sábado, 22 de fevereiro de 2014

Quem tem medo de Virginia Woolf?

O absurdo das realidades, muito mais estarrecedor que o das fantasias, faz cabeças e corações girarem, junto com o cenário. Personagens e platéia embriagam-se com as doses sucessivas de ácida ironia. Não há heróis ou vilões, aquelas pessoas, agrupadas em casais, vivem hipoteticamente em qualquer lugar, condomínio, vila, pequena ou
grande cidade, às margens de um oceano revolto de revoltas, capaz de promover reviravoltas em estômagos despreparados para a digestão difícil de situações dificilmente inexistentes aqui e acolá.
A realidade do absurdo é traduzida, engolida, abduzida por todos, mas na base da pirâmide quem admitiria o irrefreável desejo de demitir o empregador? Sobreviver aos jogos, cujas regras são desconhecidas, constitui-se em meta obsessiva que vai, aos poucos, desconstituindo valores, dissolvendo subjetividades, entregues à sorte ou ao
azar de dados que rolam como cabeças não pensantes, como escadas rolantes que transportam sempre para o mesmo não lugar.
Amor e ódio, ódio ao amor, amor ao ódio, pares de opostos dispostos a elevar a indisposição à estratosfera, feras habituadas às garras, às guerras sempre frias, ainda que em meio a incêndios sucessivos, que reduzem todas as cores a cinzas.
Quem tem medo das correntes, das correntezas que arrastam para o fundo da superficialidade recorrente?
Quem tem medo do lobo mau? E quem é bom, ao deixar-se devorar pelas presas, suas ou alheias, que abrem as portas às escravidões?

Quem não tem medo de desvirginar lobos?

Nenhum comentário:

Postar um comentário