quarta-feira, 16 de maio de 2012

A dança

Confidencia-me uma amiga: mudei muito desde que casei: terminei a faculdade, troquei de emprego, melhorei o salário, renovei o armário, aprendi inglês e o idioma da independência, mas ainda havia uma pendência, por isso me matriculei numa academia, tinha deixado o corpo de lado...até que reparei que tinha ao meu lado um homem que desaprendeu a aprender, que tem preguiça de querer qualquer coisa diferente de tudo que já conhece, que amanhece sempre do mesmo jeito. E me pergunta se eu o rejeito, se estou buscando um pretexto para mudar de endereço.
Será que eu mereço?
Digo à ela que podemos ver imagens bastante diferentes da mesma janela.
Mudamos a todo instante, mesmo imperceptivelmente. A questão é para onde apontam as setas das transformações. O grande lance é quando as mudanças conformam-se em danças, num incrível pas de deux, em que duas individualidades bem definidas, encorpadas, atingem a maturidade fantástica da sincronia, mesmo convenientemente separadas, bem entendido que movimentos diferentes harmonizam-se exatamente pela perfeição das diferenças, sem ofensas ao entrosamento, encaixando-se como peças de um fabuloso quebra-cabeças. Não é preciso quebrar a cabeça para entender, não se trata de teorema. Fica bem mais fácil quando o casal rema na mesma direção.








2 comentários:

  1. Vou comprar um rolimã e voltar a dançar que essa vida de regras mais rígidas que morto congelado é chata que dói ! Sorte ver a vida por trás de olhos mais poetas, mais sensíveis, mais amenos, sorte ver na vida apenas problemas pequenos e grandes felicidades ! Sorte ter na vida momentos em que só ler já me leva longe, sorte encontrar por acaso lugar pra ler isso tudo e lembrar que remar era tudo. Remar era tudo e eu já sabia.
    Abraços !

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  2. Remar, rimar, rumo à felicidade.
    Abraços, Alice.

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