segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

tobogã

No labirinto hedonista em que nos encontramos, é proibido ficar triste.
Mas também não é permitido sentir-se satisfeito por muito tempo. Tristeza passou a ter por sinônimo depressão. Satisfação tem a conotação de zona de conforto, estagnação, acomodação. Na ausência
de alegria, pílula. Constância de alegria? Uma pílula!!
E lá vamos nós passeando no tobogã existencial, vestidos de vertigens
e miragens. Nas prateleiras, bem à mostra, amostras de corpos perfeitos,
personalidades perfeitas, comportamentos perfeitos. É imperioso ostentar
corpos, mentes e perfis com pouco teor de gordura. Curiosa e paradoxalmente, é preciso ocupar menos espaço físico para conquistar
mais espaço social.
Conectados dia e noite, somos fustigados por uma solidão tão incorpórea
quanto as amizades virtuais. Adotamos progressivamente contornos mais virtuais que virtuosos. Como surfistas sem pranchas, vamos nas ondas,
entramos nos tubos, mas morremos de medo de afogar-nos na arrebentação. Só treinamos nadar a favor das correntezas, em direção
às "científicas" certezas que são despejadas sobre nós como esgotos nos
rios e oceanos. E assim esgotados pela perversidade de tantas metas,
aturdidos pelas direções tão opostas de tantas setas, precisamos de um
tempo só para nós. Uau, como é gostoso soltar os nós apertados e redescobrir prazeres antigos, como andar com os pés no chão! E sem renunciar à delícia de voar com as próprias asas.

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