sábado, 21 de dezembro de 2013

felicidade clonada

Felicidade, no passado, era um estado de alma, um estar em calma que alcançava territórios imensos, antes de tocar o corpo. Tratava-se de algo que acometia todos os mortais, como se fosse uma chuva torrencial penetrando os orifícios da terra, um soberbo ofício que anjos praticavam generosamente, em prol dos humanos.
Contemporaneamente, felicidade deixou de ser presença, para se transformar em ausências: de angústia, de ansiedade, de frustração. Criou-se a felicidade química, anunciada em receituários e vendida nas melhores lojas do ramo.
Assim sendo, há advertências na bula, efeitos colaterais, dentre eles a perda da possibilidade de ficar triste. Que tristeza! Felizes o tempo todo, a toque de caixa (após passar no caixa das drogarias), somos cobaias de nossos medos, presas muito fáceis para fantasmas recorrentes, que já nem precisam mais de correntes para nos assustar. Mas integramos a bizarra corrente dos contentes, Polianas pós-modernas, a ostentar sorrisos clonados. Quem sabe, um dia, tenhamos acesso aos sorrisos siliconados.
Felicidade por decreto é o caminho mais reto e, portanto, mais curto para promover um curto-circuito em nossas emoções, deixando-as a mercê da indústria da superficialidade, do prazer tirânico e banalizado, com que nos conformamos em buscar cega, tola e avidamente.
Reivindico o direito de não estar sempre nas nuvens, como único caminho válido para suportar a felicidade que incide naturalmente sobre nós e coincide com o que há de mais autêntico em nossos corações.

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