sexta-feira, 25 de julho de 2014

descobertas

Minha mãe jamais cobria seus pés, ao deitar. Mesmo no inverno, com o resto do corpo repleto de agasalhos e edredom, tinha e mantinha o dom de preservar os passos livres e desembaraçados. Possivelmente, sua mente considerava um imenso e incogitável risco tapar os condutores, por temer que também os caminhos ficassem obstruídos.
Ela dizia sentir falta de ar nos dedos dos pés. Afinal, era preciso oxigená-los constantemente, para que pudessem permanecer escavando a terra bruta, retirando as pedras e, com elas, construindo túneis mirabolantes que a entregassem aos seus objetivos variados e invariavelmente irreverentes.
Therezinha não era mesmo chegada a reverências e quando o assunto não lhe convinha, quanta habilidade ou, na falta dela, coragem para encontrar a saída!
Maria que foi e não foi com as outras, não mandava recados nem colecionava recatos. Ia direto ao ponto, ainda que a exclamação fosse um ponto final. Afinal, a principal mania daquela Maria era transformar toda e qualquer rotina em algo suficientemente original.
Mãos que desenhavam e pés que pintavam o sete, estivessem ou não num setting (e de regra não estavam).
Uma mulher inventiva, que desprezava setas, seguindo sempre a direção de seus próprios ventos.

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