro arranha a manhã em seu voo errante
Uma aranha percorre a maçã no mesmo instante
Milhares de vidas envolvidas em suas âncoras mortais

Mil olhares dissolvidos por distrações banais
Cigarros entupindo a respiração do tédio
Carros arrastados pela pressa sem remédio
Um sonho embriagado atrapalhando a multidão
Gente feito gado sem pasto enganando a solidão
Um grito desprezado pelo cínico anonimato
A distância esquecida diante do retrato

10 comentários:

  1. Por que seus poemas me engasgam?
    Por que seus versos os meus gritos travam?
    Por que tantas perguntas e tantas explicações
    sem dúvidas?
    Por que faz vc, de nós, uma multidão de túnicas?
    Que sensação estranha, companheiro...
    Nao sei se boa ou se má...
    um tanto moderna, um tanto passada, complexa, rústica...

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  2. frô, seu comentário me engasga, trava minha respiração por segundos, multiplicando minhas dúvidas, despindo-me das túnicas inconscientes...Que sensação estranha, intransitivamente estranha, talvez, por remeter às entranhas.

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  3. Sincronicidade
    A vida se desdobra
    atravessa a cidade
    por tantos caminhos se enfronha.
    A dor se esconde atrás da vaidade.
    O tempo não cala e cobra
    A consciência enfadonha
    Entrelaça a memória,
    persuade a entranha
    e corrompe a história.

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  4. Corrompida a história,
    sobra memória
    para outra história contar.

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  5. Me doeu um pouquinho quando a solidão, lendo de leve as linhas corridas, sussurrou nos meus ouvidos que não iria embora...achei que a tinha enganado, mas ela só me enganou por um tempinho, fingindo que podia ir embora de vez...como gado pastando na multidão, chamaram meu coração para o abate. Tenho tanta gente comigo, tanta gente boa, honesta, amiga, tenho tanta gente comigo, e ainda assim tão sozinha... não há quem me entenda...e quem disse que entendia, mentia sem saber. Te ler é sempre assim, correm rios de pensamento ao chegar no ponto final, é um início de devaneio, um final de monotonia, a letra maiúscula de algum comentário estranho.

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  6. Maiúscula é essa capacidade de surpreender, sem prender a imaginação, Alice.

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  7. Hélcio, sua poesia marca, desata, destrói imunidades. Suas palavras desafiam o tédio de todas as idades e acertam na mosca, sem margem de erro, nem para mais, nem para menos. Sua poesia ignora o resultado de equações que não abriguem o ser humano e nos deixa de presente um outro olhar que se derrama.

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