quinta-feira, 29 de agosto de 2013

via das dúvidas

Penso nos certinhos, nos previsíveis, nos irritantemente estáveis. Aqueles que falam sempre baixinho, polidos, infalivelmente corretos em suas casamatas existenciais. Os que jamais soltam um palavrão, nem na hora certa. Se não soltam, fica preso, engasga. Nunca sentem raiva, apenas discordam. Seus erros são comedidos, bem como seus acertos. Erram muito pouco e arriscam pouquíssimo. Impecáveis...parecem desconhecer o sabor da fruta proibida, da pipa cortada e aparada, do pecado assumido, saboreado, dos pés no chão...de estrelas, do amor à luz do sol e da lua, no mato, no telhado, no teto da rua. 
Penso nos perfeitos, simétricos, inabaláveis. Talvez desconheçam a deliciosa catarse de xingar o árbitro, o político corrupto, de urrar de felicidade diante do êxtase de um gol, de preferência, em impedimento. 
Penso nos que se impedem de ser tudo que eventualmente poderiam ser, nos que não saem de sandálias, não esquecem datas, não odeiam gravatas e brav
atas.
Penso nos que estão sempre bem passados, esquecidos de que o futuro deverá ser um presente. Nos que não se amarrotam, naqueles que arrotam algo que não cheira bem, que não é bem nem mal, é alguma coisa neutra, como flores artificiais.
Penso nos que não fazem arte, não pintam o sete, não se viram do avesso, em quem coloca gesso na espontaneidade, no improviso, no inesperado. Gostariam eles de pegar um toró daqueles, abdicando das marquises? De se empapuçar, lambuzar-se de talvez?

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