quarta-feira, 9 de julho de 2014

a derrota do personalismo

Que a musculosa derrota para a Alemanha nos liberte do culto à personalidade. Transformamos simples mortais, gente como a gente,
de carne e osso, em semideuses. Superestimamos habilidades específicas, esquecidos de que todos as temos, em maior ou menor
intensidade, em outras áreas. Cortes de cabelos, tatuagens, gírias,
trejeitos, mil bobagens são repetidas como mantras, em delírio coletivo
assustador.
O desfecho precoce da Copa reconduz nossas vidas às nossas vidas.
O deslocamento da realidade para a ficção, a conversão de pessoas comuns em super heróis amputam os nossos poderes reais, verdadeiros.
Eles (os heróis) e nós (os torcedores) possuímos dons diversos, alguns
escritos em versos, outros em prosa. Contudo, ninguém é melhor, mais
importante ou menos mortal por isso ou por aquilo.
Contemporaneamente, cidadão e Estado adotam estratégias opostas. O primeiro quer emagrecer, para ser admirado. O segundo quer engordar, para admirar-se. Há excesso de Estado e carência de estadistas. O que se vê aqui e alhures são "estradistas", que pavimentam suas estradas privativas, protegidos por veículos escuros que os conduzem a destinos ainda menos iluminados. Inacessíveis, incomunicáveis, erguem entre eles
e aqueles que lá os colocam muros colossais, pontes levadiças, rios povoados por crocodilos quase tão famintos como boa parte dos e(leitores), que mal sabem ler os sinais de alerta que estão por toda parte.
O Estado não pode e não deve ser um país à parte.
Quem sabe, num dia desses, a gente tome coragem e decida experimentar o palco e deixar na platéia quem sempre esteve lá, sem merecer os nossos aplausos?

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