quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Glória

O Chile embelezou minha terça com uma história de primeira. Uma mulher jovem, à beira dos 60 anos, transpirando vida por todos os poros, iluminando os porões da desesperança que poderia acometê-la, revela-se à luz de si mesma. Os desenganos não
conseguiram desenganá-la, as dores não foram capazes de torná-la incapaz, a insegurança não a segurou entre quatro paredes assépticas. Ela colocou seu bloco nas ruas, despreocupada com quem a seguiria ou riria de seu en
redo. Não se acovardou diante dos tantos e tantos medos e dos arremedos de homens que atravessaram seu caminho, sem merecer o compartilhamento de seus travesseiros. Faltava a eles a compreensão sutil de suas sublimes travessuras. A usura de sensibilidade foi insuficiente
para travar o entusiasmo intransitivo de Glória. Ela penetrou nos mesquinhos, muito mais efetivamente que a mesquinharia deles naquela mulher de todas as idades, dessas flores
raras que talvez habitem jardins de qualquer cidade, mas cujo aroma tem a capacidade de encantar. Glória não é uma sonhadora, ela é o próprio sonho de um mundo que acolha todo mundo que tem tempo para sonhar e coragem para prosseguir, depois de acordar.

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