quarta-feira, 5 de setembro de 2012

a casa de incômodos

Fazendo o meu caminho, dei de cara com o que me pareceu um asilo.
Uma casa descuidada, um jardim sem flores, demasiadas paredes e sem cores.
Quase perdi o rumo, minha cara foi no chão.
Sobre cadeiras, algumas de rodas, idosos pendiam seus restos de vida, quase sem rostos, de tanta e silenciosa solidão.
Perguntei-me por onde andariam seus gostos, já que os desgostos...bem, esses talvez nem conseguissem ou quisessem contar.
Todos, rigorosamente todos, pareciam adormecidos, entorpecidos, parecidos entre si, embora possivelmente não se deem conta disso.
Aliás, o que dão a eles?
O que dói neles?
Receberiam visitas?
Teriam parentes?
Suas silhuetas, quase transparentes, lembravam estatuetas trocadas por adornos mais recentes, esquecidas num canto de qualquer lugar.
Suas vestes eram tristes como eles, como se estivessem nus de si mesmos, despidos de qualquer vaidade, da mais elementar e esquálida vontade.
Haveria algum desejo sobrevivente?
Uma réstia de fantasia?
Quanta vida haveria naquelas vidas?
Já teriam morrido quantas vezes?
Passei e pensei em voltar...
Eu poderia contar histórias para eles, piadas ou simplesmente...abraçar.
Lembrá-los de que estão vivos...
Seria um alívio?
É o cúmulo...
Os anos se acumulam e às vezes ocupam tão pouco espaço.
Uma casa de cômodos, como minha avó dizia.
Uma casa de incômodos, digo eu.
Quem consegue se acomodar?



2 comentários:

  1. Me deu uma incontrolável vontade de chorar...tanta delicadeza em uma tão triste descrição !

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