domingo, 14 de dezembro de 2014

superfície abissal

Não me poupo, então, não me poupem. Quero suar, até que o suor
chegue à fadiga e peça penico. Mas que seja somente o bom suar.
Por isso, bon soir, amigos e amigas de tudo que é incandescente,
o que pulsa forte nos pulsos da gente!
Os ociosos colocam à venda seu tempo. Os ansiosos colocam suas vendas e compram esse tempo, sem saber se o beberão como remédio ou se todo o seu tédio virará passatempo.
Eu pego carona nas asas de um passarinho e me entrego ao vento
lento, sem pressa alguma de que ele pouse no ninho. Amanheci saboreando distâncias incalculadas. Dunas de imprevisão deixando em ruínas todas as rotinas e promovendo um alvoroço na calmaria dos urubus. Carícias inestéticas na areia, que arranhava a sola dos pés,
transformadas em molas. O corpo e a alma em festa, revelando toda a anarquia de sua alegria, em mil e tantos decibéis. E quanta luxúria no luxo das ondas que lambiam meus passos e abraçavam meu olhar, qual anacondas.
Venham a mim as escadas, com seus degraus e graus de inclinação, por mais que hoje eu esteja inclinado às planícies.
Pois o que mais quero é deitar e rolar na superfície abissal do mel e do sal que há em ti, meu amor.

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